Ettore Majorana é um dos mais instigantes personagens da história da física no século 20. Nascido no dia 5 de agosto de 1906, em Catânia, na costa leste da Sicília e aos pés do vulcão Etna, exibiu seu extraordinário talento matemático ainda na tenra idade, quando realizava, mentalmente, multiplicação de números com três algarismos, e sabia calcular raiz quadrada e raiz cúbica.
Aos 17 anos de idade, ingressa na faculdade de engenharia da Universidade de Roma, onde obtém as melhores notas. Seus colegas de curso o chamam de grande consultor para os problemas difíceis. De todos os professores, respeita apenas o matemático Tullio Levi-Civita, que inventou o cálculo tensorial, com seu orientador Gregorio Ricci. Por conta disso, Levi-Civita e Ricci tiveram relevante participação no desenvolvimento da teoria da relatividade geral. Os outros professores eram medíocres, na visão de Majorana. Certa vez o professor de álgebra começou a demonstrar um teorema e ele cochichou a um colega: ele não vai chegar ao fim. Pouco depois o professor de fato se atrapalhou nos cálculos, e o colega murmurou: bem que Majorana previu. O professor, que ainda não o conhecia, pediu que ele fosse ao quadro-negro. Rapidamente Ettore apagou o que o professor havia escrito e apresentou corretamente a dedução do teorema.
Decepcionado com esse baixo nível do ensino, resolve abandonar o curso de engenharia, e depois de uma conversa com Enrico Fermi, no início de 1928, se transfere para o curso de física. Pouco mais de um ano depois, exatamente no dia 6 de julho de 1929, ele defende sua tese de doutorado, intitulada Sulla meccanica dei nuclei radioattivi. Sob orientação de Fermi1, esse foi o primeiro trabalho na Itália a aplicar a teoria quântica ao estudo dos núcleos radioativos.
Era inexplicavelmente refratário à publicação de seus resultados, apesar das insistentes recomendações de Fermi. Finalmente cede e, entre 1931 e 1933, publica, sempre sozinho, oito artigos, cinco na mais importante revista de física da Itália, Nuovo Cimento, um nos anais da Academia de Ciências de Roma, outro na La Ricerca Scientifica, e talvez o mais famoso desses artigos ele publicou na Zeitschrift für Physik. Por esses trabalhos ele passa a despertar o interesse de cientistas hoje famosos.
Entre 1931 e 1945, ele foi citado por Enrico Fermi (Prêmio Nobel de Física, PNF de 1938), Felix Bloch (PNF de 1952), Isidor Isaac Rabi (PNF de 1944), Eugene Wigner (PNF de 1963), Julian Schwinger (PNF de 1965), John Hasbrouck Van Vleck (PNF de 1977) e Werner Karl Heisenberg (PNF de 1932). O mais interessante nisso tudo é que seus oito trabalhos impactaram diferentes áreas da física, daquela época e dos dias atuais. Uma análise detalhada dessa produção científica nos permite considerar Majorana como um dos oráculos da física contemporânea.
Em 12 de novembro de 1932, ele obteve o diploma de livre docente2. No mês seguinte, o Conselho Nacional de Pesquisa da Itália lhe concede uma bolsa para uma temporada de estudos em Leipzig e Copenhague. No retorno da viagem, em agosto de 1933, se isola em casa e só aparece no Instituto de Física de Roma, esporadicamente, em 1936. Em novembro de 1937 foi nomeado para uma cátedra criada exclusivamente para ele na Universidade de Nápoles. Chegou em janeiro de 1938 e desapareceu, sem deixar vestígios, no final de março.
Esse é o resumo da breve e trágica vida de alguém que seria candidato ao Nobel de Física, mas resolveu dar fim à sua vida, quatro meses antes de completar 32 anos de idade. Vejamos agora fatos e boatos que se seguiram ao desaparecimento.
Os fatos de 25 e 26 de março de 1938
Era uma sexta-feira. Majorana deixa em seu quarto do hotel Bolonha uma carta de despedida endereçada “À minha família”:
Nápoles, 25 março de 1938
Só tenho um desejo: que você não se vista de preto. Se quiser se curvar ao uso, leve, mas por não mais que três dias, algum sinal de luto. Lembrem-se de mim, se puderem, em seus corações e me perdoem. Afetuosamente, Ettore
Nesse mesmo dia, coloca no correio uma carta para o diretor do Instituto de Física, Antonio Carrelli, que a receberá às 14h do dia seguinte:
Nápoles, 25 de março de 1938.
Caro Carrelli, tomei uma decisão que agora é inevitável. Não há um único grão de egoísmo nisso, mas estou ciente dos problemas que meu súbito desaparecimento pode causar para você e para os alunos. Também por isso peço que me perdoem, mas sobretudo por ter decepcionado toda a confiança, amizade sincera e simpatia que me demonstraram nos últimos meses. Por favor, lembre-se também daqueles que aprendi a conhecer e apreciar em seu instituto, especialmente Sciuti, de quem guardarei boas lembranças pelo menos até as onze da noite, e possivelmente até depois. – E. Majorana.
Ao que tudo indica, de posse do passaporte e do salário dos três primeiros meses, algo entre sete e nove mil liras3, embarca no ferryboat Postale4, da companhia marítima Tirrenia — que opera entre Nápoles e Palermo. O navio sai às 22h30. Tudo sugere que ele pretende acabar com a vida (por volta das onze da noite), ou pelo menos desaparecer.
