Vida Extraterrestre

Com Amanda Bendia, Douglas Galante, Ivan Lima - Rádio Estado da Arte

Quando por Marte, Vênus, Júpiter e outras esferas Beatriz conduziu Dante entre multidões de santos, serafins e no céu dos céus o Pai, o Filho, sua Mãe e o Espírito Santo, nossa Terra era o centro do universo rodeado por uma meia dúzia de planetas como o sol e a lua e por uma esfera de estrelas movidas, segundo o poeta, pelo Amor. Em nosso tempo dizem que o primeiro homem a viajar pelo espaço sideral, Yuri Gagarin, teria dito “Eu procurei e procurei mas não encontrei Deus” e sabemos que o sol é só uma entre 300 bilhões de estrelas da Via Láctea, que é só uma entre 100 bilhões de galáxias do Universo observável. Se 1% dos planetas for habitável, os potenciais abrigos para a vida podem exceder a um trilhão de bilhões. “Não é natural” disse 400 anos antes de Cristo o grego Metrodorus “num grande campo ter apenas uma espiga de trigo, e no universo infinito somente um mundo com seres vivos”. Cabeças como Kepler, Kant, Churchill, Carl Sagan ou Stephen Hawking pensavam o mesmo.

Mas indiferente a tantas vozes e cifras perdura o paradoxo: onde estão eles? E perduram os enigmas. Por mais escassez que sugira o mantra da NASA “Siga a água!”, a molécula de H2O é a segunda substância mais detectada no universo e é em geral encontrada em lugares hostis à vida. O carbono é o quarto átomo em abundância cósmica e cerca de 30% da massa da poeira entre as estrelas é de matéria orgânica. Por outro lado, das dezenas de elementos da tabela periódica, apenas cinco – hidrogênio, nitrogênio, fósforo, oxigênio e enxofre – constituem com o carbono 99% de toda matéria viva. De resto sequer sabemos ao certo o que estamos procurando. Nada pode ser mais familiar que a vida. Mas o que é? Como começou? Só sabemos que em algum momento alguma coisa surgiu da sopa química e passou a gerar filhos e aqui estamos nós. E além de nós? Onde a especulação termina e as evidências começam o que temos é igual a zero.

Talvez pelo mistério da vida no nosso mundo e certamente pela aparente ausência dela além dele a Astrobiologia já foi chamada “A ciência sem objeto”. Mas seu objeto, se existir, será seguramente a experiência mais excitante e amedrontadora da história universal e, se não, deixará para sempre uma questão devoradora à humanidade: estaremos sós? A ideia de supercivilizações intergalácticas e criaturas bizarras é tão sedutora para alguns cientistas como é para os ficcionistas. Mas e se não for o caso. E se a vida de um universo que há 13 bilhões de anos se propaga no nada por bilhões de trilhões de zilhões de quilômetros estiver toda concentrada num pontinho azul e verde que é o nosso mundo? Ambas as hipóteses são fascinantes e uma responsabilidade tremenda. Caberia ao ser humano encher o Universo de vida? E se já estiver cheio, conseguiremos nos comunicar e conviver com outros seres vivos? E se aniquilarmos em nosso planeta a única vida que existe devolvendo o Universo ao silêncio sem fim?

Convidados

Amanda Bendia: doutora em microbiologia pela Universidade de São Paulo.

Douglas Galante: pesquisador de Astrobiologia e Ciências Planetárias do Laboratório Nacional de Luz Síncroton.

Ivan Lima: cientista do Blue Marble Space Institute of Science.

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