Bizâncio – O Império Romano do Oriente

Entrevista com Bruno Tadeu Salles e Renato Viana Boy. Por Marcelo Consentino.

Ouça o podcast:
Spotify
Deezer
Apple

Quando o Império Romano morreu? Se você pensou no século Vº, errou por mil anos. É compreensível. O Império Romano do Oriente é praticamente terra incognita nos currículos escolares, pesquisas acadêmicas, mercados editoriais e estúdios cinematográficos. Mesmo admiradores de Roma desdenham essa saga milenar como “uma história monótona de intrigas de padres, eunucos e mulheres, de constante envenenamento, conspirações, ingratidão e fratricídio” (William H. Lecky). Para iluministas como Edward Gibbon, foi o “triunfo da barbárie e da religião”; “uma coleção inútil de orações e milagres”, segundo Voltaire; “um tecido de rebeliões, insurreições e traições”, “o trágico epílogo da história de Roma”, segundo Montesquieu. Não surpreende que na consciência popular o adjetivo “bizantino” reverbere obscurantismo, futilidade, cerimonialismo, e particularmente querelas labirínticas, bizarras, extravagantes, sinistras. Em suma, a traição do que havia de melhor na Grécia e na Roma clássicas.

Mas, francamente, isso exala na melhor das hipóteses paroquialismo, na pior, ingratidão. Por séculos, Bizâncio foi um escudo da Cristandade contra hordas asiáticas, vândalos africanos, os xás da Pérsia e os califas de Bagdá – sem ele a “Europa” não existiria e provavelmente nós ocidentais estaríamos de joelhos para Alá cinco vezes ao dia. Enquanto o império romano ocidental era despedaçado por tribos bárbaras, Bizâncio consagrou-se como o maior poder do Mediterrâneo, e Constantinopla, a metrópole mais cosmopolita e exuberante da Idade Média. Foi sobre o corpo de Bizâncio que os turcos otomanos ergueram seu império, reconfigurando o universo islâmico até os nossos dias. Foi o espírito de Bizâncio que civilizou os Balcãs, animou o embrião da Rússia e inspira até hoje a visão messiânica de Moscou como a “Terceira Roma”. Duas vezes mais longevo que o império romano clássico, foi Bizâncio que realizou o sonho arcano de Alexandre o Grande. Fundindo a cultura helênica, a administração romana, a mística asiática e a fé cristã, Bizâncio preservou as letras gregas, arquitetou a teologia ortodoxa, criou a arte sacra mais carregada de espiritualidade de todos os tempos e cimentou os códigos que alicerçam nossos sistemas jurídicos. A maioria das civilizações vive um ciclo de aurora, apogeu e crepúsculo, mas, provando seu vigor e flexibilidade, Bizâncio viveu pelo menos dois. E quando finalmente morreu, seu espírito insuflou o Renascimento na Itália, inaugurando a aventura moderna.

Tão fascinante, tão incompreendida, tão distante de nós e tão inusitadamente como nós, qual será a verdadeira história desta ponte de ouro entre a antiguidade e a modernidade, entre o Oriente e o Ocidente?

Convidados 

Bruno Tadeu Salles: professor de história medieval da Universidade Federal de Ouro Preto.

Renato Viana Boy: professor de história medieval da Universidade Federal da Fronteira do Sul.

Referências

  • “O zênite bizantino” em História da Civilização. Vol. IV. A Idade da Fé (The Story of Civilization), de Will Durant.
  • O Império Bizantino, de Hilário Franco Jr. e Rui de Oliveira Andrade Filho.
  • “Império Bizantino” – Episódio do podcast História FM.
  • “Império Bizantino” – Episódio do podcast História em Meia Hora.
  • Byzantium. The Surprising Life of a Medieval Empire, de Judith Herrin. 
  • The Oxford Handbook of Byzantine Studies, ed. por E. Jeffreys, J. Haldon e R. Cormack. 
  • The Byzantine Achievement. An Historical Perspective, de Robert Byron.
  • The Byzantine Empire, de Robert Browning.
  • Medieval Europe. A Short History, de J.M. Bennett e W.C. Hollister. 
  • The History of Byzantium, podcast com dezenas de episódios. 
  • “Byzantium – Last of Romans” – episódio do podcast Fall of Civilizations.
  • “Byzantium”, entrevista com Charlotte Roueché, John Julius Norwich e Liz James para o programa In Our Time da Radio BBC 4.
  • A History of Byzantium, de Timothy E. Gregory.
  • The Lost World of Byzantium, de Jonathan Harris.
  • A Short History of Byzantium, de John J. Norwich.
  • Byzantine Christianity. A Very Brief History, de Averil Cameron.
  • A History of the Byzantine empire, de A.A. Vasilev.
  • The Byzantine Empire, de Sir Charles W.C. Oman.
  • A History of the Byzantine State and Society, de Warren Treadgold.
  • “Byzantium and the Ghosts of Rome”“Theodora: Empress of Byzantium”“Justinian: Making Rome Great Again”“Justinian & Theodora”, do podcast The Rest Is History.    
  • Hispania y Bizancio: una relación desconocida, de Margarita Vallejo Girvés.
  • Guerra Santa: formação da ideia de cruzada no Ocidente, de Jean Flori.
  • As Cruzadas Vistas pelos Árabes, de Amin Maalouf. 

Ilustração: Capela Palatina (1132-1143), no Palácio Real de Palermo, na Sicília, encomendada pelo rei normando Rogério II. (Fonte: SmartHistory. Foto de A. Fein).

COMPARTILHE: