Política

A segunda restauração asiática na Rússia do século XXI

por Sérgio da Mata

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As verdades têm de ser acrobatas para que as possamos reconhecer.

Kurt Tucholsky

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‘Ivan, o Terrível’, de Eisenstein

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Os novos opríchniki

Duas das qualidades que não se pode deixar de reconhecer na esquerda clássica são seu cosmopolitismo e humanismo. Havia ali, apesar de tudo, uma clara herança iluminista. Em textos programáticos como o Manifesto Comunista se encontram, além de um decidido internacionalismo, aquele mesmo anseio pela emancipação integral do ser humano de um Immanuel Kant. Hoje, ao que tudo indica, boa parte da esquerda parece ter dado um adeus definitivo àqueles ideais: em nome de um nacionalismo old school, e que na América Latina mal se distingue de anti-americanismo, fecham-se os olhos eu não diria tanto para as atrocidades russas nessa guerra, mas para a natureza mesma do regime político russo atual. Causa impressão o número dos que, ao longo das últimas semanas, tem desfilado, sem corar, toda sorte de argumento para legitimar a “operação especial” deflagrada por Vladimir Putin em solo ucraniano.

Via de regra, tais tentativas adotam o mesmo figurino, e até mesmo senadores da República o seguem fielmente: a Rússia apenas reage ao expansionismo sem peias da OTAN, aliança que, como se sabe, nada mais é que um fantoche do imperialismo norte-americano. Advertências houve de sobra ao longo das últimas décadas, e é justo que a prepotência yankee e a empáfia de um presidente-comediante-judeu-nazista devam agora encarar as consequências. Em suma: uma salada indigesta, feita de ressentimento, seletividade empírica e analogias forçadas, a partir da qual um autocrata corre o risco de ser elevado à condição de ícone da luta anti-imperialista mundial. Qualquer pessoa sensata percebe logo que nada há ali de esperança num suposto novo modelo russo de sociedade, já que nem a mais exaltada dessas cabeças ousaria dizer que a Rússia de hoje não é uma autocracia, ou que sua riqueza não está concentrada nas mãos de um reduzido grupo de magnatas.

Ora, se a bandeira que tremula nas mãos de Putin não traz inscritas as palavras “democracia” e “igualdade”, o que resta então? O que explica que tantos na esquerda fechem os olhos para as íntimas relações que o sistema-Putin mantém com autocratas e aspirantes a autocratas como Maduro, Trump e Bolsonaro? Não vejo outra resposta senão essa: o que move o putinismo de esquerda (existe o de direita, por óbvio) não é a defesa da democracia e nem mesmo da igualdade, mas a hybris antiliberal. Não custa lembrar que, pouco antes da invasão da Ucrânia, Donald Trump elogiou publicamente o “gênio” de Putin ao colocar de prontidão “a força de paz mais forte que eu já vi”.[1] Abandona-se toda sutileza de pensamento em vista de situações complexas, toda capacidade de matizar. Se tudo o que o mainstream diz a respeito da Rússia e de suas intenções não passa de ideologia, ergo a verdade é todo o contrário. Já não se trata aqui de miséria da filosofia e menos ainda de miséria da teoria, pela simples razão de que para se ter filosofia e teoria é preciso algo mais que um agonístico jogo de luz e sombras.

Vejamos um caso concreto: contrariando a máxima leninista de que o imperialismo é a “fase superior do capitalismo”, um historiador marxista brasileiro protestou recentemente contra a caracterização da Rússia como nação imperialista. A acusação, diz ele, não passa de “violência analítica”.[2] Na verdade, seus governantes visam apenas garantir a “independência e sobrevivência nacionais”. O autor coloca em suspenso até mesmo sua aversão pessoal — suponho que ela exista — à ordem do capital e comemora “a rápida recuperação capitalista” que Putin trouxe ao seu país. A palavra “invasão” é evitada com o cuidado previsível, ao passo que para a “campanha militar do grande capital ocidental contra a Rússia”, para o “neocolonialismo” e o “assédio” ocidentais sobra indignação. Menções ao envenenamento do líder oposicionista Alexei Navalny e à ação sistemática de hackers aparecem com as devidas aspas. Sobre a relevadora afabilidade com que figuras como Putin, Trump e Bolsonaro se tratam mutuamente, nenhuma palavra. Nosso historiador tem ao menos a honestidade de admitir que a “direita nacionalista e xenofóbica europeia é a menos infensa à russofobia”, e que o “projeto” de colisão entre os Estados Unidos e o sistema-Putin tinha sido brevemente “interrompido pela vitória de Donald Trump” em 2016. Como o autor evita extrair as consequências deste último fato, cabe a nós fazê-lo: Vladimir Putin (cujo estilo de governo o autor caracteriza, à falta de um termo mais inofensivo, de “cesarista”) de fato realizou algo extraordinário. Ele foi capaz de juntar, com um decidido toque de cajado no deserto das ideias, as atribuladas águas da esquerda nacionalista com as da extrema-direita antiglobalista. Inimigos comuns são o liberalismo político, o Estado de direito, a divisão de poderes, a democracia representativa tal como ainda a conhecemos. Numa palavra, a sociedade aberta. O silêncio complacente de sites como Brasil247 sobre a troca de afagos entre Bolsonaro e Putin, às vésperas da invasão, dispensa comentários (os novos opríchniki levam seu trabalho a sério). Essa forma um tanto peculiar de ser “progressista” não deixa de causar surpresa, seja por seu pouco sutil amálgama de fantasia e omissão (a ideologia é como uma grama que sempre cresce mais vistosa no jardim do vizinho), seja porque o mesmo script ruim tem orientado o discurso da legião de neófitos em geopolítica europeia que brotou do nada nas redes sociais.[3]

