Literatura

Eis que chega o satírico Horácio, o conviva satisfeito com pouco

Banquete romano: a comida é elemento fundamental da sátira.

por Alexandre Pinheiro Hasegawa

É conhecido o trecho do Inferno da Divina Comédia de Dante (1265-1321 d.C.), em que o poeta florentino, guiado pelo maestro Virgílio, conhece no limbo la bella scuola, grupo de importantes poetas da Antiguidade, composto por Homero, Horácio, Ovídio e Lucano, “grandes sombras” que, “nem alegres nem tristes”, assim são elencados (4.88-90):

quelli è Omero poeta sovrano;
l’altro è Orazio satiro che vene;
Ovidio è il terzo, e l’ultimo Lucano.

O grupo é completado, obviamente, por Virgílio, saudado como l’altissimo poeta (4.80), principal modelo na Commedia (1.85: tu sei lo mio maestro e lo mio autore), e pelo próprio Dante, que, acolhido pelos outros, é o sexto neste seleto grupo (4.102: sì ch’io fui sesto tra cotanto senno). Causa menos espanto na crítica a própria inserção do poeta florentino – merecida, aliás – do que a presença de Horácio, sobretudo por vir caracterizado como satiro (“satírico”). Vale a pena, por exemplo, conferir a discussão na Enciclopedia Dantesca (s.v. Orazio), na parte do verbete escrita por Roberto Mercuri, que comenta ainda a forma inusual, satiro. De fato, além de ser o único, entre os três poetas latinos, a receber uma caracterização, como o grego Homero, o poeta sovrano, somente Horácio não compôs poema épico, pois o primeiro fez a Ilíada e a Odisseia; Ovídio, as Metamorfoses, e Lucano (39-65 d.C.), a Farsália. Embora as Sátiras, aludidas, tenham sido escritas em hexâmetro datílico, mesmo metro dos poemas épicos mencionados, Horácio diz não ser verso aquilo que faz e até se exclui do número de poetas (Sátiras 1.4.39-42), escrevendo o que, segundo ele mesmo, é apropriado às conversações (sermones). Mas talvez seja justamente por, nas Sátiras, Horácio se excluir do número dos poetas, que Dante, ao ‘corrigi-lo’, não só o insere entre os poetas, mas entre os maiores, caracterizando-o como satírico. Dissemos “talvez”, pois é possível que Dante não conhecesse o texto das Sátiras, mas soubesse apenas que Horácio as escreveu; texto nunca imitado na obra de Dante, como ocorre com o da Arte Poética.

Porém, nossa intenção aqui não é propor uma solução para esse problema dantesco, mas introduzir, com a terza rima da Commedia, o satírico Horácio, “que aqui chega”, dando continuidade à publicação no Estado da Arte Estadão, em que, a cada texto, nos dedicaremos a uma das obras mencionadas anteriormente, a começar pelas Sátiras, que já não mais precisam ser localizadas no tempo e no espaço, como fizemos também em relação a alguns autores, retomados aqui. Obra de estreia do poeta latino, as Sátiras se apresentam como gênero genuinamente romano, quando Horácio, na encenação e justificativa para compor o livro, narra um sonho, estrategicamente localizado na conclusão do primeiro volume, que encerra dez poemas, não casualmente o mesmo número a compor as Bucólicas de Virgílio (Sátiras 1.10.31-35):

atque ego cum graecos facerem, natus mare citra,
uersiculos, uetuit me tali uoce Quirinus
post mediam noctem uisus, cum somnia uera:
“in siluam non ligna feras insanius ac si
magnas Graecorum malis inplere cateruas”.                   35
E quando eu, nascido na parte de cá do mar, versinhos fazia
gregos, com tais palavras me proibiu Quirino, aparecendo-me
depois da meia-noite, quando são verdadeiros os sonhos:
“não é mais insano carregar lenha ao bosque do que
preferir engordar as imensas fileiras dos gregos”.          35

Horácio, nascido na Itália (“na parte de cá do mar”), afastado da Grécia pelo mar que se interpõe, compunha versinhos em grego. Observemos, primeiramente, o afastamento do substantivo “versinhos” (uersiculos) do adjetivo que o qualifica, “gregos” (graecos), entre os quais se interpõe facerem, natus mare citra (“fazia, nascido na parte de cá do mar”), ou seja, a disposição das palavras mostra, com forte hipérbato, a inadequação da empreitada em grego por um autor itálico. Tal impropriedade é, então, proibida pelo deus propriamente romano, Quirino, o deificado Rômulo, fundador de Roma, que o visita em sonho depois da meia-noite, para lhe dizer, recorrendo a um provérbio, que a ação é inútil: produzir versos gregos para aumentar a multidão de poetas gregos é tão insano como levar lenha ao bosque. É preciso, portanto, ser autor de gênero rudimentar e não experimentado pelos gregos (Sátiras 1.10.66: quam rudis et Graecis intacti carminis auctor), a sátira, cultivada primeiramente por Lucílio.