No dia seguinte, sábado, desembarca em Palermo, e se hospeda no Grand Hotel Sole, que ficava no Corso Vittorio Emanuele. Envia a Carrelli um telegrama urgente com o qual cancela a carta de Nápoles. No papel timbrado deste hotel escreveu uma segunda carta a Carrelli, que constitui o último documento sobrevivente com a sua assinatura:
Palermo, 26 de março de 1938.
Caro Carrelli, espero que o telegrama e a carta tenham chegado juntos. O mar rejeitou-me e voltarei amanhã ao hotel Bolonha [em Nápoles], talvez viajando com esta mesma folhavi. No entanto, pretendo desistir de lecionar. Não me tome por uma menina ibseniana porque o caso é diferente. Estou à sua disposição para maiores detalhes. Carinhosamente, E. Majorana.
No domingo, 27, o Postale sai de Palermo à noite com destino a Nápoles, onde deverá chegar às 5h45 da manhã de segunda-feira. Majorana compra um assento em uma cabine5. Tudo agora sugere que Ettore quer voltar a Nápoles. Em vez disso, durante a viagem ou imediatamente depois (ou imediatamente antes), ele desaparece.
Os acontecimentos imediatamente após o desaparecimento
Alguns dos supostos acontecimentos dos dias seguintes ao desparecimento encontram-se registados no Arquivo Central do Estado (ACE). Consta, por exemplo, o relato de uma enfermeira que o conhecia, e que o teria visto no início de abril, entre o Palácio Real e a Galeria, vindo de Santa Lúcia, mas a polícia não deu importância a esse relato. Havia também a informação de que Ettore havia sido visto dormindo na cabine do ferryboat, no trajeto Palermo-Nápoles. Essa informação foi investigada pela polícia e pela família.
Dos canhotos das passagens, preservados pela empresa Tirrenia, fica-se sabendo que em determinada cabine viajaram um inglês, chamado Charles Price, o professor de geometria da Universidade de Palermo, Vittorio Strazzeri, e Ettore Majorana. O inglês jamais foi localizado, mas o professor Strazzeri prestou um depoimento em carta enviada a Salvatore Majorana, irmão de Ettore, em 31 de maio de 1938:
Caro senhor Majorana, tenho absoluta convicção de que, se a pessoa que viajou comigo foi seu irmão, ele não se matou, pelo menos até chegar a Nápoles. Porque, quando me levantei [da cama], estávamos em frente ao porto de Nápoles, e muitos passageiros estavam no convés do vapor, já era dia muito claro. Repito que não vi nenhuma bagagem na cabine (…) Não duvido que o terceiro viajante se chamasse Charles Price, mas devo assegurar-vos a este respeito que falava italiano como nós, gente do Sul, e além disso me pareceu que devia ser algum lojista ou algo assim, enfim, uma pessoa sem aquele requinte inconsciente de costumes que vem da cultura… Repito mais uma vez: se o jovem que viajou comigo fosse seu irmão (digo jovem porque tinha o cabelo cheio e porque relatei essa impressão), ele certamente não se lançou ao mar até a chegada do navio a Nápoles. (…) Seu Strazzeri. — Palermo, 31.5.1938.
P.S.: Perdoe-me se me atrevo a lhe dar uma sugestão, que é descobrir se seu irmão havia se internado em algum convento (…).
A partir desse depoimento, Sciascia elaborou a seguinte hipótese: o homem que passou a viagem dormindo era Charles Price, e o homem que se supunha ser Charles Price poderia ser um siciliano que viajava com o bilhete de Majorana. Ou seja, um pouco antes da partida em Palermo, Majorana teria se dirigido ao guichê da Tirrenia e dado seu bilhete para o siciliano que estava na fila. Para fazer o quê depois disso? Ninguém sabe.
A sugestão dada por Strazzeri no Post Scriptum foi seguida pela família e pela polícia. O padre jesuíta De Francesco, que, nas fotos que lhe são mostradas pela família, reconhece o ilustre jovem que, nos últimos dias de março ou início de abril, se apresentou muito agitado ao Superior da Igreja Gesù Nuovo, em Nápoles, pedindo para ser acolhido num retiro para experimentar a vida religiosa. O jovem, diante das dificuldades burocráticas que lhe foram apresentadas, agradeceu, pediu desculpas e saiu.
Por outro lado, há um relatório do Comissário de Polícia de Nápoles dando conta de que em 12 de abril, Majorana apresentou-se no Convento de S. Pasquale em Portici para ser admitido naquela ordem religiosa, mas como o seu pedido não foi aceito, partiu com destino desconhecido.
Se esses relatos, acrescidos pelo da enfermeira fossem verdadeiros, Majorana estaria vivo em Nápoles, mas não há registro de hospedagem em nenhum hotel da cidade.
Luciano, irmão de Ettore, às vezes na companhia da mãe, visitou conventos napolitanos mostrando a fotografia do irmão. A viúva de Luciano declarou que houve duas respostas positivas. Uma em um convento aberto, e outra no San Pasquale di Portici, que naquela época era um convento de clausura. Neste último, comentaram para a mãe de Ettore: Mas por que você o procura, senhora? O importante é que seu filho esteja feliz. Convencida de que Ettore procurou refúgio em algum convento, a família resolveu consultar o Papa para saber se ele tinha ouvido falar que Ettore estava vivo. Jamais receberam resposta do Vaticano.
