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A Era da Disrupção

por Miguel Furian Campos

O termo disrupção foi cunhado pela primeira vez em 1997 pelo professor de Harvard Clayton M Christensen a fim de descrever inovações que ofereceriam produtos acessíveis e, assim, criariam novos mercados consumidores.  Apesar de já terem se passado 20 anos de sua primeira menção, a palavra disrupção nunca foi tão popular, dominando conversas do meio acadêmico ao mundo corporativo, além de ser tema do 4 Fórum Liberdade e Democracia, que ocorrerá na segunda-feira (13/11), em São Paulo.

São inegáveis as mudanças proporcionadas por essa nova “era da disrupção”. Diariamente, somos bombardeados com novas maneiras de executar tarefas, trabalhar e se relacionar, tudo isso em uma velocidade que muitas vezes não conseguimos absorver.  As redes sociais revolucionaram a maneira como as pessoas buscam informações, se manifestam e se organizam. Novas plataformas de entretenimento alteraram completamente o modo como consumimos filmes, músicas e seriados. Sem falar nos mercados tradicionais, como o bancário e o de mobilidade urbana que estão em ebulição: novos modelos de negócio vieram para ficar,  aumentando a concorrência  e entregando produtos e serviços de melhor qualidade e com custo mais baixo para os consumidores. Se você não concorda com essas afirmações, observe uma criança de 5 anos e note a diferença com que ela percebe o mundo. A nova geração já nasceu online e o futuro parece ser extraordinário.

Essa onda de inovação tecnológica certamente trouxe também outro ganho bastante representativo para a sociedade: o florescimento dos valores da liberdade. Após um século de incontáveis movimentos de cerceamento da liberdade, essa “nova era” parece retomar alguns valores importantes do final do século XVIII, como a limitação do poder governamental e a valorização das liberdades individuais em seu sentido amplo. Hoje, a cada transação, a cada novo modelo de negócio, a cada nova tecnologia percebemos o quanto o governo pode atrapalhar, gerar ineficiência ou, simplesmente, ser desnecessário. Muitas pessoas não entendem, mas não há nada mais liberal do que o efeito que a tecnologia traz para os mercados: mais inovação, mais concorrência e menos intervenção do governo.

Apesar de tudo, a tecnologia ainda enfrenta muita resistência e descontentamento por parte da sociedade. Fica a pergunta: dados os inúmeros benefícios já citados, o que motivaria tal resistência? A resposta  parece estar no termo “destruição criativa” cunhado pelo economista Joseph Schumpeter. A tecnologia certamente é criativa, abre novos mercados, reduz custos. Entretanto, ela também causa destruição: empresas e indústrias inteiras deixam de existir, assim como os empregos por elas gerados. E nesse contexto as reclamações das entidades de classe e setores afetados se acumulam e encontram no Estado o seu guardião “benevolente” e “moralizador”.  Contudo, o que parte da população não percebe é que as novas oportunidades de negócio criadas geram novos empregos além de trazer ganhos importantes de produtividade que são benéficos para a população como um todo.

Certamente as discussões sobre as mudanças causadas pela “era da disrupção” na economia e nas relações interpessoais ainda são iniciais e o debate ainda deve permanecer acalorado nos próximos anos. Entretanto, é importante que a disrupção também se espalhe por outras instituições da sociedade brasileira, como por exemplo, a falida classe política. Afinal, um pouco de inovação e principalmente, renovação, é urgente nessa esfera do poder público. Atrasos não são mais tolerados pelos brasileiros e a mudança só está começando. Bem vindos à Era da Disrupção!

Miguel Furian Campos é presidente do Instituto de Formação de Líderes de São Paulo