Pode a destreza estética na literatura estar a serviço de estereótipos raciais? Como lidar com as críticas e com o valor da literatura assim produzida? Adriano Migliavacca analisa a literatura de Chinua Achebe em busca de algumas respostas.
por Adriano Moraes Migliavacca
"A vida era a mistura de tudo e de todos, dos que foram, dos que estavam sendo e dos que viriam a ser”. O leitor talvez se pense diante de uma frase tomada de algum escrito do filósofo irlandês Edmund Burke. No entanto, a fonte dessas palavras está significativamente mais próxima de nós,
É inegável a influência da moderna poesia europeia na moderna poesia africana. Mas esta última se nutre também das tradições orais.
Na dinâmica do Ifá, declarado Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO, temos no centro as informações sobre a vida do consulente; ao redor, os eventos e objetos do dia-a-dia; acima o deus do acaso que observa a tudo.
O crítico nigeriano Abiola Irele, falecido recentemente, desenvolveu uma sofisticada teoria sobre o tema da oralidade: em vez de “literatura africana”, Irele chama de “imaginação africana” o âmbito literário estudado por ele.
A realidade linguística da África é de tal forma diversa – como, de resto, também o é a realidade cultural – que não há, nos dias de hoje, um idioma que possa servir de língua franca para todo o continente. Diante dessa realidade, opiniões e propostas diversas se apresentam.
A visão de Senghor se baseava em uma unidade racial – de fundo biológico ou espiritual – inerente aos africanos e seus descendentes espalhados pelo mundo; uma visão que, sob o nome de Negritude, veio a angariar tanto aderentes quanto dissidentes e que, devido exatamente à fixidez racial em que se baseava, hoje figura apenas como um momento histórico da formação intelectual africana moderna.
Os múltiplos significados do conceito de "negritude" vistos pelas lentes de três grandes escritores: Léopold Sédar Senghor, Aimé Césaire e Wole Soyinka.