Uma primeira conclusão a que se pode chegar é que, em inúmeros casos, o que sobra do ideário clássico da esquerda, por detrás da crítica meramente retórica à “ordem do capital” — afinal, Putin não a representa menos que qualquer megainvestidor de Wall Street — se resume ao ódio à ordem política liberal e a seu conhecido avatar, o Partido Democrata norte-americano.[4] Cujo maior crime, por incrível que possa parecer, é o de supostamente deter em suas mãos o leme da história. Se alguém julga ter a força e os meios para tomar para si esse lugar, ainda que à custa de violências tão ou mais escabrosas que as do passado, então o desafiante será imediatamente festejado pelos que acreditam falar em nome do hemisfério mais oprimido do planeta. Que o som dos novos grilhões não soe muito diferente, pouco importa. Cada vez mais ignorado pelas massas, incapaz de se reconstruir em um mundo que ainda espera por um novo Marx, resta ao segmento mais teimosamente anacrônico da nossa esquerda voltar suas baterias nem tanto contra a opressão, mas contra a geografia.

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Ex oriente lux?

Os gigantes do Oriente se parecem em muitas coisas, mas o que salta aos olhos nos últimos tempos, é sem dúvida, a sua vistosa galeria de líderes autoritários. Diante de nomes como Recep Erdogan, Mohamed bin Salman, Vladimir Putin ou Narendra Modi, é impossível não trazer à lembrança um famoso volume da autoria de Karl Wittfogel.

Poucos livros causaram tanto alvoroço os meios intelectuais do século passado quanto O despotismo oriental. As credenciais do autor eram as melhores possíveis. Em 1923 ele participara com Georg Lukács, Felix Weil, Friedrich Pollock e outros do primeiro seminário científico do Instituto de Pesquisa Social da Universidade de Frankfurt. Sinólogo talentoso, escritor prolífico e na militância socialista desde seus tempos de faculdade, Wittfogel é encarcerado pelos nazistas já em 1933. No campo de concentração, porém, suas ilusões políticas subitamente se desfazem, como numa epifania. O rompimento com o marxismo se deveu a uma constatação trivial, mas profundamente verdadeira, relatada no prefácio de seu opus magnum. Wittfogel se dá conta que muitos dos seus companheiros comunistas presos “não odiavam os meios totalitários, mas os fins a serviço dos quais eram postos”.[5]

Este notável “estudo comparativo do poder total” de 1957 explora cuidadosamente um problema que vinha perseguindo seu autor por mais de três décadas — o problema do “modo de produção asiático”, noção originária de Marx mas que o stalinismo teve de combater com unhas e dentes.[6] Ainda que que historiadores e sociólogos de diferentes tradições tenham, ao longo dos anos, refutado a “hipótese causal hidráulica” desenvolvida por Wittfogel, manteve-se intocado o núcleo propriamente político e polêmico de O despotismo oriental. O livro demonstra como a tese marxiana do modo de produção asiático poderia se transformar numa espécie chicote teórico com que o marxismo eventualmente fustigaria a si mesmo. Pela primeira vez, alguém profundamente familiarizado com os textos sagrados colocava o materialismo histórico contra si mesmo. Nas Formações econômicas pré-capitalistas e em alguns outros escritos, Marx afirma que a inexistência da propriedade privada dos meios de produção seria o tenor comum das sociedades onde havia se desenvolvido o “despotismo oriental”.[7] Donde se depreende — como cedo se deu conta a ortodoxia stalinista — que a socialização bolchevique dos meios de produção poderia ser vista como uma “restauração asiática”. Em outras palavras, e seguindo de forma consequente o raciocínio de Marx, chega-se à perturbadora conclusão de que a supressão da propriedade privada criaria — ao menos em tese — condições para que um novo despotismo, ainda mais terrível que o da Antiguidade, pudesse se formar. Se o antigo despotismo oriental conjugava controle social e espiritual, o “despotismo industrial” do assim chamado socialismo real articula “poder político total com controle social e espiritual totais”. Por fim, mas não menos importante, Wittfogel entende que a forma específica de colonialismo das potências socialistas é um “colonialismo total”.[8]

Mas a institucionalização da tirania não é a única consequência amarga desse processo. Onde ele se impõe, é como se as próprias engrenagens do tempo emperrassem. Em sua disputa com Lênin em 1906, Plekhanov havia alertado para o potencial reacionário da integral estatização e planificação da economia. A restauração asiática “faria com que a roda da história russa girasse decididamente para trás”.[9] Para Wittfogel, uma vez atingido este ponto, a dinâmica social entra num processo de estagnação, quando não de repetição e retrocesso.[10]

