Hoje — ainda e sempre lamentando a irreparável perda do colaborador e amigo Thiago Blumenthal — trazemos as breves notas de Eduardo Cesar Maia sobre o estilo em Blumenthal, seguidas por um ensaio do autor publicado na versão impressa da revista Café Colombo e ainda inédito na internet.
Descanse em paz, Thiago, grande ensaísta, grande pessoa; afinal, “não se faz um grande ensaio sem uma grande personalidade, sem uma perspectiva personalíssima sobre o mundo e os valores”.
"Quase como uma teologia, mais do que uma filosofia, as histórias do amor em Rohmer se rebobinam entre personagens, em geral jovens estagnados com algum tipo de insatisfação e que buscam, pela linguagem e pelo arroubo, uma saída para seus dramas íntimos, tantas vezes temporários e até efêmeros. Poderíamos chamar de “dramas existenciais”, mas o termo soa inadequado para Rohmer. A hipótese aqui levantada é a de que o arroubo (“la folie”) responde a desolações cotidianas — de ordem amorosa ou não — ainda que ao decorrer da história tudo se desmanche, que as experiências outrora prazerosas — que criaram alguma expectativa e uma euforia — deixem de fazer sentido porque já não mais pertencem à maior de todas as verdades: a do acaso, que, como uma entidade divina ou sobrenatural, intervém — algo ao mesmo tempo tirado e subvertido da tragédia antiga."
‘La folie’, o acaso e o divino em Éric Rohmer. Por Thiago Blumenthal.
"De certo modo, podemos afirmar que o amor por Albertine difere do amor por Gilberte na mesma medida em que o septeto difere da Sonata." Para Thiago Blumenthal, "a Recherche é uma história de perdas transformada em coisas sensíveis". Proust, um pouco de música, e Albertine (sempre ela).
"Se há algo metafísico na narrativa machadiana, ela é dissecada até não sobrar um fiapo, e por isso não trazer resposta, com certo cinismo quase sensível. No retalho, no rasgo, a sociedade está desmontada, como desmontada está a camada psicológica de todo aquele universo íntimo e coletivo." Machado de Assis rachado, em descontínuo, por Thiago Blumenthal.
A arte pode mentir. A política idem. Às vezes a ciência (as eugenias perversas da Europa na década de 30, a crise ética da indústria farmacêutica, exemplos não faltam). Mas o esporte não. “The Last Dance”, documentário sobre a carreira de um dos maiores gênios do esporte mundial e seu canto de cisne nos Bulls, reflete curiosamente os tempos que vivemos.
O mistério do desconhecido, o fascínio pelo que é diferente, diria o professor de estudos culturais, pode elevar a alma humana. Verdade. Mesmo, sem piada ou cinismo. Mas há sempre uma sementinha do mal ali: o fascínio pelo exótico tem um quê de fetiche que termina em um sadismo. É o paradoxo de “Unorthodox".
(CONTÉM SPOILERS) Thiago Blumenthal analisa o último episódio da mais recente temporada da série americana.
Da revanche à moderna concepção de justiça legal, como a literatura retratou o universo da lei ficcionalmente?
Na ficção da autora americana o choque entre o 'contar' e o 'que está sendo contado' rearranja, como em um espelho meio espatifado, uma sensação de estranha confusão em todos os personagens envolvidos na história.