Durante um ano percorri escolas da rede pública do interior do Rio Grande do Sul, a convite do SESC, num projeto chamado “Mais Leitura”, com a missão de falar sobre poesia para os anos finais do ensino fundamental, além de lhes apresentar os grandes poetas brasileiros.
O colunista do Estado da Arte analisa um poema de Carlos Drummond de Andrade.
Uma leitura é sempre um movimento particular que pretende se tornar público. Sua origem íntima a faz uma mescla de emoção, razão e memória, antes de ser tocada pelas teorias, ou aparatos históricos e culturais.
Nos últimos anos, tenho lido basicamente poesia. Sinto que perco, progressivamente, por este hábito, a habilidade de ler romances, que me parecem aborrecidos e lentos, uma espécie de grande atacado onde é preciso muito garimpar para achar um bom produto.
Jorge Luís Borges, com seu habitual chamado à ideia de que a humanidade é sempre a mesma, em cada uma de suas células vitais - a criatura humana -, escreveu no poema "Tu"
Em seu discurso ao receber o Nobel de Literatura em 1995, o poeta irlandês Seamus Heaney tocou num ponto que me parece essencial para a compreensão da experiência lírica: um poema é uma maneira de perceber o estar no mundo a partir de uma visão que é, ao mesmo tempo, estrangeira e particular.
Um importante historiador aqui de Porto Alegre, Voltaire Schilling, também um leitor feroz, me disse, certa feita, "os leitores são uma espécie de confraria mundial..."
Quantas vezes, me pergunto, um poema precisará ser lido antes de começar a revelar seus secretos encantos?
Quando se é professor, não poucas vezes os alunos aparecem com perguntas que nem séculos de magistério seriam capazes de responder.