O juízo sobre a ahistoricidade tendencial do colosso asiático não era questão de ideologia ou de especialidade profissional. Em A situação da democracia burguesa na Rússia, longo ensaio escrito imediatamente depois dos acontecimentos dramáticos de 1905, Max Weber observa que a sociedade, a estrutura política e a igreja Ortodoxa continuavam enredadas no passado. “Praticamente nada” na Rússia de inícios do século XX estava em sintonia com sua própria época, lembrando, antes, a realidade decadente de Roma à época de Diocleciano.[11] Até mesmo Lênin, que tinha lá suas razões para ser menos pessimista a respeito, admitia que “em nenhum país capitalista houve uma sobrevivência tão abundante de instituições antigas que são incompatíveis com o capitalismo”.[12] Oitenta anos depois, um insuspeito Günther Anders escreve que, apesar da industrialização e da retórica futurista oficial, na União Soviética “o ritmo da história é mais lento que entre nós”.[13] Para o influente filósofo polonês Leszek Nowak a revolução bolchevique significara apenas a transição “de uma sociedade totalitária a uma sociedade totalitária”. Ao fim e ao cabo, o que se deu de fato foi “uma mudança de pessoal dentro da mesma estrutura social”.[14]

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É difícil ser Deus

Reconstruir a psique do déspota é algo que cientistas sociais e historiadores geralmente consideram uma tarefa de segunda classe, mas a arte, para a nossa sorte, não se prende a esse tipo de preconceito. É assim que Sergei Eisenstein fez de seu Ivã, o terrível (1944/1946) um dos mais poderosos libelos anti-totalitários da história do cinema. E isso sob as barbas, ou antes, o bigode, de Josef Stalin. Invertendo toda a perspectiva de O encouraçado Potemkin, já não é o levante popular o centro de tudo, mas a figura estranha e obcecada do Tsar. Em sua disputa com os poderosos boiardos, Ivã hesita, sente-se perdido e perseguido por traumas da infância. Depois da morte por envenenamento da czarina, ele decide criar a primeira polícia política da história russa, a opríchnina. A primeira parte termina com suas palavras: “O chamamento de todo o povo me outorgará um poder ilimitado, uma nova unção”. Na continuação, que evidentemente só pôde ser assistida após a morte de Stalin, Ivã é retratado como um monarca à beira da loucura e que uma criança ridiculariza em público, chamando-o de pagão. Quem desfruta do poder total pensa ter o mundo a seus pés, mas nem todo esse poder é capaz de livrá-lo do destino comum de todo verdadeiro déspota: o de instaurar para si mesmo um regime de solidão total. Dito pela boca do ator Nicolai Cherkasov: “Sou inatingível aos meus inimigos, mas não tenho a intimidade de amigos. Não tenho ninguém em quem possa apoiar minha cabeça. Ninguém com quem compartilhar alegrias e tristezas. Estou só.”

A filme de Eisenstein desvela a alma do déspota, mas sentimos que a resposta é insuficiente. Desde La Boétie se sabe que a dominação não é um mecanismo unilateral, que ela implica, em algum nível que seja, uma relação “consentida”. Em outras palavras, como explicar que haja um desejo correspondente de submeter-se, de dar resposta à pergunta feita pelo inquisidor de Dostoiévski — “diante de quem se inclinar?”

Aleksei German é um cineasta praticamente desconhecido entre nós, mas o fato de que em 2008 Meu amigo Ivan Lapshín (1984) tenha sido escolhido pela crítica de seu país o melhor filme russo de todos os tempos há de significar alguma coisa. Tendo dividido com Vassili Grossman e com o próprio Eisenstein a dura sina dos judeus russos sob Stalin, não há nada em seus filmes que lembre o estilo triunfalista e propagandístico da cinematografia dominante. Sem o mesmo talento poético de um Tarkovski, German volta-se, com um olhar próximo ao de um documentarista, para o destino de pessoas comuns em meio à guerra, às vésperas dos grandes expurgos dos anos 1930 ou vitimadas pelo insano antissemitismo do “complô dos médicos”. Melancolia e loucura são os temas centrais de seus filmes, resumindo o que talvez tenha sido a verdadeira essência do “novo homem” socialista.

Como Tarkovski, que baseia seus Solaris e Stalker na ficção científica de Stanislaw Lem e dos Irmãos Strugatski, German desenvolveu o projeto de filmar É difícil ser Deus, livro homônimo que os Strugatski haviam publicado em 1964. Menos alegórico em sua linguagem, ele enfrenta dificuldades que Tarkovski desconhece, de modo que seus filmes demoram décadas para serem concluídos (em uma sociedade totalitária o verdadeiro artista tem diante de si três alternativas: o silêncio, o exílio, ou tentar esgueirar-se naqueles breves interlúdios em que, por assim dizer, o déspota cochila). Mas a invasão da Tchecoslováquia em 1968 põe fim aos preparativos do filme: o sistema despertara do seu breve sonho de “abertura”.

