Por Erick Estrada
Como é reconfortante ver cinema latino-americano, embora, como no caso de Todos os mortos, seus orçamentos de produção não estejam à altura daqueles de países mais privilegiados economicamente. Como é reconfortante, mesmo notando dificuldades narrativas que enfrentaram os diretores Marco Dutra e Caetano Gotardo, ver que o “como se conta” é tão ou mais importante do que “o que se conta”
Tudo começa no Brasil da Independência de Portugal ao fim do século 19
Uma família rica perde todos os seus privilégios com a separação da Europa. A partir desse momento, o filme se torna uma espécie de pequena ode à poesia combativa e à multiculturalidade do Brasil, em uma análise muito crítica de suas classes privilegiadas. Trata-se de uma resposta direta, embora quase surrealista, ao retorno da direita no Brasil dos últimos anos.
Todos os Mortos é difícil. No filme, a mistura de tempos, espaços, vida, morte e histórias cruzam-se para dissecar, com uma inteligência brutal, as classes acomodadas, zombando do que elas acreditam indicar uma suposta superioridade: tudo isso é complicado, inclusive emaranhado (esses são os problemas que enfrentam os diretores). Porém, o resultado é inspirador, diferente, e muito próximo desses mortos sem enterro da história de seu país e de muitos outros, dos escravos e servos que deram suor e lágrimas para que o mundo como o conhecemos hoje pudesse ser construído.
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