A estratégia do sonho, porém, para formular o programa poético das Sátiras não é uma novidade: já Ênio, na abertura de sua épica, os Anais (frr. 1.2-10 Skutsch), obra de que nos restam pouco mais de 400 fragmentos, narra o sonho com Homero, que o visita para lhe expor a metempsicose pitagórica, lembrando que antes fora pavão (fr. 1.7 Skutsch: memini me fiere pauom), mas agora é o próprio Ênio. A passagem era célebre, recordada por Lucrécio, no Da natureza das coisas (1.120-126) e pelo próprio Horácio, em suas Epístolas (2.1.50-52), que caracteriza Ênio como alter Homerus. Por sua vez, o autor dos Anais, que narra a história de Roma já antes da Eneida de Virgílio, ao forjar o encontro onírico com o poeta grego, não só se filia à tradição épica de Homero, mas também parece incorporar a tradição helenística de Calímaco (ca. 310-235 a.C.), um dos autores mais importantes para os poetas romanos, que no início das Origens (A????) – mais uma obra que nos chegou fragmentária! – relata um sonho para, por sua vez, se filiar à tradição poética de Hesíodo (séc. VIII/VII a.C.), considerado fundador do epos didático. Ora, esse último, na Teogonia (vv. 22-35), narra como foi iniciado na poesia pelas Musas, quando pastoreava ao pé do monte Hélicon, origem e modelo da grande sucessão de iniciações poéticas forjadas na Antiguidade.

Mas não nos percamos nesta selva de palavras! Horácio, depois da aparição de Quirino, deus propriamente romano, que o proíbe de fazer versinhos gregos, considera o que poderia escrever melhor (Sátiras 1.10.47: melius quod scribere possem). Um pouco depois da fala de Quirino, Horácio apresenta sua bella scuola, não de poetas mortos, como a dantesca, mas de contemporâneos que excelem nos gêneros praticados (vv. 40-45): o comediógrafo Fundânio, que reaparecerá como cômico interlocutor em Sátiras 2.8, mas de quem nada sobreviveu; Asínio Polião (76 a.C.-5 d.C.), destacado como tragediógrafo, cujos escritos, em prosa e verso, não chegaram até nós, à exceção de dois versos; Vário Rufo (antes de 70 a.C.- depois de 19 a.C.), apresentado como épico, embora seja mais conhecido pela tragédia Tiestes, restando-nos, porém, apenas fragmentos, e o bucólico Virgílio, ainda não o autor de Geórgicas e Eneida. Assim, se a comédia, a tragédia, a epopeia e o epos bucólico são gêneros – todos com inventores gregos – já desenvolvidos naquele momento por grandes poetas e amigos do círculo de Mecenas, o que lhe resta? A sátira, gênero inventado por Lucílio e “em vão experimentado por Varrão Atacino” (ca. 82-35 a.C.) e alguns outros (Sátiras 1.10.46-47).

Após essa breve história do gênero e da justificativa para compor as Sátiras, volta Horácio ao tema de abertura da última composição do primeiro livro: a crítica ao inventor Lucílio, que, por sua vez, retoma esta censura feita no início de Sátiras 1.4.8-13:

[…] durus conponere uersus.
nam fuit hoc uitiosus: in hora saepe ducentos,
ut magnum, uersus dictabat stans pede in uno; 10
cum flueret lutulentus, erat quod tollere uelles;
garrulus atque piger scribendi ferre laborem,
scribendi recte: nam ut multum, nil moror. […]
       [Lucílio foi…] duro em compor versos.
De fato, foi vicioso nisto: muitas vezes, em uma hora, ditava 10
duzentos versos – como se fosse grande coisa –, apoiando-se em
um único pé; como fluía, lamacento, havia o que quererias tolher;
tagarela e preguiçoso para suportar a fadiga de escrever –
de escrever bem, pois não me importo que muito (se escreva). […]

Horácio, portanto, no interior do primeiro livro, na quarta sátira, ao mencionar pela primeira vez o inventor, todo dependente dos poetas da Comédia Antiga, Êupolis (ca. 446-411 a.C.), Cratino (ca. 519-422 a.C.) e Aristófanes (ca. 447-380 a.C.), que “censuravam com muita liberdade” (v.5: multa cum libertate notabant) os viciosos, censura Lucílio, por ser mau versificador, compondo excessivamente em pouquíssimo tempo, prolixo, sem cuidado na elaboração dos versos, que exigem demora e aquele “trabalho de lima”, nas palavras do próprio Horácio (Arte Poética, v. 291: limae labor e mora). A passagem, como em geral todos os comentadores apontam, na imagem do rio “lamacento” (lutulentus), remete à descrição do Hino a Apolo de Calímaco, em que o deus da poesia respondendo à Inveja, diz preferir a fonte de água pura, cristalina, ao grande rio da Assíria que carrega, em seu fluxo, a sujeira da terra (vv.107-112). Estão presentes aqui, na oposição entre a límpida fonte e o grande rio lamacento, os conceitos fundamentais da poética calimaquiana: a brevidade (oligostichía, ???????????) e, associada a ela, a delicadeza (Mousa leptalée, ????? ????????), que se opõem, na polêmica de Calímaco, ao espesso, corpulento e grosseiro (pachýs, ?????). Assim, Horácio, com seus dois livros de Sátiras, propunha uma ‘dieta’ ao espesso Lucílio, com seus trinta livros, que caracterizava o próprio fazer poético, ao que parece, como schedium (fr. 1279 M.), “versos improvisados”.

