Em mais uma edição em parceria com o Café Filosófico – CPFL, o Estado da arte convida para discutir a primeira grande revolução científica Claudemir Tossato, professor de Epistemologia e Filosofia da Ciência na Universidade Federal de São Paulo e autor de O conhecimento científico; Eduardo Kickhöfel: professor de História da Filosofia da Renascença na Universidade Federal de São Paulo e coordenador do grupo de pesquisa La Fabrica delli Strumenti de Galileu Galilei; e Pablo Mariconda: professor de História e Filosofia da Ciência da Universidade de São Paulo, tradutor e editor do Diálogo de Galileu Galilei.
Dedicando o ano de 2018 à celebração e discussão da “Responsabilidade”, o Café Filosófico inaugurou a temporada com o ciclo “Novos Horizontes da Responsabilidade”. Naturalmente, o tema da tecnologia e seu impacto sobre a vida social e ambiental não poderia estar ausente. Em sua palestra de abertura, o filósofo Oswaldo Giacoia Jr., curador do Ciclo, tocava no cerne da questão:
Novos agentes ou sujeitos éticos emergem no mundo contemporâneo. O poder-fazer, fomentado pelo desenvolvimento tecnológico, colocou o ser humano em condições teóricas e práticas de destruir inteiramente suas próprias condições de existência no planeta terra. Nesse contexto, um novo conceito de responsabilidade torna-se indispensável, e tentativas são feitas nas diferentes esferas culturais, da religião às ciências, da filosofia às artes e à política. Responsabilidade é atualmente a tradução da necessidade de amadurecimento e despertar para uma nova consciência dos impasses e dilemas do habitar humano no mundo.
Dentre esses impasses e dilemas, um dos mais dramáticos é o dos efeitos dos novos paradigmas científicos e tecnológicos sobre o desenvolvimento emocional, cognitivo e moral das crianças. Este foi precisamente o tema da palestra da psicanalista Julieta Jerusalinsky Intoxicações eletrônicas na primeira infância. Conforme o seu diagnóstico:
Vivemos tempos da virtualidade das relações. A web e a internet que, por um lado possibilitaram uma democratização do acesso à informação, também têm sido instrumento da sociedade pós-fática, na qual os acontecimentos que permeiam as notícias importam menos pelo seu compromisso com a verdade do que com o escândalo que causam; se por um lado possibilitam trocas simbólicas com aqueles que geograficamente estão longe, ao mesmo tempo, incrementam os dispositivos da sociedade de controle, de formações narcísicas do “parecer” e nos linchamentos virtuais produzidos nas redes sociais em uma gangorra entre a fama e a difamação; se por um lado permitem sustentar relações, por outro são instrumentos da supressão de bordas entre o público e o privado e entre o tempo de trabalho e de lazer, já que a exigência de estar permanentemente on-line traz como consequência um convívio no qual as pessoas passam a estar de corpo presente, mas, muitas vezes, psiquicamente ausentes, olhando cada um para sua janela virtual. Isso tem desencadeado intoxicações eletrônicas em pequenas crianças que ficam capturadas nas telas de seus gadgets eletrônicos, em lugar de entrarem em relação com os outros. Crianças um pouco maiores, por sua vez, passam a ter acesso a conhecimento supostamente pleno ao alcance de um clic no Dr. Google, mas, frequentemente carecem de ter com quem compartilhar as experiências para produzir um saber-viver singular.
Evidentemente, questões como essas, suscitadas pelo intenso desenvolvimento das ciências naturais e da tecnologia em nosso tempo, sempre estiveram no horizonte de preocupações do Café Filosófico ao longo dos seus anos de discussão, tanto mais sendo a CPFL uma empresa dedicada à produção e difusão de energia. Assim, várias foram as oportunidades onde se buscou elucidar o impacto e os desafios que as conquistas científicas e tecnológicas têm sobre a esfera social e a ambiental. Por exemplo, na palestra do professor Carlos Alberto Aragão de Carvalho sobre os 100 anos de evolução da ciência (1912-2022), ou na de José Eli da Veiga Economia verde e enfrentamento das condições climáticas, ou ainda na de Carlos Byington e Maria Helena Guerra Instinto – Emoção, Ecologia e Ciência.
Nesta edição sobre a revolução heliocêntrica, que literalmente reconfigurou todo o universo, o Estado da Arte busca contribuir para o esclarecimento destas questões penetrando a raiz da ciência moderna. Como cientistas emblemáticos como Copérnico, Kepler e Galileu entenderam os objetivos da ciência? Como relacionavam fé, razão e experiência? Como os dramas que viveram para implementar seus novos paradigmas nos ajudam a enfrentar os nossos próprios dramas ante os horizontes que as ciências e a tecnologia estão abrindo no novo milênio?