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Da existência de um crítico inacreditável: o jovem Merquior na “Roda gigante”

por Cláudio Ribeiro

É sabido que a impressionante trajetória de José Guilherme Merquior (1941 – 1991) como intelectual público teve início no Suplemento Dominical do “Jornal do Brasil” (SDJB), em 1959, no exercício da crítica de artes plásticas, de textos filosóficos e, sobretudo, de poesia. Não é de todo ignorado, também, que as primeiras colaborações de Merquior foram esporádicas, sem compromisso formal com o jornal. O convite para se tornar um dos colaboradores regulares do SDJB só lhe foi feito em abril de 1960. É pouco sabido, contudo, que tal convite não se destinava à mera efetivação de mais um crítico entre os quadros do suplemento. Merquior foi chamado à redação do “Jornal do Brasil” para uma “difícil tarefa”. Acontece que tal responsabilidade recaía sobre um jovem de 19 anos recém-completados. Deste detalhe, nem mesmo quem o chamou, o poeta Reynaldo Jardim, então editor do SDJB, sabia.

Esta é a história que pretendo recompor nos próximos parágrafos. Como veremos, tinha uma “Roda gigante” no meio do caminho.

“Difícil tarefa”, “difícil parada”

José Mario Pereira, editor e amigo de José Guilherme Merquior, em evento ocorrido na Academia Brasileira de Letras, em 2001¹, havia chamado atenção para o fato de que na edição do dia 30 de abril de 1960, do SDJB, podia ser lido (na página 2, para ser exato) um “Bilhete do Editor”. Tal “Bilhete”, assinado por Reynaldo Jardim, apresentava Merquior aos leitores como o novo crítico de poesia do jornal. Trata-se, portanto, de um documento que merece leitura atenta.

O texto de Jardim começava da seguinte forma:

“O crítico que hoje apresentamos (página 7) aos leitores do SDJB é mais uma prova da nossa permanente disposição em manter abertas as portas de ingresso aos valores realmente competentes que, por um motivo ou outro, ainda não tenham sido revelados ao público”. (grifo meu)

Na referida página 7, constava o primeiro artigo da coluna criada por Merquior, “Poesia para amanhã”, cujos parágrafos iniciais contrapunham alguns versos de Oswald de Andrade a outros, de Carlos Pena Filho. Os poemas eram, respectivamente, “Noturno” e “Fazenda Nova”. Do primeiro, Merquior dizia: “Antirretórica, economia verbal, quase um Haicai: alta poesia; palavra viva (…)”. Do segundo: “Retórica, desperdício, metriquinha do tempo da onça, rima a rima pela rima; palavra ôca. Monotonia, desinteresse. Poesia cômoda. Burocracia da forma”.

Imaginemos o leitor de abril de 1960 que, guiado pela leitura do “Bilhete”, fosse direto à página 7. Indiferente ele não ficaria, não é mesmo?

Mas este leitor, caso assíduo e atencioso, já poderia estar familiarizado com a verve polêmica merquioriana, que vinha sendo impressa em artigos anteriores; também não lhe escaparia a acuidade analítica e as reflexões estéticas sofisticadas do crítico. Daí Jardim falar em “valores realmente competentes”, e continuar insistindo, no segundo parágrafo de seu “Bilhete”, nas qualidades do novo quadro:

“A primeira colaboração de José Guilherme Merquior nos chegou como centenas de outras através de nossa seção de correspondência. Bastou ler o primeiro artigo para constatarmos que estávamos frente a um legítimo escritor amplamente capacitado a colaborar conosco. Publicamos o artigo e tempos depois chegou outro comprovando a categoria intelectual de seu autor. Mais um ou dois artigos de JGM vieram às nossas mãos sem que o conhecêssemos pessoalmente”. (grifos meus)

Havia chegado a hora, no entanto, de entrar em contato pessoal com o “legítimo escritor amplamente capacitado”. Na ocasião, a pouca idade do crítico não deixou de causar espanto no editor. Em entrevista concedida ao blog do Instituto Moreira Salles (IMS), em 2011, pouco antes de sua morte, Reynaldo Jardim lembrou-se do episódio: “Um dia cheguei lá na redação, e estava lá um garoto sentado. Pensei, esse é o filho do Merquior. Eu tinha a ideia de que o Merquior fosse um senhor, ele escrevia sobre filosofia. E na verdade era o próprio Merquior”². Provavelmente, Jardim tinha ainda fresco na memória o último artigo assinado por Merquior antes do convite para estrear “Poesia para amanhã”. O artigo era sobre filosofia e se intitulava: “Heidegger e a natureza da obra de arte”, saído no SDJB em 23 de abril de 1960. Talvez o encontro entre os dois tenha se dado poucos dias depois da publicação desse texto.

“Um dia cheguei lá na redação, e estava lá um garoto sentado. Pensei, esse é o filho do Merquior. Eu tinha a ideia de que o Merquior fosse um senhor, ele escrevia sobre filosofia. E na verdade era o próprio Merquior”

Vamos, agora, ao terceiro e último parágrafo do “Bilhete”, o mais revelador:

“Como depois que paramos de fazer crítica regular de poesia houve uma enxurrada de livros no mercado, sentimos a necessidade de escolher nos quadros (ou fora dos quadros) dos intelectuais brasileiros alguém capaz de exercer a função de crítico de poesia nas páginas do SDJB. Só aí nos lembramos de entrar em contato pessoal com JGM, que aceitou a difícil tarefa que lhe era proposta. Aqui estará ele, sem o compromisso do aparecimento semanal, mas mantendo um certo ritmo em sua colaboração que pretendemos venha contribuir para a melhoria do nível da produção poética em nosso meio”. (grifo meu)

A situação constatada: o mercado editorial brasileiro estava sendo inundado com “uma enxurrada de livros” de poesia, no momento em que o SDJB não mais fazia crítica regular deste gênero. Seguindo o curso da metáfora de Jardim: urgia filtrar a enchente; tornar o turvo, límpido. Urgia a presença de alguém capaz de ler (rápido) e apresentar juízos agudos, regularmente. E isto para cumprir a difícil (e ambiciosa) tarefa: a de promover a “melhoria do nível da produção poética em nosso meio”. Daí a lembrança de “entrar em contato pessoal com Merquior”.

A importância deste “Bilhete” já vai ficando bastante clara, mas, a fim de torná-la ainda mais nítida, vamos contrastá-lo com outro texto, discorrido dois anos depois — pela pena de ninguém menos que o poeta Manuel Bandeira.  

No parágrafo de abertura da “Advertência” à antologia Poesia do Brasil, publicada em 1963, mas levada a termo no ano anterior, Manuel Bandeira escreveu o seguinte:

“Quando a Editora do Autor me convidou a organizar uma antologia da poesia brasileira, aceitei o convite sob condição de me ser permitido tomar um colaborador que se ocupasse da parte da obra a partir do movimento modernista. Minha ideia era chamar para a tarefa algum rapaz menor de trint’anos: ele representaria para os da geração de 22 uma espécie de posteridade. Recaiu a minha escolha na pessoa de José Guilherme Merquior, a quem eu não conhecia ainda pessoalmente, senão por alguns artigos de crítica de poesia publicados no suplemento literário do Jornal do Brasil. Merquior topou a difícil parada e tenho comigo que se saiu bem”.³ (grifos meus)

É como se Bandeira reescrevesse o “Bilhete” de Jardim. Bandeira, como Jardim, não conhecia Merquior pessoalmente quando decidiu escolhê-lo para encarar a “difícil parada” (se bem que, ao contrário do editor do SDJB, soubesse que o crítico era “menor de trint’anos”). De igual modo, o autor de Libertinagem poderia repetir ipsis litteris a frase do “Bilhete” que dizia ser o jovem crítico “um legítimo escritor amplamente capacitado”, a fim de afirmar que, por isso mesmo, “se saiu bem” na parte que lhe coube em Poesia do Brasil (a mais espinhosa — posto que muitos dos poetas estivessem vivos e ativos). Num caso como noutro, Merquior aceitou a tarefa e topou a parada, pois estava “aquecendo os músculos” [4].

Mas como adiantado, tinha uma “Roda gigante” no meio do caminho.

Vamos a ela.

“Descobrindo o que está oculto”

Na mesma página 2, da mesma edição do SDJB de 30 de abril de 1960, precisamente ao lado do “Bilhete do Editor”, foi publicada uma nota com o título de “Roda gigante”. A nota dizia respeito a uma seção inaugurada no Suplemento Literário do “Jornal do Comércio”, na semana anterior. Cito a nota na íntegra:

“Alguém que assina Solidônio inicia, no SL do Jornal do Comércio (16/4/60), uma seção inspirada nesta, mas com espírito diferente: ‘Nesta visão sucinta, o mais possível subjetiva, caberão a ironia, um pouco de maledicência, o elogio, e todos os demais temperos da vida literária’. É claro que cada um faz o que quer, mas não nos deixa de ser estranho que alguém se proponha ter uma visão ‘o mais subjetiva possível’ e anunciar a ironia como condimento de seus comentários. Sinceramente, não percebemos de que modo intensificar a subjetividade, a não ser pela mutilação sistemática dos dados objetivos. Quanto à ironia, desde que anunciada de antemão, indica uma posição apriorística que, de certo modo, se anula a si mesma. A profissionalização da ironia é condição pouco propícia para o seu exercício”.

“Tabela” — que não tinha assinatura do redator — era o nome da seção em que essa nota foi publicada. Sua função no SDJB era a de observar o que estava sendo produzido nos outros suplementos para, claro, defender o arrojo do próprio projeto, tanto gráfico quanto crítico, levado a cabo no interior do “Jornal do Brasil”. “Roda gigante”, por sua vez, foi o título dado por Solidônio à seção no SL do “Jornal do Comércio”, a qual tinha um subtítulo explicativo “Através dos Suplementos”. Como dito do texto da nota, Solidônio inspirava-se em “Tabela”. No entanto, o trecho do texto de estreia de Solidônio, citado pelo redator de “Tabela”, é apenas a parte do meio do parágrafo de abertura da “Roda gigante”, que começava deste modo:

“Inicio hoje, para voltar todos os domingos, esta pequena seção, que como uma roda gigante dará a volta nos suplementos literários, uma ‘voltinha’ só, rápida e despretensiosa, com o fito exclusivo de informar os nossos leitores sobre o que dizem os nossos confrades”.

Após isto, vem o já conhecido trecho do meio, e, por fim, o remate: “Como uma roda gigante, esta seção verá as coisas de vários ângulos, de cima para baixo, de baixo para cima, descobrindo o que está oculto, cometendo as indiscrições perdoáveis e necessárias, sem ofensas e diatribes”. Vê-se que a ambição de Solidônio ia além de meramente informar os leitores sobre o que diziam os confrades, limitando-se a dar “uma ‘voltinha’ só, rápida e despretensiosa”, através dos suplementos. A Solidônio interessava o que estava “oculto”.

Sendo tão perspicaz assim, o que será que ele desvelaria no SDJB? Um observador como este não deixaria de reparar naquele “Bilhete do Editor”, não é mesmo? Sobretudo se considerado o local da impressão: ao lado da nota sobre a estreia de sua “Roda gigante”, na seção rival, “Tabela”. Com tamanha argúcia, Solidônio certamente se deixaria guiar da página 2 até a pagina 7 do SDJB, onde estava o texto de abertura de “Poesia para amanhã”.

Pois bem, na “Roda Gigante” de 8 de maio de 1960, Solidônio escreveu um comentário protocolar, mas com um “prudente” elogio ao final, sobre a entrada de Merquior nos quadros de crítica do SDJB: “(…) por fim, uma plataforma do novo crítico de poesia do Suplemento, Sr. José Guilherme Merquior, que me pareceu boa”. No domingo seguinte, 15 de maio de 1960, Solidônio voltou a mencionar o nome de Merquior, já com uma “denúncia”: “(…) o novo crítico de poesia José Guilherme Merquior fala sobre ‘O Pão e o Vinho’, de Moacyr Félix, em que o acusa principalmente de falta de sonoridade e de ritmo no verso”. No dia 29 de maio, escreveu, já se valendo de “um pouco de maledicência”: “(…) e o Sr. José Guilherme Merquior, que está procurando de lanterna acesa, a ‘poesia para amanhã’, diz que a descobriu no Sr. Edgard Braga. Será?”. No dia 12 de junho, voltando ao protocolo, Solidônio observou, secamente: “Em ‘Poesia para amanhã’, José Guilherme Merquior escreve sobre o ‘Montanha Russa’, de Cassiano Ricardo”. Mas o parágrafo de abertura da seção desse dia denunciava outra coisa:

“Ainda não me refiz de uma gripe horrível e vou fazer o possível para percorrer os suplementos, é verdade que entre espirros. Mas antes quero dar a minha solidariedade ao escritor A. Casemiro da Silva, que ameaça deixar de escrever por causa de uma referência que aqui fiz à sua pessoa. Dou-lhe a minha solidariedade, contra mim mesmo. Realmente foi uma falta imperdoável a minha, a de não conhecê-lo pessoalmente. Em compensação, ele também não me conhece. Sou um ilustre desconhecido, e como tal ele não devia levar-me tão a sério a ponto de resolver deixar de escrever, após ‘23 anos de colaboração ininterrupta nos principais jornais do Rio e de São Paulo’. Vamos como calma, Casemiro. Eu não o conhecia pessoalmente, mas tenho lido seus artigos neste Suplemento”. (grifos meus)

Vamos com calma, Solidônio. Não exiba tão flagrantemente sua cordialidade. Por que o bom leitor do “Jornal do Comércio” estaria interessado em seu esforço heroico em driblar a gripe para seguir com sua jornada através dos suplementos? E a satisfação quase incontida em ter sabido da quase desistência de Casemiro, da vida intelectual, por causa de seus comentários? Mas o mais curioso neste parágrafo: a mudança do verbo “conhecer” para o pretérito imperfeito do indicativo, na última frase. Não “o conhecia (a Casemiro) pessoalmente” antes de escrever a seção de 12 de junho? Quer dizer que o conheceu, entre uma edição e outra, na redação do “Jornal do Comércio”? Com que propósito? (Meras perguntas…) Em todo caso, Solidônio não era nem Jardim e nem Bandeira; Casemiro tampouco era Merquior.  

No dia 19 de junho, a “Roda gigante” passou mais uma vez pelo SDJB e, de novo, Solidônio (será que já livre dos espirros?) teceu um comentário sobre Merquior. O teor do comentário suscitou a resposta do suplemento. Desta vez, um texto tão antológico quanto o “Bilhete do Editor”.

“Será pseudônimo?”

O conteúdo do comentário de Solidônio do dia 19 de junho foi reproduzido na mesma coluna “Tabela”, que, como vimos, havia notado a excentricidade da proposta “o mais possível subjetiva” da “Roda gigante”. Na edição do dia 2 de julho de 1960, em nota intitulada “Suspeita”, o redator de “Tabela” começava assim:

“No SL do Jornal do Comércio (19/6/60), alguém que se esconde sob o pseudônimo de Solidônio escreve o seguinte: ‘No JORNAL DO BRASIL, o Sr. José Guilherme Merquior fala, inconvenientemente mal, dos livros de poesia de Geir Campos e Tiago de Melo. Um é passadista, outro é discursivo. Não conhecemos o Sr. Merquior. Será pseudônimo? ’”.

A Solidônio (um comentador cordial, oculto sob um pseudônimo), o juízo crítico, a crítica de fato, parecia algo atentatório, ou mesmo um desperdício. Não se podia falar mal inconvenientemente, mas apenas convenientemente — quando, por exemplo, se quisesse algo do mal falado. Ou quando este fosse um inimigo. Isto, o redator de “Tabela” tornou explícito. Eis o segundo parágrafo de “Suspeita”:

“A nota, como se vê, é maliciosa. Levanta a suspeita de que não exista ninguém com o nome de José Guilherme Merquior e deixa, assim, pairar a dúvida sobre os colaboradores mais frequentes deste Suplemento Literário. Mas qual a razão da suspeita? Apenas o fato de que o Sr. Solidônio (que não conhecemos) não conhece JGM… Essa a razão manifesta; a oculta é que JGM tem dito, nos seus artigos, coisas duras sobre nomes consagrados, e isso sai inteiramente do hábito da crítica brasileira: nossos críticos criticam duramente os inimigos e elogiam os amigos”.

O hábito denunciado pelo redator já era, à época, bastante antigo. Mas subsiste ainda, tanto nas esferas intelectuais quanto fora delas, em nosso meio. Hábito este que foi objeto de exame empreendido por João Cezar de Castro Rocha, em obras como Literatura e Cordialidade (1998) e O Exílio do Homem Cordial (2004). A postura de Merquior, no entanto, pôs a nu os “Solidônios”, obrigando-os a se verem no espelho.