Além disso, Horácio, ao criticar Lucílio, servindo-se da imagem do rio, parece recuperar outra rivalidade poética, a dos comediógrafos citados, não à toa, no início da sátira: Cratino e Aristófanes, os dois últimos nomes da tríade do primeiro verso (Sátiras 1.4.1: Eupolis atque Cratinus Aristophanesque poetae). Do primeiro nós temos apenas fragmentos, mas de Aristófanes sobreviveram algumas peças, entre as quais destacamos uma vencedora em 424 a.C.: Os Cavaleiros, em que o autor cita Cratino, “como um rio correndo por planícies sem escolhos, derrubando do seu posto, para os arrastar consigo, carvalhos, plátanos e rivais cortados pela raiz” (tradução de Maria de Fátima de Sousa e Silva, vv. 526-528). Se a referência à polêmica dos comediógrafos é certa, pela imagem do rio, teríamos então uma analogia entre Aristófanes e Cratino, de um lado, e Horácio e Lucílio, de outro. Essa comparação torna-se mais interessante e provável, se lembrarmos que Cratino, tal como Lucílio, é associado à censura violenta, iâmbica, a que Horácio vai se contrapor em Sátiras 1.10.14-5, dizendo ser o ridículo alternativa melhor do que o acerbo para resolver grandes questões (… ridiculum acri / fortius et melius magnas plerumque secat res: “o ridículo, com mais força e melhor do que o acerbo, dilacera, o mais das vezes, grandes questões”). Ora, diz isso Horácio, depois de elogiar Lucílio especificamente por “esfregar com força a cidade em muito sal” (Sátiras 1.10.3-4: … at idem quod sale multo / urbem defricuit, charta laudatur eadem). Cratino, por sua vez, é associado à violenta poesia iâmbica, entre outras razões, por ter escrito uma comédia intitulada “Arquílocos”, nome, no plural, do inventor do iambo, que na peça entraria em disputa com Homero e Hesíodo e sairia vencedor.

Lucílio, portanto, descobridor do gênero, embora elogiado também por ser “espirituoso e de fino faro” (Sátiras 1.4.7-8: …facetus, emunctae naris), é duramente criticado, como convém à sátira, que se caracteriza propriamente por censurar os vícios, inclusive os dos poetas, sem poupar ninguém. Assim, ao final do livro, retoma as críticas ao inventor para se defender das censuras que alguém lhe fez por apontar vícios em Lucílio (Sátiras 1.10. 1-3;9-14):

Nempe inconposito dixi pede currere uersus
Lucili. quis tam Lucili fautor inepte est,
ut non hoc fateatur? […]
est breuitate opus, ut currat sententia neu se
inpediat uerbis lassas onerantibus auris,               10
et sermone opus est modo tristi, saepe iocoso,
defendente uicem modo rhetoris atque poetae,
interdum urbani, parcentis uiribus atque
extenuantis eas consulto. […]
Certo, eu disse que, com pé desregrado, correm os versos
de Lucílio. Quem é tão tolamente defensor de Lucílio
que não confesse isto? […]
É preciso brevidade para que o pensamento corra e não se
embarace com palavras que sobrecarregam cansados ouvidos, 10
e é preciso uma conversação ora severa, muitas vezes jocosa,
que sustente a parte ora do orador e do poeta,
por vezes do homem urbano, que poupa as forças e
as atenua de propósito. […]

Os vícios de Lucílio são pontos de partida para Horácio expor seu programa satírico. Primeiramente, ao retomar a crítica aos versos desregrados do inventor, reafirma o trabalho da lima, o cuidado em compor os hexâmetros datílicos; em seguida, defende, de novo, a brevidade calimaquiana, contra a loquacidade de Lucílio e de outros personagens mencionados desde a primeira sátira, como o loquaz Fábio (Sátiras 1.1.13-14: loquacem / … Fabium, cf. ainda 1.2.134), filósofo estoico, ou o tagarela e remelento Plócio Crispino (Sátiras 1.1.120; cf. ainda 1.3.139; 1.4.14), poeta e também filósofo estoico, que desafia Horácio para ver quem escreve mais! (Sátiras 1.4.13-16); por fim, propugna a necessidade de alternância entre a conversação (sermo) severa e jocosa, ressaltando, porém, como a última deve prevalecer, algo que Lucílio não soube fazer bem.

Sátiros: possível etimologia da palavra “sátira”.