Em 6 de dezembro de 1938, o Ministro da Educação publica um decreto com a demissão de Majorana, a partir de 25 de março. Com esse decreto o caso Majorana foi oficialmente dado como encerrado, mas na imprensa italiana, bem como na cinematografia, ele persistiu, e se transformou na Majoranologia, termo cunhado pelo professor Umberto Bartocci6, disponível em sua página na internet, Cartesio Episteme7, de onde extraí as informações apresentadas a seguir.
O desaparecimento de Majorana na imprensa italiana: alguns fatos e muitos boatos
O texto de Bartocci é confuso e desordenado, mas tem grande valor histórico, uma vez que apresenta muitas informações que não estão contidas na literatura acadêmica, mesmo nas reconhecidas fontes primárias, ou seja, pessoas que conviveram com Majorana. Depois que descobri a página de Bartocci, percebi que em 1998 ele escreveu o livro La scomparsa di Ettore Majorana: Un affare de stato?, com cópia pdf disponível online, publicado em 2015, pela editora Andromeda. No arquivo pdf, de 1998, não consta o material que apresentarei aqui. Talvez este material esteja contido na edição de 2015.
O texto a seguir tem o objetivo de esclarecer alguns equívocos difundidos pela imprensa desde o desaparecimento de Majorana.
Reprodução de Bartocci de parte da matéria do Stampa Sera de 13 de julho (Figura 1b):
Vários jornais têm abordado repetidamente o misterioso desaparecimento do jovem professor napolitano Ettore Maiorana, professor catedrático de Física Teórica da Universidade de Nápoles, que desde março passado, tendo saído de casa, já não dá notícias de si mesmo, apesar das buscas ativas e ansiosas de sua família. O Prof. Maiorana, disse o Padre Marinecci, era um jovem de caráter fechado e pensativo, por isso a princípio pensou-se que em breve daria alguma notícia, mas com o passar dos dias as esperanças tornaram-se cada vez mais tênues e agora os familiares estão desesperados.
Na reportagem do dia 14 (Figura 1c), o Stampa Sera volta a publicar uma nota sobre Majorana, com os seguintes título e subtítulo: O desaparecimento do professor Maiorana — O famoso estudioso caiu no mar a bordo de um navio a vapor? — A carreira muito rápida do jovem professor e as incógnitas que rodeiam a sua misteriosa ausência.
O jornal levanta a hipótese de que Majorana apresentava um quadro de leve neurastenia e que, muitas vezes, desaparecia por alguns dias e, depois, reaparecia, sem avisar ninguém. Talvez essa hipótese, não compartilhada pelas fontes que consultei, tenha a ver com o isolamento voluntário de Majorana, entre 1933 e final de 1936, logo depois do seu retorno da viagem a Leipzig e Copenhague.
Depois dessas reportagens, ilustradas na Figura 1, começam a aparecer, a partir de 1950, artigos assinados por estudiosos do caso e por jornalistas investigativos. Mencionados por Bartocci, alguns desses artigos aparentemente não estão disponíveis na internet, de modo que só tratarei aqui daqueles que ele menciona, e que estão disponíveis em algum endereço digital.
É importante observar que as primeiras publicações frequentemente citadas na literatura historiográfica foram publicadas em 1966, 1975 e 1987. Portanto, o noticiário e artigos assinados na imprensa entre 1950 e 1966 podem ser avaliados quanto à credibilidade comparando com o que consta nesses textos de Edoardo Amaldi, Leonardo Sciascia e Erasmo Recami.
Em um artigo publicado em fevereiro de 1959, intitulado O cientista Majorana não foi sequestrado,8 o jornalista Salvatore Nicolosi apresenta várias informações factuais e alguns equívocos evidentes para quem conhece a história da física nos anos 1930. Por exemplo:
Heisenberg, o físico alemão considerado um dos fundadores da mecânica quântica, afirmou certa vez a impossibilidade de provar um determinado princípio; pouco depois, Majorana demonstrou o improvável, matematicamente. Foi nessa época, em 1931, que começaram a chover convites do exterior para Majorana.
Em primeiro lugar, não há notícia desse fato, de que Heisenberg teria afirmado a impossibilidade de provar determinado princípio. Que princípio seria esse? Nicolosi não informa. Nesse parágrafo, há um erro factual. Majorana só começou a ser notado pela comunidade científica depois de 1932. Portanto, em 1931 ele não poderia receber convites do exterior. É verdade que, depois de 1933, ele recebeu alguns convites para ministrar seminários no exterior, mas não aceitou nenhum.
