A redescoberta de um clássico improvável

Por João Villaverde, uma redescoberta: uma resenha de um clássico improvável de um autor improvável — e um exercício de história e de imaginação moral.

por João Villaverde

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Você conhece um Zebedeu. Todos conhecemos ao menos um. No caso deste resenhista, diversos foram os Zebedeus que conheci na zona norte de São Paulo, onde passei minha infância, mas também em Brasília, onde trabalhei por muitos anos, e mesmo no exterior, quando lá vivi.

Zebedeu é aquele tipo lépido, maneiroso, servil, que agrada a todos, a despeito de estar sempre envolvido em alguma pilantragem, sempre pronto a criar uma discórdia. É, portanto, aquela flor que precisa sempre ser molhada (se possível com notas e moedas) para não murchar e morrer. Resumidamente, Zebedeu tem “cara de edital ou de reconhecimento de firma”.

Esta é uma das grandes personagens entre tantas grandes personagens que vivem no Brejal dos Guajas, interior do Maranhão, anos 1940. Fazem parte do primeiro conto, que abre Norte das Águas, livro do escritor José Sarney que completa cinquenta anos de lançamento neste 2020.

Você não leu errado. José Sarney.

O político conservador que comandou o Maranhão direta ou indiretamente (por meio de aliados, como Edison Lobão e Epitácio Cafeteira, ou com a própria filha, Roseana Sarney) por cinco décadas seguidas, entre 1965 e 2014. O mais longevo parlamentar federal da República brasileira, que fora deputado federal quando a sede do país ainda era o Rio de Janeiro. Que presidiu o Senado, em Brasília, três vezes. Um dos alvos do escândalo dos “atos secretos” do Senado em 2009. O mesmo José Sarney que foi o primeiro presidente civil da República depois de 21 anos de ditadura militar. Ele mesmo.

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O improvável autor em sua terra

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O leitor cá desta resenha que conseguir separar a obra literária do autor estará apto a desfrutar das linhas que se seguem. Se for muito difícil fazer isso, eu entendo. Neste caso, melhor, então, seria parar por aqui. Agora se você, leitor, estiver no meio do caminho, disposto a ver no que vai dar esta resenha, peço um curto exercício mental antes de seguirmos adiante.

Pense em Jorge Amado, nosso grande escritor baiano e um dos maiores de toda a história. Ele foi um militante comunista convicto, de linha stalinista, chegando a dedicar livros geniais, como Terras do Sem Fim (1943), a soviéticos. Filiado ao partido, foi eleito deputado federal, inclusive, em 1945. Sua obra não era menor (nem maior) por conta de sua militância e sua ação política (que, afinal, terminou em 1955, antes dele escrever Gabriela, Cravo e Canela).

Agora, pense no que dizia Ricardo Ramos, filho do velho Graciliano: ele só vira seu pai chorar duas vezes, sendo a primeira quando um irmão de Ricardo morrera e a segunda quando o ditador soviético Josef Stalin falecera.[1] Graciliano era filiado ao partido e comandara a associação de escritores comunistas no Brasil. Novamente, a militância e a ação política não tornou inferior a obra de Graciliano.  Ele era um gênio, provavelmente o maior escritor da história brasileira. Por fim, pense que Rachel de Queiroz, nossa grande escritora cearense, apoiou entusiasticamente o golpe de 1964 – e esta lamentável decisão política não turvou a leitura retrospectiva de sua obra, muito menos diminuiu tudo o que ela produziu depois daquela data.

Sim, eu sei. Amado, Graciliano e Rachel eram “escritores-políticos”, isto é, eram escritores muito antes de terem qualquer militância ou ação política. Já Sarney sempre foi um “político-escritor”, ou seja, predominantemente um político. Aliás, vale lembrar o que sempre dizia Jorge Amado sobre o maranhense, lamentando que o político José Sarney reduzia dramaticamente o tempo disponível para o escritor José Sarney criar mais obras.

Sem embargo, então voltamos ao ponto. Cá estamos para falar de um livro, no caso específico Norte das Águas, de Sarney. Estamos combinados, então? Vamos adiante.

O livro contempla oito contos, sendo que em três há relação de continuidade entre alguns personagens — os outros cinco se encerram por conta própria. Eles têm em comum, todos os oito contos, o cenário (interior do Maranhão), o tempo (as histórias se passam entre o começo do século passado e os anos 1940) e, consequentemente, os usos e costumes daquela gente.