É difícil compreender seu esplêndido É difícil ser Deus (2013) sem ler o livro dos Strugatski e sem ter em mente (como ressaltou Nowak) a estabilidade das estruturas totalitárias de dominação na Rússia. Escrito sob a sombra de uma nova e violenta intervenção do Estado nas artes — Kruschov deu ao país apenas uma década para respirar —, o plano original de escreverem um romance inspirado em Os três mosqueteiros de Dumas sofre uma drástica alteração. No curto posfácio que preparou para a nova edição em inglês, Boris Strugatski resume como ele e seu irmão Arkadi se sentiam naquele início da década de 1960: “Não estávamos tão assustados quanto enojados. Tudo parecia vil e repulsivo, como carne podre.”[15]

Entende-se assim o original recurso narrativo elaborado pelos autores. A história se passa num futuro passado. O sociólogo Anton toma parte em uma missão enviada da Terra para explorar um planeta distante, cuja sociedade vive num estágio de desenvolvimento social similar ao de nossa Idade Média. Seguindo a boa prática científica, as diretrizes estabelecidas pelo Instituto de História Experimental vedavam aos exploradores qualquer intervenção na dinâmica sociocultural daquele mundo primitivo. O dilema de Don Rumata (a persona assumida por Anton) é que os frágeis avanços intelectuais e científicos do reino de Arkanar são paulatinamente destruídos pelo primeiro-ministro Don Reba (cujo nome, como admitiu Boris Strugatski mais tarde, é o anagrama do de Beria). Sob as suas ordens, as tropas de assalto cinzas buscam eliminar cada uma das cabeças pensantes do reino. Anton/Rumata faz o que pode para proteger os poucos humanistas que restam vivos. Ele se ressente de que seu superior hierárquico, preso à teoria sociológica, não leve a sério a lenta ascensão do fascismo numa sociedade marcada pela “típica brutalidade medieval”. Rumata está em uma situação análoga à do Ivã de Eisenstein. Não porque seja o senhor do destino de tudo e de todos, ou porque tem em suas mãos uma tecnologia cujo enorme poder os habitantes de Arkanar ignoram, mas porque somente ele compreende o que de fato está em curso: “há um gosto amargo na minha alma, e não há forma de me livrar dele nessa solidão.”

O que está em curso é a destruição simultânea da cultura, do saber e da autêntica liberdade. Tudo começa quanto Don Reba, um funcionário medíocre, ganha influência junto ao monarca e, na prática, assume o poder. Os ministérios da Educação e do Bem-Estar Social são suprimidos, e no lugar criam-se o da Segurança, as “tropas de assalto cinzas” e Escolas Patrióticas nas quais a juventude, além de instruída na singela arte da tortura, aprende que a dúvida é o mais abominável de todos os vícios. A classe artística desaparece sem deixar vestígios, enquanto a nobreza passa a considerar “assuntos como a forma do planeta ou a causa de epidemias” como “temas indecorosos”. Imperam a ignorância, a sujeira, a violência, a superstição. Tudo é decadência em Arkanar, que num passado não muito distante chegara a conhecer os inícios de certa renascença artística e intelectual. Rumata se lamenta de que agora só existam “pessoas aterrorizadas, idiotizadas, cegas, que não conhecem a dúvida”. Pessoas “tão irritadas com o eterno trabalho ingrato e tão humilhadas que são incapazes de elevar seu pensamento acima de suas pequenas moedas de cobre”. Um poeta de talento que preferiu aderir ao regime, o Padre Gur, confessa: “Me disseram que a única verdade é aquela que hoje convém ao rei, e que tudo o mais é falso e criminoso”.

Somente uma pequena parte desses diálogos aparece na versão cinematográfica de 2013, cuja potência está justamente em sua impressionante reconstrução visual de uma sociedade em pleno processo de barbarização. O livro dos Strugatski está para a Era Kruschov assim como o filme de German para a Era Putin. A cristalização totalitária se impõe. Numa das primeiras cenas acontece um diálogo inexistente no livro, e no qual pensamos ouvir a voz do próprio diretor (German morre logo depois de concluídas as filmagens). Um escritor em fuga, Kiun, se dirige assim a Rumata:

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“Por que estás tão deprimido?”

“Porque é outono.”

“Outono outra vez.”

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Don Reba redivivus: a nova horda dourada

Muito antes da guerra atual, uma série de ações intimidatórias da “justiça” russa, envenenamentos e assassinatos em série de opositores e intelectuais críticos desvelou a verdadeira face do sistema-Putin. Eis uma lista sucinta de casos: envenenamento de Victor Yuschenko, candidato à presidência da Ucrânia (2004); envenenamento em Londres de Alexander Litvinenko, ex-agente do FSB (2006); assassinato de Boris Nemtsov, líder oposicionista (2015); envenenamento em Londres de Sergei Skripal, ex-agente do serviço de informações militar GRU (2015); envenenamento de Alexei Navalny, líder oposicionista (2020); ataque químico a Dmitry Muratov, editor do Novaya Gazeta e recebedor do prêmio Nobel da Paz em 2021 (18 de abril de 2022).