Ao interlocutor da sátira, que parece questionar as críticas ao inventor, Horácio responde se ele, douto, também não censura algo no grande Homero. Aliás, continua o satírico, o próprio “Lucílio, gentil, nada emenda em Ácio (ca. 170-86 a.C.) e não ri dos versos de Ênio, inferiores à gravidade dele?” (Sátiras 1.10.52-54). Assim, às censuras, que lhe são feitas, Horácio responde com o próprio Lucílio criticado, pois também esse não poupou os defeitos de outros poetas latinos, provavelmente em seu terceiro livro. Sobre o bom Homero, por exemplo, que por vezes cochila (cf. Arte Poética, 359), Lucílio lembra, nos frr. 345-348 M., que quem faz críticas a Homero não as faz continuamente:

[…] nemo qui culpat Homerum,
perpetuo culpat neque quod dixi ante poesin:
uersum unum, culpat, uerbum, enthymema, locum (unum)
[…] ninguém que censura Homero,
continuamente censura, nem a poesia de que falei antes:
censura um único verso, uma palavra, um entimema, um único lugar.

Mas o satirista, que é pedra, também não é vidraça? Ora, este remelento autor – lembremo-nos da doença nos olhos em Sátiras 1.5.30-31 – enxerga os próprios vícios ou só os de Lucílio, Fábio, Crispino e muitos outros? O remelento, com os olhos cheios de unguentos, vê os próprios males ou discerne, com tanta agudeza, apenas os vícios dos amigos? (Sátiras 1.3.25-27: cum tua peruideas oculis mala lippus inunctis, / cur in amicorum uitiis tam cernis acutum / […]?) Horácio já antecipara a crítica, quando, em Sátiras 1.3, vitupera aquele famoso cantor sardo, Tigélio, que, solicitado a cantar, nunca o fazia; não solicitado, era interminável, cantando durante todo o banquete da entrada até a sobremesa. Daí vem a antecipação da crítica, com a costumeira ironia: “agora alguém poderia perguntar: ‘E tu? Por acaso não tens nenhum vício?’ Claro que os tenho, outros e talvez… menores!” (vv.19-20: … nunc aliquis dicat mihi ‘quid tu? nullane habes uitia?’ Immo alia, et fortasse minora). Ninguém nasce sem vícios, mas melhor é aquele que é importunado pelos menores, conclui mais à frente (vv.68-9: nam uitiis nemo sine nascitur: optimus ille est, / qui minimis urgetur).

Esses pequenos, mínimos vícios, que tem o satírico, confessados em Sátiras 1.3, são lembrados na sequência do livro. A insistência sobre eles, na sátira seguinte (1.4) e na mais autobiográfica de todas (1.6), chama a atenção: na primeira (1.4), aquela em que começa por censurar Lucílio, termina (vv.139-143) por lembrar seu próprio vício – modesto, porém –, que se pode perdoar: agrada-lhe, quando tem um momento de ócio, compor versos; na segunda (1.6), em que lembra ter nascido de pai liberto – condição que não o impediu de ser caro a Mecenas –, insiste (vv. 65 e ss.), mais uma vez, que seus vícios são poucos e modestos, e, se não os tem grandes, como a avareza, nem frequenta infames prostíbulos, é mérito do pai (v.71: causa fuit pater his), que lhe deu boa educação. Assim, nessa sequência do primeiro livro (1.3, 1.4 e 1.6), não só reitera que tem vícios (uitia), mas destaca, com alguns adjetivos, como são diminutos: poucos (pauca), modestos (mediocria), mínimos (minima) e menores (minora).

Em Sátiras 1.6, ao dizer que sua natureza (natura) é defeituosa por poucos e modestos vícios, Horácio introduz ainda uma comparação de não pouca importância para o entendimento do corpo (corpus) da sátira: quem repara nestes mínimos defeitos é como alguém que censurasse manchas espalhadas em formoso corpo (vv.66-67: … uelut si / egregio inspersos reprendas corpore naeuos). Podemos, assim, tomando o símile proposto pelo próprio Horácio, dizer que os vícios (e virtudes) da persona se refletem no corpus satírico, ou, para tomar outra comparação horaciana, que imita Lucílio (Sátiras 2.1.30-34), toda vida do poeta está patente em seu livro, ou melhor, livrinho (libellus). O diminuto, portanto, caracteriza o vício, a fala, o livro, a poética e o próprio poeta! Nesta mesma sátira ainda (1.6), ao narrar o primeiro encontro com Mecenas, introduzido, primeiramente, por Virgílio e depois por Vário, diz ter pronunciado, gaguejando, poucas palavras (v.56: …singultim pauca locutus), e foram poucas também as da resposta de Mecenas (v.60-61: … respondes, ut tuus est mos, / pauca). Na sátira de abertura, a poética calimaquiana do diminuto está em passos fundamentais do texto: logo na abertura, depois de exemplificar que os homens não estão contentes com a própria condição, diz (vv.13-15): “Os outros desse mesmo gênero são tão numerosos que seriam capazes de enfadar o próprio Fábio, o falastrão. Pra não te deter, escuta aonde eu quero chegar”. A fórmula ne te morer (“pra não te deter” ou “pra não me alongar”) reflete a poética da brevidade e do caráter não tagarela do satírico, contraposto ao falastrão Fábio. Mais à frente, ao narrar o caso de um avarento, introduz com lítotes a narrativa: “a história não é longa” (v.  95: non longa est fabula), ou seja, “serei breve”. Ao pôr fim à primeira sátira, diz (vv.120-121): “Isto já é suficiente (Iam satis est). Pra que não pense que roubei os manuscritos do remelento Crispino não acrescentarei nem mais uma palavra (uerbum non amplius addam)”. Não querendo cair em vício oposto ao do poeta, o do excesso, ao gosto de Lucílio, apenas mais um exemplo: no início de Sátiras 1.5, ao principiar sua viagem a Brundísio, saído da grande Roma, o modesto Horácio, de poucos vícios e palavras, é acolhido pela cidade de Arícia, em modesta hospedagem (vv. 1-2: Egressum magna me accepit Aricia Roma / hospitio modico…). O leitor especialista pode desfrutar da contraposição entre o longo andamento espondaico de egressum magna e o rápido andamento datílico de hospitio modico, bem como da colocação de magna (“grande”), segunda palavra do primeiro verso, em contraposição a modico (“em modesta”), segunda palavra do segundo verso, na mesma posição métrica.