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‘Arredores de cidade’, Giuseppe Leone Righini, 1862

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São homens e mulheres brutos, que vivem em intensa pobreza, mas estão envoltos naquelas noites frias do sertão vazio e dos dias quentes, empoeirados e secos, com sol à pino. Bebem tiquira (uma cachaça local, feita de mandioca, comum até hoje), comem arroz de cuchá, legumes e farinha. Vivem ao redor de feiras e mercadinhos rurais, fazem tocaia e cantorias. Há um misto de crença religiosa e de desespero surdo. A música, presente em todos os contos, começa com as ladainhas e se encerra com as festas populares. A violência é naturalizada.

A prosa de Sarney é envolvente, sem deixar de delimitar aquele território e a rotina das pessoas retratadas:

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Agora tudo estava seco e as raízes das barrigudas descobertas nas barrancas. Nas baixas era somente a torroada escalada em brechas arrebentadas pelo sol, guardando as marcas dos cascos de boi e vaca, cavalos e porcos, ressequidos, os últimos que pisaram no transporte do fim do inverno. O coronel viajava bem montado. Espantando os carapanãs que voavam em nuvens acompanhando a marcha, marcha de dois miúdos da burrinha estimada. Atrás, Zacarias, mascando sempre, no trote largo do chotão com a mão metida no cabeçote, de quando em vez roçando o cabo do 38 duplo, com uma cruz cortada, feita por mão de mestre, o curandeiro Agostinho que a benzeu: arma assim não falha e não erra. Manuel Pipira estava terminando a ensacagem de dois lotes de babaçu quando a comitiva apontou na curva da estada que vinha da Abelha. O sigilo fora mantido e ele a ninguém falara daquela anunciada visita. Exceto à mulher, que mandara cozinhar um capão gordo, bem ensopado, o arroz com folhas de louro e urucu para obsequiar o Coronel Né Guiné.[2]

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No conto inaugural, Brejal dos Guajas, de onde retirei o trecho acima, o roteiro é a política: dois coronéis disputam o poder político daquele território, tendo seus asseclas e familiares como participantes. Um dos coronéis é de movimentos sutis, desde a forma de se vestir até o tom de voz, baixa e pausada. O outro é direto, barulhento e dado a manifestações explícitas de força. As mentiras correm soltas, com Zebedeu (olha ele aí) servindo de disseminador mor pelo lado do primeiro coronel (o Coronel Francelino) enquanto Zacarias desempenha o mesmo papel para o rival, o Coronel Né Guiné. De um lado, a malandragem pura de Zebedeu; de outro, o dedo de Zacarias sempre no gatilho da espingarda.

Entendo, como leitor cuidadoso da obra de Sarney, que a opção do escritor por abrir seu livro de contos com um tema de luta política (diferente do que ocorrerá com os contos seguintes) pode ter uma explicação psicológica, mas o paralelo não é direto, por mais que uma leitura apressada sugira isso. Sarney cresceu no interior maranhense, em Pinheiro, justamente nos tempos dos coronéis, em que a violência política explícita era normal, sendo, portanto, parte da paisagem daquele território. O coronel de movimentos sutis, com voz baixa e pausada, pode ser autobiográfico? Pode, mas minha leitura é que seria, neste caso, uma projeção de expectativa, de inevitabilidade, mas não um paralelo perfeito com o presente de então. É importante ter em mente que esses contos foram escritos no fim dos anos 1960, quando Sarney representava o “novo”. Fazia parte da chamada “Bossa Nova da UDN” e não era associado, nem de longe, ao antigo coronelismo. Portanto, não cabe aqui um paralelo simples.

Bem, não darei spoilers quanto ao arremate que encerra o conto inaugural. Mas o final é muito bem resolvido. E Zebedeu consegue arrancar boas risadas de quem encara o conto.