Nicolosi dá outras informações ainda mais fantasiosas:
A embaixada soviética em Roma pediu-lhe, em nome do seu governo, que se mudasse para a Rússia para dirigir o instituto superior de física de lá; também o chamaram da Universidade Inglesa de Cambridge e da Universidade Norte-Americana de Yale; a “Fundação Carnegie” também o convidou (…) Ofereceram-lhe meios científicos e salários suntuosos; o caminho para a glória foi facilitado para ele. (…) Fermi (…) escreveu a Mussolini e apontou o perigo: a Itália poderia perder Majorana, as tentações do exterior eram muitas, um dia ou outro o jovem aceitaria. Fermi mencionou as vastas possibilidades da física, explicou a Mussolini coisas que um estadista intui e um cientista sabe, e conseguiu. (…) Era 1936. Foi anunciado um concurso para professor universitário de física, e Majorana teria vencido se quisesse. Em vez disso, desistiu até de apresentar os documentos necessários. No ano seguinte foi nomeado professor de física teórica da Universidade, “por méritos excepcionais”. Desta vez aceitou.
Nesse desvairado relato de Nicolosi, a única coisa que tem alguma conexão com a realidade é a existência do concurso, de fato realizado em 1937, mas a história é completamente diferente dessa transcrita acima. Uma descrição detalhada desse concurso foge ao escopo do presente ensaio. O assunto será tratado posteriormente.
Nicolosi ainda afirma que Werner Heisenberg enunciou com Majorana o princípio da incerteza. O jornalista não informou de onde tirou essa informação falsa. Quando Heisenberg anunciou o seu princípio, por volta de 1925, Majorana ainda era aluno de engenharia na Universidade de Roma. Nicolosi deve estar fazendo confusão com os trabalhos sobre a interação de troca, que Heisenberg e Majorana publicaram entre 1932 e 1933, e que foi objeto de artigo que publiquei na Revista Brasileira de ensino de Física.
Em junho de 1964, a revista Epoca publica o artigo Quem viu o gênio sem rosto?, de Pietro Zullino, com inúmeras imprecisões factuais, como por exemplo, que os “familiares pensam que Ettore foi raptado e que ele está trabalhando agora, sob vigilância, em alguma usina nuclear atrás da cortina [de ferro]”. Segundo Zullino, a frase de Fermi, Com a sua inteligência, uma vez que tivesse decidido desaparecer ou fazer desaparecer o seu cadáver, Majorana certamente teria conseguido, teria sido dirigida a Carrelli, quando “muitos anos depois […] tiveram a oportunidade de se conhecer”. Zullino também informa que Ettore era filho de Quirino Majorana, seu tio. Na verdade, o pai de Ettore era Fabio Majorana, irmão de Quirino.
De acordo com Antonino Zichichi, Professor Emérito de Física Avançada na Universidade de Bolonha, a frase de Fermi que teria sido dirigida a Carrelli, foi de fato dirigida à sua esposa, Laura Fermi. Além disso, Fermi e Carrelli já se conheciam desde o início dos anos 1930, e foram membros da banca do famoso concurso de 1937.
Majorana previu a bomba atômica?
Talvez a mais controversa hipótese a respeito do suicídio de Majorana seja aquela elaborada por Sciascia, segundo a qual ele havia previsto a fabricação da bomba atômica, e em desespero resolveu dar fim à sua vida. Na época do lançamento do livro de Sciascia, essa hipótese foi vigorosamente combatida pelos físicos, uma vez que a fabricação de um artefato nuclear só começou a ser imaginada após a descoberta da fissão nuclear, em dezembro de 1938. Para os físicos de primeira linha, antes da descoberta de Otto Hahn e Fritz Strassmann seria impossível imaginar que uma bomba atômica pudesse ser construída. Mas, para um gênio como Majorana, seria impossível? Zichichi acha que não! Ele acha que, para um gênio como Majorana, prever o fenômeno não seria impossível. Não há qualquer documentação que sustente a hipótese, mas é possível fazer uma especulação.
Em 1934, Fermi e alguns dos seus colaboradores bombardearam urânio com nêutrons. Interpretaram os resultados equivocadamente, pensando terem produzido um elemento químico transurânico, ou seja, com mais prótons do que os 92 do urânio. Logo depois, a química alemã Ida Noddack publicou um pequeno artigo contestando a interpretação da equipe romana. Para ela, o resultado deveria ser a produção de dois ou mais elementos mais leves. Ninguém a levou a sério, até que, quatro anos depois, Hahn e Strassmann mostraram que ela estava correta. Fermi e seus colegas não perceberam que haviam obtido a fissão nuclear. Hahn e Strassmann mostraram que o urânio se dividia em dois elementos mais leves: o criptônio (36 prótons) e o bário (56 prótons).
Podemos detalhar a especulação de Sciascia. E se Majorana tivesse seguido a opinião de Ida Noddack e avaliado diversas alternativas para a produção de elementos mais leves na reação conduzida por Fermi e colaboradores? Ele poderia ter restrito sua busca a apenas dois elementos cuja soma de prótons fosse igual a 92. Não vou tentar fazer esse hercúleo trabalho. Certamente, calculista genial que era, Majorana faria isso com facilidade. Imaginemos que por alguma razão que só a um gênio faz sentido, Majorana tenha chegado ao criptônio e ao bário. A contabilidade da carga nuclear fechava, 36+56=92. Ou seja, a quantidade de prótons antes e depois do bombardeamento era a mesma, mas a quantidade total de nêutrons no interior dos núcleos era diferente. Ou seja, os 144 nêutrons do bário, somados aos 89 do criptônio totalizavam 233. No entanto, no início da reação havia 236 nêutrons, 235 do urânio e o nêutron incidente. Portanto, para cada nêutron bombardeando o urânio, o resultado era a disponibilização de 3 nêutrons livres para produzir novas reações. Era a reação em cadeia que resultaria na bomba!