A jornalista Anna Politkovskaia, que publicou inúmeras reportagens e livros sobre os crimes cometidos pelo exército e pelo serviço secreto durante a guerra da Chechênia, é assassinada a tiros em outubro de 2006. Natalia Estemirova, historiadora que se dedicou a estudar a mesma questão, é sequestrada e morta a tiros em julho de 2009. Yuri Dmitrev, historiador que em 1997 descobriu covas coletivas com 9.500 corpos de vítimas do terror stalinista na região fronteiriça com a Finlândia, e membro da Fundação Memorial, foi acusado em 2016 de manter material com pornografia infantil, e condenado a quinze anos de prisão.

Há duas coisas em comum em todos os casos acima: (a) as autoridades e a “justiça” russas nunca chegaram aos mandantes, e (b) todas as vítimas são ou eram críticos contumazes, ou então desertores, do sistema-Putin.

O que os atuais neófitos em geopolítica insistem em silenciar é como o recrudescimento do militarismo russo após 1999 está diretamente ligado à natureza totalitária do regime e à nova ideologia por ele adotada. Mas haverá mesmo algo de novo no “eurasianismo” de autores como Sergei Karaganov e Alexander Dugin? O segundo, que volta e meia recebe convites do Brasil (até mesmo de universidades), acredita piamente que “o tempo é uma categoria política”, de tal modo que um retorno ao mundo pré-moderno lhe parece perfeitamente plausível e desejável. “Eu gosto apenas daquilo que foi antes do início da modernidade”, escreve ele.[16] Não se pode duvidar de sua admiração pela época do domínio mongol e o que isso significa na prática. Em 2014, Dugin divulgou a falsa história de uma criança de três anos que teria sido crucificada por soldados ucranianos na região de Donetsk. O canal de televisão mais popular da Rússia repercutiu a narrativa, produzindo enorme acirramento do sentimento anti-Ucrânia no país. Na ocasião, Dugin conclamou seus compatriotas a “matar, matar, matar” ucranianos.[17] Investigações independentes mostraram que a história não passava de uma farsa, e mesmo veículos chapa-branca como Russia Today retiraram menções ao caso de suas plataformas. Logo depois, uma petição com mais de 10.000 assinaturas exigiu a demissão de Dugin da chefia do departamento de sociologia da Universidade de Moscou.

A celebração da barbárie pelos ditos teóricos do “eurasianismo” não era a antessala dos eventos atuais, mas apenas um esforço de dar certo verniz intelectual a algo que se desenrola à vista de todos desde o início deste século. A condecoração oferecida por Putin ao batalhão suspeito de cometer crimes de guerra em Bucha fala por si mesma. Como na Arkanar dos irmãos Strugatski, a dúvida está proibida, e a sociedade de joelhos. O longo festival de casuísmos jurídicos que finalmente levou, em inícios de abril deste ano, ao fechamento da Memorial, a primeira ONG russa, dedicada a recuperar a memória das vítimas do stalinismo, é apenas uma evidência a mais de que a segunda restauração asiática — isto é: a colossal concentração de poder, o totalitarismo político e cultural, o ultraconservadorismo religioso e a retomada de uma política externa expansionista e agressiva — é a quintessência do sistema-Putin.

Quem melhor evidenciou isso não foi algum dissidente a soldo do Departamento de Estado norte-americano, mas um historiador renomado e que permaneceu em seu país até a sua morte em 2015. Falo de Yuri N. Afanassiev, um dos líderes do grupo de deputados democráticos na Duma no início dos anos 1990 e reitor da Universidade Estatal de Ciências Humanas de Moscou entre 1991 e 2003. Afanasiev foi o porta-voz daqueles que, na comunidade acadêmica do país, passaram a exigir o fim do controle ideológico sobre a historiografia e a garantia de livre acesso dos pesquisadores aos arquivos estatais.[18]

Em 1999, ano zero da Era Putin, Afanasiev declara publicamente que a política externa de seu país voltara a ser “soviética e imperialista”, e que se acumulavam evidências “do retorno da ideologia imperial totalitária”.[19] Dez anos mais tarde, em meio à segunda guerra da Chechênia e da guerra na Geórgia, ele publica na Novaya Gazeta seu longo e corajoso ensaio O fim da Rússia? Numa abordagem compreensiva e esclarecedora, são elucidadas as origens culturais e a natureza da “nova” ordem. Para Afanasiev, o governo se comportava na Geórgia como uma força de ocupação, “uma horda dourada tão ilegítima quanto criminosa”. A sociedade civil entrara em fase terminal, e a maioria dos intelectuais aderira ao sistema-Putin (Alexei German é das poucas exceções mencionadas). Desde o século XV a prioridade dos governantes russos tinha sido a expansão territorial, mais que o desenvolvimento da própria nação. A manutenção dessa tendência ao longo dos séculos, a apatia da população e o colaboracionismo da intelectualidade levam-no a constatar a mesma ahistoricidade russa de que haviam falado Marx, Weber, Wittfogel e Nowak: a “ausência de mudança tornou-se um problema nacional opressivo”. Afanasiev evoca a teoria de Giorgy Fedotov, para quem a antítese entre ideia imperial e liberdade se tornou o verdadeiro “câncer” que atravessa a experiência histórica russa. O primeiro balanço impressiona não apenas porque antecipava aquele futuro que veio a se tornar, hoje, o nosso presente, mas porque suscita a pergunta pela cegueira ocidental diante do que estava acontecendo:

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“Na perspectiva de curto prazo, nos últimos 8-10 anos, temos visto: a liquidação das eleições, do sistema judicial, da mídia e dos partidos políticos independentes. Assistimos à castração do poder legislativo. Temos visto os órgãos responsáveis pela aplicação da lei se tornarem repressivos e criminosos. Assistimos a uma corrupção desenfreada, guiada a partir do topo. Temos visto assassinatos sensacionais não esclarecidos, e a deterioração das relações com países vizinhos (e não apenas vizinhos).”[20]

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Se nas antigas sociedades hidráulicas o Estado é tudo e o indivíduo nada, configurando “o caso clássico de estagnação social”,[21] para Afanasiev a dinâmica social russa parece não ter se desviado do “caminho no qual temos estado ao longo de 500 anos”. Nessa perspectiva, a revolução de outubro de 1917 pode ser lida como uma tentativa de se reatualizar o velho messianismo russo. Como afirma Ivã o terrível numa das primeiras cenas do filme de Eisenstein: “Já caíram duas Romas. A terceira, Moscou, segue de pé. E não haverá uma quarta”.[22]

Afanasiev não ignora a importância de fatores objetivos como a enorme extensão territorial e a complexidade étnica do país, mas está mais interessado em lançar luz sobre a longa duração de matrizes culturais que recuam à Idade Média. Nesta chave, duas características sobressaem na mente russa: tradicionalismo e pensamento mítico. As energias nacionais se orientam mais para a expansão espacial que para a dinâmica temporal.

É no século XII que ocorre, segundo Afanasiev, a grande divisão de caminhos entre a Rússia e o Ocidente. Enquanto na Europa surge a Magna Carta, na Eurásia Gengis Khan edita o que ficou conhecido como Grande Yassa. No Ocidente, a sociedade timidamente reclama seus direitos diante do poder estatal, ao passo que nas estepes asiáticas o poder absoluto do chefe guerreiro é que fagocita a sociedade. A propósito, um especialista nos lembra que “o império mongol não se via como um estado entre outros, mas como o início de um império mundial”.[23] Quando o escritor eurasianista Sergei Karaganov afirma, em entrevista publicada com o destaque previsível no site do jornalista Luiz Nassif, o caráter “existencial” da guerra contra a Ucrânia, quando se orgulha de que “temos traços asiáticos em nossos genes” e que “o jugo tártaro e mongol deixou muitos traços em nossa sociedade”,[24] fica evidente o acerto das análises de Afanasiev em 2009 — e a que tipo de interesses alguns setores de nossa esquerda dão mostras de estar se aliando nos últimos tempos.

Eis o modelo perseguido pelos atuais ocupantes do Kremlin, segue Afanasiev: eliminar o que ainda possa restar da sociedade civil e reviver, “como nos tempos soviéticos e pré-soviéticos”, o ideal mongol da horda dourada. A década de 1990 não significou uma revolução democrática, mas apenas mais do mesmo. Com o agravante de que “as relações sociais e as instituições estatais se tornavam mais primitivas e arcaicas”. Que o poder esteja hoje nas mãos de um ex-agente da KGB e de egressos da comunidade de segurança “é o indicativo de que a sociedade é governada por meio da força”.

Alguns meses depois de publicado este ensaio, o historiador complementa em entrevista à Novaya Gazeta o seu diagnóstico sombrio sobre o rumo das coisas. “Estado de guerra permanente” é como descreve a situação da Rússia a partir de 1999. E sentencia: “Mais cedo ou mais tarde, isso levará a uma guerra mundial”. O país de Púchkin e Tolstoi, de Tarkovski e German, de Brodsky e Horowitz, chega ao século XXI como “um tipo de cultura moribunda”. A retomada dos sonhos de grandeza imperiais, a celebração da violência por um “neo-eurasianismo” que combina Gengis Khan e Heidegger, a lógica implacável do despotismo oriental, enfim, tudo isso leva Yuri N. Afanasiev a constatar que

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“nossa essência, nossa vocação, nosso pathos, é a destruição do novo”.[25]