As mulheres em Norte das Águas só ganharão proeminência narrativa nos contos seguintes, em especial a jovem Merícia, moradora do rancho Cajazeiras, próximo ao riacho do Bem-Querer. Filha de um fazendeiro típico, presa àquela localidade patriarcal e iletrada, ela sonha com o mundo:

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Merícia estava ali, olhando do varandão a comida dos empregados. Seu rosto não era bonito, mas sugeria gosto e desejo. Seria que o mundo fosse aquilo? Perguntava a si mesma. As Cajazeiras, com os carros de bois, as tropas de burro, o cheiro do babaçu? Seria o mundo? E a voz do pai, os olhos do pai, as leis do pai, seriam as leis que governavam o mundo? Deviam ser, mas o coração reagia. Havia dentro uma força, um calor mais forte que o dos montes de amêndoas de babaçu, e, como nos paióis, quanto mais no fundo mais quentes.[3]

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A ação culmina quando Merícia decide romper com a fazenda e aproveita uma viagem do pai (que dizia que mulher só pode sair de casa para batizar, casar ou enterrar) para fugir daquilo. O final é trágico.

O trio de contos que se relacionam (Os Boastardes, Os Bonsdias, Os Boasnoites), aliás, também têm final trágico. Mesmo aquele feito para rir (Os Bonsdias). Mas é no primeiro deles (Os Boastardes) que a personagem feminina mais forte da obra surge, Rita Nanica, que vinga a grávida assassinada pelo bando que tocava o terror e depois ainda vai corajosamente formar uma família avant garde.

O livro se encerra com um conto sobre dois padres que são promovidos do interior a São Luís e estão de partida da pequena São José. Um, o padre Geraldo, é o homem simples, que toma dinheiro emprestado da Dona Bolota e, sem conseguir pagar, dá sua batina nova como garantia; o outro é o padre Adriano, cínico e arrogante, cheio de tiques e com claro desprezo por aquela localidade. Este último conto é uma história curta, mas carregada no humor sutil, que ainda hoje é capaz de arrancar sorrisos do leitor.

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O livro em sua época

Quando Norte das Águas foi lançado, 50 anos atrás, o autor tinha acabado de deixar o governo do Maranhão. Fora o último eleito democraticamente, pelo voto direto, nas eleições estaduais de 1965 (imediatamente depois daquele pleito relativamente livre, o general-presidente Castelo Branco baixou o AI-2, extinguindo os partidos políticos e fechando ainda mais o regime — eleições diretas para governador, tal como aquela de 65, só voltariam em 1982).

Quando tomou posse no Palácio dos Leões, em São Luís, no início de 1966, Sarney teve a cerimônia filmada por Glauber Rocha. As imagens realistas do genial diretor vêm sempre à mente quando da leitura de Norte das Águas, aliás. Muitas mulheres, crianças e homens registrados na zona rural maranhense por Glauber parecem personagens que ganhariam vida no livro. Você, leitora e leitor cá desta resenha, pode matar a curiosidade facilmente: o documentário Maranhão ’66, de Glauber sobre o Maranhão quando do início da dinastia Sarney, está disponível no YouTube, na íntegra.

Pois José Sarney governa o Maranhão entre 1966 e maio de 1970, quando renuncia ao cargo para concorrer ao Senado Federal. É neste contexto que Norte das Águas é lançado, unindo contos que o autor tinha escrito alguns meses antes, mas que até aquele momento não tinham sido publicados.

Este Norte das Águas recebeu diversas resenhas. Ainda à quente, o grande Jorge Amado contou ter gostado muito da obra, segundo ele “a revelação de um grande contista, de um grande ficcionista brasileiro”. O etnologista e antropólogo francês Claude Lévi-Strauss (autor do clássico Tristes Trópicos) foi intenso e peremptório: “amei e admirei o livro”.

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Maranhão 66 (Reprodução)
O livro depois que o autor virou presidente do país

Depois de Norte das Águas, José Sarney, como sabemos, adensou sua opção pela política. Estava na Arena, o partido de sustentação do regime militar, que depois se transformaria no PDS. Ele presidiria os dois: Arena e depois o PDS.