Se Majorana seguiu esse raciocínio ninguém sabe. E se escreveu algo sobre isso, deve ter destruído, como era do seu costume; misantropo e sombrio como aparentava, deve ter dado à sua vida o mesmo destino.
Majorana na Argentina?
Nas mãos de um bom roteirista, essa história poderia ir para as telas do cinema, com a seguinte nota na abertura: “Obra de ficção baseada em boatos reais”.
Além de saborosa, a história tem por trás personagens reais e relevantes, como a fonte primordial da história, Carlos Rivera, professor de física da Universidade Católica de Santiago (UCS), Frances Talbert, proprietária de uma pousada em Buenos Aires e seu filho Tullio Magliotti, engenheiro eletricista. Entre a fonte e o transmissor primordial da história, Gino Gullace, jornalista do semanário Oggi, emergem dois físicos israelenses, Yuval Neeman e Robert Yehuda Meinhardt, um conhecido físico teórico italiano, Tullio Regge, e o renomado físico teórico estadunidense, John Archibald Wheeler. Combustível de alta octanagem.
Essa é a sinopse. Agora vamos aos fatos e boatos dessa história sem fim.
Tudo começou em 1950, quando o professor Carlos Rivera visitou Buenos Aires em companha de sua esposa, ficando hospedado na pensão da Senhora Frances Talbert, amiga de sua mãe. Nas suas anotações sobre física estatística, Rivera escrevera o nome de Majorana, em letras garrafais. Quando a Sra. Talbert viu aquele nome, disse:
Este é o nome de um famoso físico italiano, amigo do meu filho. Ele agora está mais interessado em engenharia. Ele saiu da Itália porque não gostava de Enrico Fermi, e nem queria ouvir falar nele. Essa aversão, disse Tullio, era porque Fermi era um cara difícil e, também por ter desempenhado um papel importante na construção da bomba atômica.
A conversa foi interrompida para a Sra. Talbert atender um telefonema do filho. Depois ela não retornou para continuar a conversa. Rivera não fez contato com Tullio Magliotti porque no dia seguinte embarcou para a Alemanha.
Em 1954, Rivera voltou a Buenos Aires e foi até à casa da Sra. Talbert, mas a encontrou fechada com pregos. Os vizinhos disseram que ela e seu filho haviam repetina e misteriosamente desaparecido. Antiperonista que eram, poderiam ter sido eliminados pela polícia peronista. No cadastro de engenheiros não havia o nome de Magliotti.
Em 1960, Rivera voltou a Buenos Aires pela terceira vez, hospedando-se no Hotel Continental. Em determinado momento, enquanto tomava um café, começou a escrever fórmulas em um guardanapo. Um garçom aproximou-se e disse:
Conheço outro homem com mania de colocar fórmulas em guardanapos de papel, como você. É um cliente que vem de vez em quando só para comer ou tomar um café, e seu nome é Ettore Majorana. Este homem é um físico muito importante que fugiu da Itália há muitos anos.
Esta conversa convenceu Rivera de que Majorana estava na Argentina, mas, em 1978, quando ele narrou essa história para o jornalista Gullace, ele não sabia o nome do garçom, e nem este, na época, sabia onde encontrar Majorana.
Recami tomou conhecimento dessa história no artigo de Gullace, publicado no semanário Oggi, em 14 de outubro de 1978. Fora informado pelo físico italiano Remo Ruffini, antes da publicação, e anotou duas inconsistências na narrativa de Rivera:
a) A verdadeira motivação para a fuga de Ettore da Itália não poderia ter sido sua suposta antipatia por Fermi. Se fosse isso, Ettore poderia ter voltado para casa quando Fermi fugiu para os EUA, logo depois que recebeu o prêmio Nobel em Estocolmo, em dezembro de 1938.
b) Em março de 1938 Ettore não poderia saber que Fermi contribuiria para a fabricação da bomba atômica, fato que ocorreu depois de 1940.
No dia 9 de outubro daquele ano, Recami escreveu para Rivera pedindo confirmação da história publicada por Gullace. Nove dias depois Rivera envia-lhe carta confirmando a história. O enredo estava ficando complicado, principalmente em função dos itens (a) e (b). Seria possível confiar em Rivera, apesar de sua destacada posição acadêmica, como diretor do Instituto de Física da UCS? No seu artigo, Gullace menciona quem sabia da história, além de Rivera: um conhecido físico italiano e um cientista israelense que ele denomina Sr. YI. Quem seriam essas pessoas?