Mas é o próprio Augusto, segundo nos conta Suetônio (Vida de Horácio, 47), ao enviar uma carta ao pequeno e obeso Horácio, que o satiriza comicamente, na identificação entre o poeta e o livro: “Trouxe-me Onísio o teu livrinho (libellum), que, como se desculpando por ser tão pequeno (quantuluscumque), eu aprovo. Parece-me, porém, que temes que teus livrinhos sejam maiores que tu. Mas falta-te estatura, não falta corpo”. Se o poeta critica os enormes livros de Lucílio, Augusto, por sua vez, repara na magreza dos livrinhos de Horácio, que se, por um lado, parecem adequados ao seu tamanho diminuto (cf. Sátiras 2.3.307-311), por outro, contradizem sua avantajada barriga! No entanto, o próprio Horácio já admitia gordura em qualquer parte, exceto no engenho, quando em Sátiras 2.6.14-15 faz súplicas a Mercúrio, seu “maior protetor”: “Ao senhor, (a mim), tornes gordo o gado e o restante, exceto meu engenho” (pingue pecus domino facias et cetera praeter / ingenium). Não escapa à crítica a alusão, de novo, a Calímaco, que nas Origens (fr.1.23-24) é advertido por Apolo: convém oferecer-lhe o incenso mais espesso (páchiston, ????????), mas deve ser a Musa delicada (Mousa leptalée, ????? ????????). Mas no aliterante “gordo gado” (pingue pecus) de Horácio é provável que haja mediação de Virgílio, que, nas Bucólicas, já retomara, com aliteração, o passo calimaquiano (ecl. 6.4-5): “convém, Títiro, / gorda ovelha pascer, fino canto compor” (Tityre, pinguis / pascere oportet ouis, deductum dicere carmen).

Portanto, a anatomia da sátira, ou melhor, do corpus de um satírico, é chave de leitura importante. Quanto já não se discutiu a representação de Sócrates como sileno e o sátiro Mársias, feita por Platão, no Simpósio ou Banquete, e colocada na boca de Alcibíades (215a-b)? Diz o ébrio personagem platônico, na tradução de José Cavalcante de Souza: “Louvar Sócrates, senhores, é assim que eu tentarei, através de imagens. Ele certamente pensará talvez que é para carregar no ridículo, mas será a imagem em vista da verdade, não do ridículo [dizer a verdade rindo?]. Afirmo eu então que é ele muito semelhante a esses silenos [215b] colocados nas oficinas dos estatuários, que os artistas representam com um pifre ou uma flauta, os quais abertos ao meio, vê-se que têm em seu interior estatuetas de deuses. Por outro lado, digo também que ele se assemelha ao sátiro Mársias. Que, na verdade, és semelhante a esses dois seres, ó Sócrates, nem mesmo tu sem dúvida poderias contestar […]”. Sem explorar aqui – já muito comentada, porém – a importância do corpo do filósofo para o corpo do texto que descreve o simpósio do tragediógrafo Agatão como um drama satírico, protagonizado pelo sátiro Sócrates, passemos a dois aspectos presentes no diálogo importantes para as Sátiras de Horácio e muito relacionados: o discurso filosófico e o banquete.

Ilustração de Gustave Doré: Dante aceito na “bella scuola”.