(Antes de finalizarmos: é quase inevitável associar o “nome” do criador da “Roda gigante” com Semprônio, o pseudônimo usado pelo escritor Franklin Távora, em suas cordiais polêmicas literárias, no auge do Segundo Império. Solidônio y sus precursores.)

Vamos ao último parágrafo da nota “Suspeita”, o mais saboroso.

O remate do redator:

“Se o Sr. Solidônio está de fato interessado em apurar a existência ou não desse crítico inacreditável, podemos oferecer-lhe as seguintes indicações: José Guilherme Merquior nasceu em 22/4/1941, estuda Filosofia no Instituto La Fayette, é vacinado e está registrado no Instituto Félix Pacheco, que lhe forneceu a Carteira de Identidade número 1 527 922”. (grifo meu)

A resposta de Solidônio à nota “Suspeita” só viria duas semanas depois (o SDJB, vale dizer, saía aos sábados; o SL do “Jornal do Comércio”, aos domingos). Na “Roda gigante” do dia 3 de julho, Solidônio continuou, com ar sardônico, a explorar sua suspeita: “No último SD do ‘Jornal do Brasil’, José Guilherme Merquior — que vem substituindo discretamente a Mário Faustino no cargo de crítico de poesia —, analisa o poema ‘Nudez’, de Carlos Drummond de Andrade”. Pondo em xeque a titularidade de Merquior no suplemento, a suspeita de Solidônio era a de que alguém, sob este “pseudônimo”, substituía o poeta e crítico veterano do SDJB, Mário Faustino. Mas nosso comentador cordial logo teve notícia da nota do dia 2 de julho, e assim se manifestou, na “Roda gigante” do dia 10 do mesmo mês:

“(…) Ah, sim: agradecemos ao redator de ‘Tabela’ os oportunos esclarecimentos sobre a personalidade do senhor José Guilherme Merquior, que ao que tudo indica existe mesmo. A propósito: qual é mesmo o tamanho do colarinho?” (grifo meu)

O “tamanho do colarinho”? Seria a pergunta uma provocação em torno da pouca idade do crítico, cuja data de nascimento foi informada em “Tabela”? Talvez. O fato é que o repertório de “ironias profissionalizadas” logo estaria esgotado. Ainda naquele ano, a “Roda gigante” pararia de rodar no SL do “Jornal do Comércio”.

Quem terá sido Solidônio? Na verdade, importa pouco. O que importa realmente é que o “crítico inacreditável” existia.

Existia “mesmo”.

Notas

1. Evento ocorrido no dia 4 de outubro daquele ano. Na ocasião, a ABL realizava uma mesa-redonda em memória de José Guilherme Merquior. O texto da comunicação de José Mário encontra-se reproduzido como um dos posfácios à 3ª edição do primeiro livro de Merquior, Razão do Poema, publicado originalmente em 1965. Referência completa: PEREIRA, José Mario. “Dez anos sem José Guilherme Merquior.” In: MERQUIOR, José Guilherme. Razão do Poema – Ensaios de Crítica e Estética. São Paulo: É Realizações Editora, 2013, pp. 306-327. Col. Biblioteca José Guilherme Merquior.

2. Eis o link de acesso à entrevista que Reynaldo Jardim deu ao blog do IMS: https://blogdoims.com.br/dia-de-domingo-entrevista-inedita-com-reynaldo-jardim/

3. BANDEIRA, Manuel. “Advertência”. In: Poesia do Brasil. Rio de Janeiro, Editora do Autor, 1963, p. 5.

4. A expressão é de João Cezar de Castro Rocha, que analisou o texto integral da “Advertência” de Bandeira, no ensaio “Aquecendo os músculos: a história literária de um jovem crítico”, publicado In: MERQUIOR, José Guilherme. De Anchieta a Euclides – Breve História da Literatura Brasileira. São Paulo: É Realizações Editora, 2014, pp. 322-331. Col. Biblioteca José Guilherme Merquior.

Cláudio Ribeiro

Cláudio Ribeiro é mestre em História pela Universidade Federal de Goiás e sócio da Editora Caminhos.