Por intermédio de Ruffini, Recami soube que Tullio Regge, famoso físico teórico italiano também conhecia a história. Consultado por Recami, Regge responde, em 28 de novembro:
Caro Recami (…)
O “colega” de Tel Aviv “São dois”. Um deles é Yuval Neeman, que me contou uma versão imprecisa, mas que me deixou em alerta. Y. N. soube disso em uma festa no Texas com Wheeler (…), [que por sua vez] soube disso em Varenna (eu acho) com Robert Yehuda Meinhardt, agora israelense, mas de origem chilena. R.Y.M. me disse pessoalmente, enquanto eu estava em Tel Aviv, que Carlos Rivera, professor no Chile na Universidade Católica, teve uma experiência na Argentina semelhante à que apareceu mais tarde no jornal Oggi. Por acaso eu estava indo para o Chile logo em seguida e fiz questão de conversar com Rivera, que é a pessoa chave na coisa toda. Os demais apenas relataram histórias mais ou menos imprecisas do que aquela de Rivera, publicada posteriormente em Oggi sem alterações, eu diria. Rivera me confirmou toda a história do encontro em Buenos Aires com a mãe de Tullio Magliotti (Sra. Talbert), segundo quem seu filho era amigo de um certo Majorana, físico, que escrevia fórmulas e que tinha grande antipatia por Fermi (cito de memória) e que por isso deixou a Itália. O mais estranho é que Rivera também conta que conheceu um chef do Hotel (Continental?) que lhe contou mais ou menos uma história parecida.
O que dizer? Rivera certamente não parece um mitômano, ele é um respeitado professor da Católica, educado em Göttingen, de vasta cultura e não parece ser do tipo que conta mentiras. Aconselho a senhorita Majorana9 a contatar C. Rivera diretamente na Católica de Santiago, Departamento de Física… Não sei mais nada. Rivera me impressionou porque é obviamente hostil a Fermi e atribui hostilidade a F. por parte de Majorana.
Rivera tem uma teoria:
1) E. Majorana estava realmente em Buenos Aires naquela época.
2) É fato que Magliotti era antiperonista e que muitas pessoas desapareceram, sequestradas e assassinadas pela polícia de Perón. Segundo ele, Magliotti acabou assim, como a mãe. Segundo Rivera, não há mais vestígios dos dois. T. M. era engenheiro.
3) E. Majorana também estaria envolvido nos assuntos políticos de T.M. e teria (?) tido o mesmo fim.
Eu relatei essas coisas por completo e não assumo responsabilidade por elas. Seria melhor você conversar com Rivera e/ou designar alguém para realizar discretamente investigações sérias em Buenos Aires. – Atenciosamente, T. Regge.
O item (3) da teoria de Rivera não se sustenta. Ele conheceu o garçom em 1960, cinco anos depois do final da ditadura peronista, que durou de 1946 a 1955. Não é crível que Majorana tenha sido vítima da polícia peronista.
No mesmo dia da carta de Regge, Rivera escreveu para Maria Majorana:
Santiago, 28 de novembro de 1978 – Muito estimada e respeitada senhora María Mayorana10: (…) – Não desejo de forma alguma voltar a ter contato com o jornalista Gullace, nem farei qualquer declaração pública. – Infelizmente, já que tanto tempo se passou, não me lembro de nenhum outro detalhe sobre a Sra. Talbert, nem a aparência ou rosto do garçom do Hotel Continental em Buenos Aires. – Na minha opinião, o terror que a senhora Talbert demonstrou deveu-se a uma terrível perseguição a que foi submetida por Perón, e tenho quase certeza de que seu filho morreu vítima da perseguição. Não é muito improvável que o Dr. Ettore Mayorana tenha escapado à perseguição peronista, e eu pessoalmente não tenho conhecimento do seu destino posterior (ele regressou à Itália?)11. Por favor, perdoe-me se não consigo aliviar sua ansiedade, pois devido aos muitos anos que se passaram não posso lhe fornecer mais detalhes. Mas, surge uma dúvida, se algum inominável se fez passar pelo grande físico Ettore Mayorana, fingindo ser seu irmão para aproveitar seu grande prestígio. Essas coisas às vezes acontecem na história quando não são conhecidas as verdadeiras causas de um desaparecimento. Esta hipótese de que o nome era falso é provavelmente a mais plausível. A senhora Talbert era de idade avançada (era amiga de minha mãe, que a conhecera numa viagem da França à Argentina); ela tinha plena certeza de que era Ettore Mayorana, por quem ela tinha muito carinho (…) Se eu soubesse que Ettore tinha uma irmã, teria escrito diretamente para você, sem tornar nada público. – Com muito carinho, – Carlos Rivera.
A essa altura, final de 1978, essa história de Majorana na Argentina era confusa e sem fim, até que, em 20 de outubro de 1980, Yuval Neeman escreve para Recami:
Caro Erasmo:
(…) Meu interesse por Majorana foi despertado inicialmente por conversas com o falecido Racah12, que me contou sobre a tragédia. Em 1975, tomei conhecimento do interesse renovado na Itália após o romance de Shasha13 (sei que esta não é a grafia correta, mas não a tenho diante de mim, então escrevo o nome foneticamente.). Também li os artigos de Amaldi respondendo a Shasha, etc.
Sou responsável pelo renascimento da versão argentina. Wheeler primeiro ouviu isso de Meinhardt (um físico judeu chileno que, entretanto, havia migrado para Israel) em Varenna em 1977, mas confundiu Carlos Rivera com Saavedra. Percebendo a importância e o frescor do assunto na Itália, contei isso a Regge, que mandou alguém ligar para Saavedra em Santiago. Saavedra disse que não foi ele. Procurei Meinhardt em Israel e fiz com que ele conhecesse Tullio [Regge] quando Tullio me visitou lá em maio de 1978. Tullio foi de Tel Aviv para o Chile e conseguiu os detalhes com Carlos Rivera. Quando lhe escrevi, fiz isso depois que Túlio me contou que lhe havia relatado tudo e queria obter os resultados precisos de suas investigações.