Alguns pontos são dignos de nota neste parêntesis, antes de nos despedirmos, leitora e leitor desta resenha. Vamos a eles: Sarney fora o único dos governadores que não enviou um telegrama a Costa e Silva parabenizando-o pelo AI-5 (baixado a 13/12/1968), momento em que a ditadura deixa de ser envergonhada e passa a ser escancarada, nos termos gasparianos. Dez anos mais tarde, já senador, Sarney seria o relator da emenda constitucional que acabou com o AI-5. Por fim, foi sua saída do PDS direto para a aliança liberal, no início dos anos 1980, que ajudou a selar o fracasso da candidatura de Paulo Maluf, que daria continuidade ao regime de exceção. Pode-se discutir o oportunismo daquele movimento, mas não resta dúvida que se aquele lance não ocorresse, as chances de uma chapa puro sangue da oposição contra o regime militar seriam muito menores.

Eleitos, Tancredo e Sarney terão seu destino selado na véspera da posse, quando o primeiro é internado às pressas em Brasília. Forçado pelas circunstâncias, Sarney toma posse como vice-presidente e imediatamente como presidente interino, enquanto Tancredo luta pela vida. O início da redemocratização é dramático e traumático: Tancredo falece sem nunca assumir, a 21 de abril de 1985, e Sarney passa a ser o presidente de fato.

Por cinco anos, Sarney ocupou a Presidência, tendo no meio do caminho a convocação da Assembleia Constituinte (que culminaria na Constituição de 1988), as eleições diretas de 1989, os planos econômicos para debelar a inflação (Cruzado, Cruzado II, Bresser, Verão), a reaproximação com a Argentina e o Uruguai (que desembocaria no Mercosul) e tantas outras subidas e descidas.

Tamanha exposição tornou enviesada a análise de sua obra literária pregressa — para o bem e para o mal. Havia aqueles que passaram a elogiar seus livros apenas como atalho para gozar de apreço presidencial. Por outro lado, a literatura de Sarney passou também a ser foco de crítica pesada, apenas como forma de atingir o presidente.

Foi neste contexto que Millôr Fernandes, por exemplo, desencavou Norte das Águas, mais particularmente o primeiro conto do livro (Brejal das Guajas), para resenhar no Jornal do Brasil. Era 1988 e Sarney, presidente da República, lutava apoiado pelo Centrão na Constituinte para assegurar cinco anos de mandato — e não quatro, como queriam parlamentares do PMDB e da esquerda. Foi com estes ventos que Millôr, com sua pena ferina, disse que “em qualquer país civilizado ‘Brejal dos Guajas’ seria motivo de impeachment”.

Os anos continuaram a passar e em 2001, quando a extinta editora Siciliano publicou a última edição de Norte das Águas, o escritor Marcelo Rubens Paiva escreveu na Folha uma rara crítica sobre a obra em si. Ainda que breve, o texto de Marcelo destaca o olhar “poético” e “surpreendente” de Sarney.

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O livro, 50 anos depois, à luz da pandemia

Chegamos, então, ao tempo presente. Cinco décadas depois do lançamento, como está Norte das Águas em nosso imaginário?

Este resenhista avalia que o distanciamento temporal é favorável à obra. Como ficou claro à leitora e ao leitor desta resenha, gosto muito deste livro. Reli recentemente, durante a pandemia, e gostei ainda mais de Norte das Águas.

No momento em que solto essas linhas, ainda vivemos a pandemia e o Brasil está diante do pior presidente de nossa história. Jair Bolsonaro faz Fernando Collor, Jânio Quadros e até Hermes da Fonseca parecerem estadistas.

Estes longos dias de interminável isolamento social, de reuniões por videoconferência e delivery de toda sorte de produto, tornaram aqueles tempos da literatura regionalista brasileira ainda mais distantes. Norte das Águas faz parte dos estertores da terceira e última geração regionalista brasileira. (Literatura regionalista foi a forma que paulistas e cariocas encontraram para chamar as obras que tratavam de realidades distantes à São Paulo e Rio; não gosto do termo, mas ele é sem dúvida útil como forma de organizar marcos temporais, até porque os autores de cada geração se influenciava entre si).

A primeira geração começa tão logo o Modernismo tinha se esgotado (o próprio Mário de Andrade assinalaria que o Modernismo, “como estado de espírito dominante e criador, durou pouco menos de dez anos, terminando em 1930 com as revoluções políticas e a pacificação literária”).[4] O grupo que inaugura o regionalismo em bases modernas[5] é liderado pelos paraibanos José Américo de Almeida (e seu A Bagaceira) e José Lins do Rêgo (com seu Meninos de Engenho), pela cearense Rachel de Queiroz (e seu O Quinze), imediatamente seguidos pelo alagoano Graciliano Ramos, o baiano Jorge Amado, o pernambucano Gilberto Freyre, o gaúcho Érico Veríssimo, entre outros.