Em Sátiras 2.3. Horácio dialoga com Damasipo, adepto do estoicismo, retirados em sua casa de campo (uilla), em Sabina (região no centro da Itália), durante as Saturnais. O interlocutor diz que o poeta escreve pouco – quanta ironia nesta que é a maior sátira de todas! –, refazendo continuamente seus escritos. Ao cobrar versos que o poeta lhe prometera, nada sai. Então, Damasipo lembra dos companheiros de viagem – outra bella scuola! –, que Horácio trouxe, e pergunta qual o propósito daquela bagagem (11-12): “A que serviu amontoar Platão sob Menandro? Trazer Êupolis, Arquíloco, tão grandes companheiros?” (quorsum pertinuit stipare Platona Menandro? / Eupolin, Archilochum, comites educere tantos?). Esse novo grupo de escritores não é sem importância para a constituição das Sátiras: Êupolis, já mencionado em Sátiras 1.4.1, ao lado de Cratino e Aristófanes, autores da Comédia Antiga, gênero, como vimos, presente em Horácio e fonte – no exagero horaciano – de todo Lucílio; Arquíloco, inventor do iambo, e, portanto, modelo para os Epodos de Horácio, mas, por ser também gênero de vitupério, apresenta afinidades com a sátira; Menandro (ca. 342-291 a.C.), autor da Comédia Nova, é modelo dos comediógrafos latinos Plauto (ca. 251-184 a.C.) e Terêncio (ca. 195-159 a.C.): esse último, por sua vez, não só é mencionado explicitamente pelo satirista (Sátiras 1.2.20-1), mas também é modelo com seu Dêmea, personagem de Adelfos, para o retrato que Horácio faz do pai; Platão, certamente não o Cômico, mas o filósofo, cuja presença percebemos, sobretudo no segundo livro, quase inteiramente dialógico, diferenciando-se deste modo do primeiro.

Antes do banquete final, com que se despede o nosso conviva satisfeito, tratemos primeiramente da presença filosófica, sobretudo a platônica, nos versos satíricos. Afinal, é o próprio Horácio a dizer que “saber é o princípio e a fonte do escrever bem” e “os escritos socráticos poderão mostrar a matéria” (Arte Poética, vv. 309-310). Em Sátiras 2.2, ao propor ensinar os preceitos do camponês Ofelo – “que virtude e quão grande, meus caros, é viver com pouco” (v.1: quae uirtus e quanta, boni, sit uiuere paruo) –, Horácio, para informar de quem são os ensinamentos, constrói oração parentética em que imita a Melanipe, a Sábia de Eurípides, tragédia perdida, com mediação da imitação platônica no Simpósio. Assim começa a sátira (2.2.1-4): “Aprendei, meus caros, que virtude e quão grande é viver com pouco (este discurso não é meu, mas é o que me ensinou o camponês Ofelo, filósofo não adepto de uma escola e de grosseira Minerva [sabedoria])”. Ora, o médico Erixímaco, depois de recomendar que não fiquem ébrios no banquete, assim inicia seu discurso sobre o Amor no Simpósio (177a): “O exórdio do meu discurso é como a Melanipa de Eurípides; pois não é minha, mas aqui de Fedro a história que vou dizer (tradução de José Cavalcante de Souza).” No trecho supérstite de Eurípides, diz Melanipe (fr. 484 N.): “este discurso não é meu, mas de minha mãe, de como o céu e a terra eram uma única forma”. Em Sátiras 2.4, ao se encontrar com Cácio pelo caminho, trava conversa em que o interlocutor lhe vai expor preceitos culinários. Logo no início da sátira (vv.1-3), lemos palavras que ecoam o começo do Fedro de Platão: “De onde vens e para onde vais, Cácio?” A resposta do personagem, com pressa para registrar o que aprendeu, não deixa dúvida de que se trata de nova referência platônica: “Não tenho tempo, eu que desejo muito fixar os sinais aos novos preceitos, tais que vão superar Pitágoras, o acusado de Anito [Sócrates] e o douto Platão”. Nas primeiras palavras do Fedro, diálogo que trata também da memória e do registro pela escrita, Sócrates pergunta (227a): “Caro Fedro, para onde vais e de onde vens?” Por fim, parece parodiar ainda – pois se trata de paródia de um mestre da paródia! – o início do Timeu no começo de Sátiras 2.8. Ao encontrar Fundânio pelo caminho, Horácio lhe pergunta sobre o banquete na casa do rico Nasidieno, na noite anterior (vv. 4-5): “Conta-me, se não te é algo incômodo, que comida aplacou primeiramente o ventre irado”. No diálogo platônico, Sócrates recorda, logo no início, um banquete na noite anterior e pergunta aos que ali estavam se se lembram dos temas propostos para conversa. Timeu, então, responde que tem na memória alguns, mas propõe a Sócrates o seguinte (17b): “… se não te é algo incômodo, recapitula-os brevemente e desde o princípio” (?? ?? ?? ??? ???????, ?? ????? ??? ??????? ????? ???????? ????). Não é casual, como já foi apontado, embora pouco desenvolvido, que as paródias do texto platônico se façam em sátiras que tratam de comida: em Sátiras 2.2, a defesa da vida simples é exemplificada pela mesa modesta (mensa tenuis) e alimentação frugal (uictus tenuis); em Sátiras 2.4, temos os preceitos culinários de Cácio, que retoma a tradição da poesia gastronômica, como a de Arquéstrato de Gela (séc. IV a.C.), autor do epos didático Hedypatheia (“Vida de prazeres”), imitado em latim por Ênio; em Sátiras 2.8, o cômico Fundânio narra em detalhe os pratos servidos no banquete de Nasidieno.