(…)
Tentarei descobrir se a família judia, mencionada por Rivera como tendo estado em contato com Majorana na época, não acabou em Israel. Se eu descobrir alguma coisa, certamente lhe farei saber (e a Srta. Majorana) imediatamente. Com os melhores cumprimentos. Atenciosamente, Yuval
Essa história ficou adormecida durante trinta anos, até que, em 17 de outubro de 2010, a edição dominical do jornal La Republica publicou uma controvertida fotografia, na qual aparece Adolf Eichmann ao lado de um homem que foi identificado como sendo Ettore Majorana.
No estudo antropométrico da fotografia publicada pela revista, todas as medidas obtidas com as fotografias do jovem Majorana, distância entre olhos, nariz, boca e queixo, são iguais àquelas do homem que aparece ao lado de Eichmann. A revista consultou Giorgio Dragoni, professor de história da física da Universidade de Bolonha, e autor de alguns artigos sobre Quirino e Ettore Majorana, que admitiu que o homem poderia ser Ettore. Consta na reportagem que se trata de uma fotografia de 14 de julho de 1950, obtida no vapor Giovanna C, que partira de Gênova algumas semanas antes.
As datas são consistentes com a história de Rivera, mas os elementos factuais conhecidos não sustentam a história. Mesmo assim, como a alimentação do mito é uma preferência nacional, não importa o país, a imprensa italiana se esbaldou nesse particular.
Na matéria de La Republica, Luca Fraioli e Miriam Mafai apresentam ótimos levantamentos do que se sabe sobre Majorana, a partir de fontes primárias, como Edoardo Amaldi, que conviveu com Majorana na Universidade de Roma, e o já citado Giorgio Dragoni. Praticamente tudo que consta no La Republica já foi abordado na literatura acadêmica reconhecida. Por exemplo, Fraioli enfatiza a hipótese de Sciascia, segundo a qual entre 1934 e março de 1938 Majorana teria previsto a fissão nuclear, descoberta em dezembro daquele ano, e que viabilizou a fabricação da bomba atômica.
Outra teoria que circulou logo depois do desaparecimento tem a ver com a fotografia apresentada na Figura 2. Segundo essa teoria, Majorana teria fugido para a Alemanha para colaborar no projeto da bomba atômica de Hitler. Essa teoria jamais obteve qualquer credibilidade. O projeto nuclear alemão era coordenado por Heisenberg, que contava com a colaboração de eminentes cientistas alemães, dois dos quais ganhadores do prêmio Nobel, como Heisenberg, agraciado em 1932. Entre os cientistas destacam-se Max von Laue (prêmio Nobel de Física, PNF 1914), Otto Hahn (prêmio Nobel de Química, PNQ 1944), Walther Gerlach, Carl Friedrich von Weizsäcker, Paul Hartek, Karl Wirtz, Eric Bagge, Horst Korsching e Kurt Diebner. Esses cientistas, excetuando Heisenberg, que conseguiu fugir, foram aprisionados e espionados pelos aliados, por meio da Operação Alsos.14
Ficaram em Farm Hall, entre 3 de julho de 1945 e 3 de janeiro de 1946, sob a guarda do major britânico T. H. Rittner. A casa estava cheia de microfones escondidos, de modo que os aliados, exceto os russos, podiam ouvir praticamente todas as conversas entre os prisioneiros. Os aliados queriam saber o quão perto os alemães estiveram da bomba atômico. Em momento algum foi mencionado o nome de Majorana, e depois da guerra, jamais Heisenberg mencionou Majorana como membro do grupo alemão que trabalhava na fabricação da bomba.
Enfim, como toda a história decorrente do desaparecimento de Majorana, sua permanência na Argentina se esvai como pó de areia em tempo de ventania.
Epílogo
A análise da complexa e enigmática persona de Ettore Majorana, no sentido junguiano, não cabe no presente ensaio, razão pela qual esse aspecto de sua biografia deverá ser abordado em outra oportunidade. Todavia, é importante aqui, a título de epílogo, destacar alguns elementos aderentes ao tema do seu desaparecimento/suicídio.
Nos trinta e um anos e oito meses de sua existência, Majorana mostrou, inúmeras vezes, sua extraordinária capacidade cognitiva e impressionante talento para a execução de complexas operações matemáticas. Não foi por acaso, que certa vez Enrico Fermi chegou a dizer que há três categorias de cientista: aqueles de segunda e terceira categoria, que fazem o que podem, mas não chegam muito longe, e os de primeira categoria que chegam a descobertas de grande importância, fundamentais para o desenvolvimento da ciência. Além disso, porém, há os gênios, como Galileu e Newton. Majorana era um deles.
Ao lado dessa genialidade, sua aparente misantropia fez dele um pensador solitário. Jamais precisou que alguém o orientasse na atividade científica, nem mesmo Fermi, que cumpriu uma simples formalidade na elaboração da sua tese de doutorado. Era sempre ele que apontava soluções para problemas de sua época e adiantava algumas para o futuro. Na física contemporânea busca-se a detecção daquilo que ficou conhecido como neutrino de Majorana, previsto por ele nos artigos de 1932 e 1937.