A segunda geração vem cerca de vinte anos depois, nos anos de crescimento (e turbulência) do pós-Segunda Guerra, e envolve o florescimento de João Guimarães Rosa, da pequena Cordisburgo, interior de Minas, e de Ariano Suassuna, natural da Paraíba, mas radicado no Recife. A terceira geração, a última, é aquela do fim dos anos 1960, que envolve também os diretores do Cinema Novo e os músicos e artistas plásticos do Tropicalismo. Sarney faz parte desta, numa seara que também contava com seu conterrâneo Josué Montello, outro escritor maranhense de quem gosto muitíssimo.

Alvo principal desta resenha, Norte das Águas não é o único livro de José Sarney, mas este resenhista considera o melhor. Do autor li outros três: o irregular Marimbondos de Fogo, de poesia (que conta com poemas maravilhosos, como “Carrancas do Ribeirão” e “Sinos de São Pantaleão”, mas também com alguns mais fracos); O Dono do Mar, romance altivo (de que gostei muito, escrito como quem narra um sonho) e Galope à Beira-Mar, um misto de memórias em cordel (este último que me foi presenteado pelo amigo Matheus Hector e que li em julho).

Tivesse encerrado sua carreira política ao entregar a faixa presidencial em março de 1990, Sarney seguramente gozaria de menos antipatia hoje do que de fato suscita. Mas não. Tão logo deixou o Palácio do Planalto, Sarney decidiu mover o domicílio eleitoral para o Amapá e, por lá, seguiu no Senado até janeiro de 2015. Quando eu trabalhava como jornalista em Brasília (primeiro pelo Valor e depois pelo Estadão), Sarney lá estava, como senador.

Nas últimas eleições em seu estado original, o Maranhão, Sarney arregimentou uma chapa repetindo nomes (com Roseana novamente candidata ao governo e Edison Lobão como nome ao Senado). A ideia foi amplamente derrotada nas urnas: Flavio Dino foi reeleito governador e faz uma gestão merecidamente elogiada por praticamente todos os campos políticos.

Portanto, você, caro leitor, que respirou fundo e aceitou essa incursão pelos mares de um escritor pouco conhecido porque sua personalidade política tomou grandes proporções, digo que chegamos ao final desta resenha de um livro cinquentenário.

Como último ponto, cabe notar que Norte das Águas envelheceu bem. Ainda hoje intriga o leitor que se aventurar por suas 213 páginas. Proporciona uma boa viagem aos cheiros e gostos do Brasil profundo, do interior. O livro, ademais, merecia uma nova edição, bem trabalhada com fotografias, contexto histórico e um posfácio, dada que a mais recente só é encontrada em sebos. Fica a dica.

Se você, leitor, está entusiasmado com novas vozes do Nordeste (como Maria Valéria Rezende, Socorro Acioli, Franklin Carvalho e Itamar Vieira Júnior, este, autor de Torto Arado, um dos mais brilhantes livros da literatura brasileira contemporânea), eu tenho certeza que terá uma gostosa descoberta na literatura de José Sarney. Comece com Norte das Águas. Valerá a pena.

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(Reprodução: ABL/Estadão Conteúdo)

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Notas:

[1] AGUIAR, Josélia. Jorge Amado: Uma biografia. Página 345. São Paulo: Todavia.

[2] SARNEY, José. Norte das Águas, p. 53. São Paulo: Editora Siciliano.

[3] Idem, p. 145.

[4] ANDRADE, Mário de. “Modernismo”. In: O empalhador de passarinho. 2ª edição, São Paulo: Martins fontes, p. 186.

[5] Em “bases modernas” dado que na segunda metade do século XIX surgira o primeiro regionalismo brasileiro, mas de corte romântico. Deste fizeram parte escritores como José de Alencar e o Visconde de Taunay, por exemplo.

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 O autor agradece os comentários feitos à esta resenha pelos amigos Iuri Dantas, Renata Vieira e Gabriel Becher.

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P.S. Dedico essa resenha ao meu amigo Thiago Blumenthal. Você vive em nossas memórias, Thiago.

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