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É nesse contexto que se deve compreender a reabilitação de Stalin na Rússia de Putin. Desde a década passada cresce, por exemplo, o controle estatal sobre os manuais escolares de história. No mais popular deles, o manual Filippov, publicado em 2008, Stalin é apresentado como um “eficiente administrador”. Seus autores evocam uma pesquisa de 2006 em que 47% dos entrevistados faziam uma boa avaliação do tirano e somente 29% o viam negativamente. Diante dos protestos de pesquisadores como Dina Khapaeva, eles respondem que historiadores podem estar errados sobre o passado, mas o povo não.[26] A essa ofensiva se soma a produção maciça de documentários banalizando o terror dos Grandes Expurgos e criando uma imagem heroica do exército e dos serviços de inteligência. Em 2008 é feito o primeiro ataque direto à Fundação Memorial, com o confisco dos discos rígidos de seus computadores enquanto a entidade realizava um simpósio internacional sobre as vítimas do stalinismo.[27] No ano seguinte, o governo propõe à Duma um projeto de lei “contra o revisionismo histórico da Grande Guerra Patriótica”. Em sua versão original, o projeto previa punições não apenas a cidadãos russos pegos em flagrante delito de “revisionismo”, mas também — nota bene — a todos aqueles que residissem em países que até 22 de junho de 1941 faziam parte da União Soviética. Já então a acusação de “reabilitação do nazismo” começa a pairar sobre cabeças estonianas e ucranianas. Criou-se uma comissão para discutir o projeto, mas de seus 21 membros somente três eram historiadores profissionais. Em seus estudos a respeito, Nicolai Koposov mostra que, ao contrário da política da memória elaborada por países como Áustria, França e Alemanha, onde o objetivo é basicamente o de salvaguardar a memória das vítimas de genocídio e do totalitarismo, nas leis russas o que se busca preservar a todo custo é o próprio Estado. Ao fim e ao cabo, diz Koposov, a ênfase na memória da participação soviética na Segunda Guerra “serve para eclipsar uma outra memória, a do terror stalinista”.[28]

Voltemos brevemente, por fim, o olhar para nós mesmos. Causa espanto, pelo menos a mim, a quantidade de peixes que o despotismo oriental ultratardio tem fisgado com o rudimentar anzol do anti-americanismo. Não apenas o desconhecimento ou a pressa, tentação que qualquer intelectual responsável faria melhor em evitar, mas também um mal disfarçado ressentimento em face de (quase) tudo que venha do norte global, tudo isso tem embaçado o entendimento dos mecanismos políticos e culturais subjacentes à Era Putin. É cômodo denunciar a “ameaça” Ocidental ao espaço vital russo e ao mesmo tempo calar sobre a singular “ordem do capital” que se estabeleceu nesse país, sobre o desmonte das liberdades civis, sobre a censura à imprensa, sobre a manipulação orwelliana do passado, sobre o assassinato de opositores e sobre incontáveis crimes de guerra — os de ontem e os de hoje.[29] Ora, já assistimos ao mesmo filme em 1936, 1956 e 1968. Me custa crer, como historiador, que sejam tantos os que apreciem a repetição, e para os quais somente quem diverge deles possa se tornar vítima de manipulação.

Mas ao contrário do que temia Tucholsky, nem sempre as verdades precisam se tornar acrobatas para que as possamos reconhecer. Para isso, basta apenas um mínimo de integridade intelectual e o que ainda possa existir daquele autêntico humanismo que movia a esquerda em seus primórdios. Há quatro décadas, o filósofo “dissidente” búlgaro Assen Ignatov já havia se dado conta de que “o marxismo começou como um humanismo radical”, mas que “ele acaba como um anti-humanismo não menos radical”. Sua tese era a de que tanto em Marx quanto no marxismo tardio do pós-guerra o caminho que gradativamente leva à desumanização resulta de um “engajamento radical, psicologicamente motivado e emocionalmente vivenciado”.[30] De minha parte, penso que tal fenômeno está longe de se limitar apenas à esquerda mais tradicional. Caso a tese de Ignatov seja correta, como parece ser, resta admitir que uma esquerda que pretenda se manter relevante no século XXI faria melhor em se dar conta da profunda antinomia existente entre radicalismo, de um lado, e verdadeiro humanismo, do outro.

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(Reprodução: AP)

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Notas:

[1] The Guardian, 23/02/2022.

[2] Mário Maestri. “Rússia: o direito à defesa”. A terra é redonda, 13/04/22. Disponível em https://aterraeredonda.com.br/russia-o-direito-a-defesa/. Não surpreende que poucos dias depois o mesmo texto tenha sido publicado na versão on-line em português do Pravda.

[3] Há exceções, felizmente: Michael Löwy. “Opções irreconciliáveis”. A terra é redonda, 31/03/2022. Disponível em https://aterraeredonda.com.br/opcoes-irreconciliaveis/ (acesso: 05/05/2022); Vicente Ferraro. “‘Vladiminions’ acadêmicos condenam imperialismo americano, mas veem Putin como messias”. Folha de São Paulo, 09/05/2022. Disponível em https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2022/05/vladiminions-academicos-condenam-imperialismo-americano-mas-veem-putin-como-messias.shtml (acesso: 09/05/2022).

[4] Em seu pioneiro “Ensaio sobre o ódio”, de 1935, Kolnai observa como esse sentimento “se vivencia muito mais facilmente de baixo para cima que de cima para baixo”. Cf. Aurel Kolnai. Asco, soberbia, odio. Fenomenología de los sentimientos hostiles. Madrid: Encuentro, 2013, p. 147.

[5] Karl Wittfogel. Die orientalische Despotie. Eine vergleichende Untersuchung totaler Macht. Frankfurt am Main: Ullstein, 1977, p. 21-22.

[6] Ver o excelente ensaio de Ernest Gellner. Os soviéticos contra Wittfogel: ou as precondições antropológicas do marxismo maduro. In: John Hall, ed. Os Estados na história. Rio de Janeiro: Imago, 1992, p. 119-162.

