Por Camila Gonzatto
A artista visual Aline Motta trabalha com diferentes práticas artísticas, como o vídeo, a fotografia e a instalação, a fim de ressignificar a memória trazendo novos sentidos ao presente. A busca pela genealogia de sua família resultou em uma trilogia que evoca o passado colonial e escravocrata brasileiro. A última parte, o curta-metragem (Outros) Fundamentos, está sendo exibida no Fórum Expanded da Berlinale.
O vídeo (Outros) Fundamentos é a terceira parte de uma trilogia sobre a história da sua família, e ao mesmo tempo, sobre a história do Brasil. Poderia contar um pouco sobre a gênese desse projeto?
Tudo começou com um segredo que minha avó me contou de uma maneira um pouco inesperada. A partir das informações que ela me deu, comecei a pesquisar mais sobre a história da minha família. Fiquei impressionada com a quantidade disponível de documentação, mesmo para uma família negra, pois, erroneamente, achamos que os arquivos foram queimados ou são inexistentes, quando, na verdade, existe ampla documentação sobre a escravidão no Vale do Paraíba, a região cafeeira do Sudeste brasileiro no século 19, por exemplo. Falta uma pesquisa mais profunda em torno deste material, principalmente abordando outros pontos de vista, que não necessariamente foquem na elite senhorial dos “barões do café”, como ainda tem se voltado muito da pesquisa historiográfica no Brasil.
(Outros) Fundamentos vem fechar um elo com minha ida a Nigéria para uma residência artística que durou 32 dias em 2017. O vídeo fala sobre as conexões que estabeleci entre Lagos, na Nigéria, Cachoeira, que fica no Recôncavo Baiano, no Brasil, e o Rio de Janeiro, mais precisamente a Baía de Guanabara. Todos as três cidades são amplamente banhadas pela água. De algum modo, minha presença na comunidade em Lagos causou mais estranhamento do que eu imaginava, e esse sentimento de não pertencer nem no continente africano, nem no Brasil, é a base em que se assenta o filme.
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