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No Estado da Arte, dois poemas de Caio Gagliardi — poemas que fazem parte de Caroço, sua coletânea.
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O corpo
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I
É tarde.
O riso do vento o aplaude com escárnio.
A seu modo, estendido braço
(porém quedo, sem alarde)
agradece,
pousando o gesto no chão do jardim.
Partido, modesto, chega ao fim
um galho seco e desgrenhado.
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II
Ressequido galho,
desconsolado,
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vai sugando humo,
fazendo sumo,
derramando sombra
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— assim o corpo.
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Os punhos dos anos
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A velha troça dos deuses ainda respira em ti
e as folhas que caem mortas escondem o chão em que pisamos.
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A hora é trêmula e a culpa enorme.
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Descerremos aqui mesmo, neste espaço confinado,
os punhos dos anos.
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Acima das palavras mudas
jogadas ao pé da cama
a noite exercita o velho hábito de farejar intenções.
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Do solo em que nos ajoelhamos
resta a lama.
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Toda a realidade se revela em gigantescas frações:
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Esta é a carne que palpita em desacordo com a luz.
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Eis o homem devorado pelo homem.
A aflição de séculos
curtida na indiferença dos dias —
numa alegria que estivesse sempre de partida.
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Que perguntas nos conduzirão daqui?
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Os rudimentos dos dias põem à prova, agora,
o nosso amor.
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