Além dos diálogos socráticos, outro modelo importante das Sátiras como prosador é Bíon de Borístenes (ca. 325-255 a.C.), que em suas diatribes – gênero de difícil caracterização pelos parcos fragmentos de que dispomos – disseminava matéria ética. Essa espécie de filosofia retórica, associada ao estoicismo e cinismo, parece ter sido muito popular no período helenístico. Bíon, porém, ao que parece, sem se vincular a uma escola específica, como Horácio, fazia censuras agressivas, misturadas com o ridículo (ridentem dicere uerum; o sério-cômico da sátira). Encontrava-se nele, segundo o testemunho de Pseudo-Acrão (ad Epístolas 2.2.60), também a crítica aos poetas, não poupando nem mesmo Homero; Porfirião, por sua vez, outro importante escoliasta da obra de Horácio, diz, possivelmente, que (ad Epístolas 2.2.60) Bíon era semelhante (?) a Aristófanes (Bion Aristophanis comici pa[te]r dicitur fuisse). Por fim, no relato de Diógenes Laércio (séc. III d.C.) sobre a vida de Bíon, conta-se (4.46-58) que ele, quando esteve com o rei macedônio, Antígono Gônatas, que lhe perguntou quem era e de onde vinha, respondeu ser filho de liberto e de prostituta. Parece, portanto, que Horácio o imitava não só nos textos, mas também na ‘vida’. Por isso, em Epístolas 2.2.58-62, o poeta, ao justificar a variedade de sua obra, pois nem todos gostam das mesmas coisas, associa a produção satírica a Bíon:

Denique non omnes eadem mirantur amantque;
carmine tu gaudes, hic delectatur iambis,
ille Bioneis sermonibus et sale nigro. 60

Tres mihi conuiuae prope dissentire uidentur,
poscentes uario multum diuersa palato.

Ademais, nem todos admiram e amam as mesmas coisas;
tu te alegras com a lírica, este se deleita com os iambos;
aquele com as conversações (sermones) de Bíon e o sal negro. 60

Parece-me que os três convivas estão a ponto de discordar,
exigindo coisas muito diversas para o variado paladar.

Os gêneros, enfim, são identificados com pratos diversos para variados paladares. A metáfora culinária é usada em vários gêneros por muitos autores, mas tem um gosto particular na sátira. Não à toa destacamos as composições em que a comida e o banquete são os pratos principais neste festim de palavras. Ora, o termo satura (“sátira”) deriva, de acordo com o gramático Diomedes (séc. IV d.C.), ou de satyri (“sátiros”), seres mistos que se caracterizam pelo ridículo e obsceno, aspectos desse gênero, ou de lanx satura (“prato farto”), prato repleto de muitas e variadas primícias oferecido pelos antigos aos deuses, ou de certo tipo de salsicha (farcimen), repleta de muitos ingredientes, que se chamava satura (“sátira”), ou, por fim, de lex satura, lei compendiosa que incluía muitas cláusulas. Das quatro possibilidades, das quais não devemos excluir nenhuma, duas se relacionam com comida. Além disso, satura tem a raiz do adjetivo satur (“saciado”, “farto”) – provável origem do substantivo – e do advérbio satis (“suficientemente”, “assaz”). Por essa razão, a comida é ingrediente fundamental na constituição desse gênero, como vimos, bem como na comédia, no iambo e no epigrama. Horácio, ao nos convidar para este banquete, logo na primeira sátira (1.1), na conclusão do seu prato de entrada, apresenta a imagem do conviva saciado, satisfeito para concluir (vv. 117-120):

inde fit, ut raro, qui se uixisse beatum
dicat et exacto contentus tempore uita
cedat uti conuiua satur, reperire queamus.
iam satis est. […] 120

Por isso que raramente encontramos alguém que diga
ter vivido feliz e, com os dias contados, contente,
abandone a vida, como um convidado satisfeito.
Isto já satisfaz. […] 120