[7] Karl Marx. Formen, die der kapitalistischen Produktion vorgehen. Marx-Engels Werke (Band 42). Berlin: Dietz Verlag, 1983, p. 385, 392 e 394.

[8] Wittfogel, p. 545, 548.

[9] Citado por Wittfogel, p. 488.

[10] Wittfogel, p. 523-524.

[11] Max Weber. Estudos políticos. Rússia 1905 e 1917. Rio de Janeiro: Azougue, 2005, p. 51.

[12] V. I. Lenin. The Development of Capitalism in Russia. Moscow: Progress, 1977, p. 618.

[13] Günther Anders. Die Antiquiertheit des Menschen (Band 2). München: C. H. Beck, 1980, p. 301.

[14] Leszek Nowak. Property and Power. Towards a Non-Marxian Historical Materialism. Dordrecht: D. Reidel, 1983, p. 370.

[15] Boris Strugatsky. “Afterword”. In: Arkady and Boris Strugatsky. Hard to be a God. Chicago: Chicago Review Press, 2014, p. 243.

[16] Cf. Alexander Dugin. A quarta teoria política. Curitiba: Austral, 2012.

[17] Dina Khapaeva. The Gothic Future of Russia. Russian Literature, v. 106, 2019, p. 89. Ver também Dmitry Shlaptentokh. Alexander Dugin’s ‘times of troubles’ as paradigms of Russian history. International Politics Reviews, v. 3, 2015, p. 44-45.

[18] Nicolai Kopossov. Dos au vent. Une histoire sans surveillance. Espaces Temps, 59-61, 1995, p. 225.

[19] “Warnung vor dem russischen Bären”. Süddeutsche Zeitung, Feuilleton-Beilage, 11-12/12/1999.

[20] As passagens empregadas aqui foram retiradas da tradução para o inglês publicada no site openDemocracy em 21/01/2009. Disponível em https://www.opendemocracy.net/en/the-end-of-russia/ (acesso em 06/03/2022).

[21] Wittfogel, p. 521.

[22] Benz mostra como a crença messiânica na “terceira Roma” não arrefeceu com o advento do regime bolchevique. Ernst Benz. The Eastern Orthodox Church. Garden City: Anchor Books, 1963, p. 157-161. Por sua parte e com consequências análogas, os Estados Unidos recorrem desde sempre à mitologia do novo Israel. Ver o clássico artigo de Robert Bellah. Civil Religion in America. Daedalus, v. 96, n. 1, 1967, p. 1-21.

[23] Rüdiger Wolfram. Das Recht der Mongolei unter Dschingis Khan und seinen Nachfolgern: Die Bedeutung des Rechts in nicht-staatlich verfassten Gesellschaften. Verfassung und Recht in Übersee, v. 39, n. 1, 2006, p. 10.

[24] “Ex-assessor do Kremlin explica visão da Rússia sobre a guerra na Ucrânia”. Disponível em https://jornalggn.com.br/geopolitica/ex-assessor-do-kremlin-explica-visao-da-russia-sobre-a-guerra-na-ucrania/ (acesso em 02.05.2022).

[25] Disponível em https://web.archive.org/web/20110831130627/http://www.novayagazeta.ru/st/online/584357/ (acesso: 06.03.2022).

[26] Nicolay Koposov. Memory Laws, Memory Wars. The Politics of the Past in Europe and Russia. Cambridge: Cambridge University Press, 2018, pp. 244-245. Ver também Dina Khapaeva. Triunphant Memory of the Perpetrators: Putin’s Politics of re-Stalinization. Communist and Post-Communist Studies, 2016, http://dx.doi.org/10.1016/j.postcomstud.2015.12.007.

[27] Sobre a história da Memorial e sua importância na luta por uma política da memória verdadeiramente democrática entre 1987 e 2022, quando enfim foi fechada pela “justiça” russa, ver o documentário The Right to Memory, a respeito da trajetória pessoal um de seus líderes, o historiador Arseny Roginsky (1946-2017). Disponível em https://therighttomemoryfilm.com/english/

[28] Nikolay Koposov. Le débat russe sur les lois mémorielles. Le Débat, n. 158, 2010, p. 50-59.

[29] Anna Politkovskaya. Putin’s Russia. Life in a Failing Democracy. New York: Holt Paperbacks, 2007.

[30] Assen Ignatow. Die Selbstauflösung des Humanismus: Das Schicksal der Frage nach dem Menschen im marxistischen Denken. Studies in Soviet Thought, v. 21, n. 4, 1980, p. 316. O autor ampliou mais tarde suas teses no livro Selbstauflösung des Humanismus. Die philosophisch-anthropologischen Voraussentzungen für den Zusammebruch des Kommunismus. Baden-Baden: Nomos Verlagsgesellschaft, 1996.

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Sérgio da Mata

Sérgio da Mata é Professor do Departamento de História da Universidade Federal de Ouro Preto e pesquisador do CNPq. Doutorou-se em História Ibérica e Latino-Americana pela Universidade de Colônia. Autor dos livros Chão de Deus (2002), História & religião (2010) e A fascinação weberiana. As origens da obra de Max Weber (2020, 2ª. ed.).