Antes mesmo de concluir seu doutorado, publicou, com seu grande amigo Geovani Gentile Junior, o artigo Sobre a duplicação dos termos Roentgen e ópticos devido à rotação do elétron e sobre a intensidade das linhas de Césio. Acredita-se que ele participou desse trabalho tão somente para ajudar o amigo a resolver algumas dificuldades no tratamento do problema. Depois da sua tese, ele publicou, sempre sozinho, quatro artigos em 1931, dois em 1932, um em 193315 e outro em 1937. Uma análise bibliométrica desses oito trabalhos sugere claramente que se continuasse vivo e ativo na pesquisa, Majorana seria indicado algumas vezes, e provavelmente ganharia o Prêmio Nobel de Física.
Por quê, com esse histórico, Ettore Majorana decidiu “evaporar-se”? Jamais alguém conseguiu decifrar o mistério. Nem o porquê, nem o como. Mais uma vez, foi Fermi quem melhor sintetizou a tragédia: inteligente como era, Majorana daria um jeito de desaparecer sem deixar vestígios.
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Carlos Alberto dos Santos é professor aposentado pelo Instituto de Física da UFRGS. Foi Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da UNILA e pesquisador visitante sênior do Instituto Mercosul de Estudos Avançados. Premiado com o Jabuti em 2016 (3º. Lugar na categoria Ciências da Natureza, Matemática e Meio Ambiente), com o livro Energia e Matéria: da fundamentação conceitual às aplicações tecnológicas (Livraria da Física, 2015).
[Este ensaio é baseado no livro do autor, Majorana: o oráculo da física contemporânea (Editora Livraria da Física, 2024, no prelo).]
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- Enrico Fermi foi um dos principais cientistas do projeto Manhattan. ↩︎
- Diferentemente da legislação nas universidades estaduais de São Paulo, na Europa daquela época o título de Livre Docente não tinha vínculo com cargo universitário. O título permitia apenas que o possuidor pudesse ministrar cursos livres, sem qualquer vínculo curricular. ↩︎
- Somando-se a esse total o dinheiro que Majorana tinha em sua conta no banco de Roma, ele deve ter levado consigo pelo menos 10-15 mil liras na época, o que corresponde a mais dez milhões de liras da época um pouco antes do euro. ↩︎
- O navio a vapor Palermo-Nápoles também prestava serviços postais. ↩︎
- Essa informação foi confirmada pela administração da Tirrenia, que tinha sob sua guarda o canhoto da passagem. ↩︎
- Umberto Bartocci, ex-professor de geometria e de história da matemática no Departamento de Matemática e Informática da Universidade de Perugia, é autor do livro Albert Einstein e Olinto de Pretto – la vera storia della formula più famosa del mondo (1999), a partir do qual escrevi a novela O plágio de Einstein (2003). ↩︎
- http://www.cartesio-episteme.net/ep8/majoranologia.htm. ↩︎
- Havia uma hipótese delirante de que ele tivesse sido sequestrado, pelos russos ou pelos nazistas, para desenvolver a bomba atômica. ↩︎
- Regge refere-se a Maria Majorana, irmã de Ettore, que também andou investigando essa história de seu irmão na Argentina, e havia escrito para Rivera. ↩︎
- Em castelhano, o j costuma ser substituído pelo y. E na Itália, alguns jornalistas substituíam o j pelo i. ↩︎
- Falando com a irmã de Ettore, talvez por delicadeza, Rivera aqui abandona o ponto 3) de sua teoria, referido por Regge. Talvez por delicadeza, Rivera agora expõe uma teoria diferente [Nota de Recami]. ↩︎
- Giulio Racah, físico ítalo-israelense, que participou do controvertido concurso para professor em 1937, mencionado acima e que será objeto de discussão em outro ensaio. ↩︎
- Yuval referia-se a Sciascia. ↩︎
- Esse evento foi discutido aqui, em ensaio anterior: https://estadodaarte.estadao.com.br/ciencias/contexto-cientifico-copenhagen-02/.
↩︎ - Esse de 1933, Sobre a teoria do núcleo, foi publicado na Zeitschrift für Physik e na La Ricerca Scientifica. ↩︎
Bibliografia
(É extensa a literatura sobre Majorana. Aqui estão apenas os livros mais citados, e um artigo do autor)
a. Amaldi, E. Ettore Majorana: Man and Scientist. in Strong and Weak Interactions. Present problems (ed. Zichichi, A.) (Academic Press, New York, 1966).
b. Sciascia, L. Majorana Desapareceu. (Rocco, Rio de Janeiro, 1991).
c. Recami, E. Il Caso Majorana. (Oscar Mondadori, Roma, 1991).
d. Magueijo, J. A Brilliant Darkness. (Basic Books, New York, 2009).
e. Klein, E. En Cherchant Majorana: Le Physicien Absolu. (Flammarion, Paris, 2013).
f. dos Santos, C. A. Majorana, Heisenberg, a interação de troca e o méson de Yukawa: o berço da interação forte. Revista Brasileira de Ensino de Física Aceito, (2024).
g. Zichichi, A. Ettore Majorana: genius and mystery. in International Europhysics Conference on High Energy Physics (ed. B. Gaspar) 46 (European Physical Society, Lisboa, 2005).