Nesta porção final no prato de entrada (Sátiras 1.1.117-120), recheada com sabor bucólico de Virgílio (cf. Bucólicas, 10.70-77) e temperada com amargo licor de Lucrécio (cf. Da natureza da coisas, 3. 938-43), Horácio se apresenta como conviva satisfeito com pouco, tal como o rato do campo da fábula narrada em Sátiras 2.6.79 e ss.; um pouco, porém, muito refinado e extremamente elaborado. Não casualmente, lembremo-nos, o segundo livro termina com o banquete do rico e vaidoso Nasidieno. O banquete satírico oferece pratos oriundos da Comédia Antiga, do iambo, do diálogo socrático, da diatribe, da Comédia Nova, da epopeia, ora de sabor mais amargo (sério em sua censura), ora mais doce (cômico em sua paródia), mas numa mistura única, em sua “Musa pedestre” (Sátiras 2.6.17), afortunado oximoro horaciano em que o alto e o baixo se encontram. Horácio ora é satírico, censura poetas e filósofos, avarentos e pródigos, ora é satirizado, como em Sátiras 2.7 – quase na conclusão do livro –, por seu escravo Davo, que mostra ser Horácio legalmente senhor, mas moralmente escravo: é “o sábio que é senhor de si” (v.83)! Alerta-nos o escravo ainda (vv.107-109): “de certo, os banquetes perseguidos sem fim tornam-se amargos e os pés titubeantes se recusam a suportar o corpo vicioso (nempe inamarescunt epulae sine fine petitae/ inlusique pedes uitiosum ferre recusant/ corpus)”. Não façamos, portanto, um interminável e amargo banquete. Já é suficiente. Agora só nos cabe saborear as Sátiras.

Para saber mais

Para os insatisfeitos ou que desejam apreciar melhor, comentamos a seguir uma bibliografia básica: sobre a sátira romana, incluindo estudos sobre Ênio, Lucílio, Horácio, Pérsio e Juvenal, William S. Anderson. Essays on Roman Satire, Princeton (1982); Michael Coffey. Roman Satire, London (2ª. ed. 1989); uma das principais referências, o norte-americano da Yale University, Kirk Freudenburg. Satires of Rome: Threatening Poses from Lucilius to Juvenal, Cambridge (2001), que também editou The Cambridge Companion to Roman Satire, Cambridge (2005) e, juntamente com os italianos Andrea Cucchiarelli, um dos principais nomes nos estudos horacianos, e Alessandro Barchiesi, organizou Musa pedrestre. Storia e interpretazione della satira in Roma antica, Roma (2005), volume que traz alguns textos, traduzidos para o italiano, do referido Companion. Estudos sobre as Sátiras de Horácio, elencamos: Niall Rudd. The Satires of Horace: A Study, Cambridge (1966); um clássico, sempre referido em qualquer estudo das Sátiras, outra obra de K. Freudenburg. The Walking Muse: Horace on the Theory of Satire, Princeton (1993); novamente A. Cucchiarelli. La Satira e il poeta: Orazio tra Epodi e Sermones, Pisa (2001), em que, entre tantas outras novidades, traz o confronto entre Aristófanes e Cratino para ler a crítica de Horácio a Lucílio; uma das mais recentes leituras, a obra da francesa Bénédicte Delignon. Les Satires d’Horace et la comédie gréco-latine: une poétique de l’ambiguïté, Louvain (2006); alguns dos principais comentários de referência: em alemão, A. Kiessling, R. Heinze. Q. Horatius Flaccus, Zweiter Teil: Satiren, Berlin (6ª. ed. 1957); em italiano, o monumental Paolo Fedeli. Q. Orazio Flacco: Le Opere II, Le Satire, Roma (1994); em inglês, Frances Muecke, Horace Satires II, Warminster (1993); Emily Gowers. Horace: Satires Book I, Cambridge (2012); o mais recente, com introdução, tradução e comentário de Lorenzo De Vecchi. Orazio. Satire, Roma (2013); sobre a comida nas Sátiras: o premiado livro de E. Gowers. The Loaded Table: Representations of Food in Roman Literature, Oxford (1993); embora não diretamente sobre comida, vale mencionar Hans Joachim Mette. “Genus tenue” und “mensa tenuis” bei Horaz, in “Museum Helveticum”, 1961 (18), pp. 136-139, em que trata de Odes 2.16 em relação à “mesa frugal” das Sátiras; sobre a relação com Platão, mas não só, o sempre importante Eduard Fraenkel. Horace, Oxford (1957), o primeiro a identificar as imitações; sobre ambiguidade e disposição do primeiro livro: James Zetzel. Horace’s Liber Sermonum: The Structure of Ambiguity, in “Arethusa”, 1980 (13), pp. 59-77; sobre a relação com as Bucólicas: excelente resenha de Michael Putnam. Pastoral Satire, in “Arion”, 1995, pp. 303-316; importante também, por comentar ainda o sonho de Horácio com Quirino, o capítulo de J. Zetzel. “Dreaming about Quirinus: Horace’s Satires and the Development of Augustan Poetry”, in T. Woodman and D. Feeney. Traditions and Contexts in the Poetry of Horace, Cambridge, 2002, pp.38-53; sobre a relação com Lucílio e Calímaco: Ruth Scodel. Horace, Lucilius and Callimachean Polemic, in “Harv. Stud. Class. Philol.”, 1987 (91), pp. 199-215; há traduções em diversas línguas, mas em português fiquemos com duas: uma antiga e em verso de António Luís de Seabra e outra, mais moderna, em prosa de Edna Ribeiro de Paiva(Horácio: Sátiras, Niterói, 2013).

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Alexandre Pinheiro Hasegawa

Alexandre Pinheiro Hasegawa é professor de Língua e Literatura Latinas na Faculdade de Letras da Universidade de São Paulo (USP).