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“If we take the widest and wisest view of a Cause, there is no such thing as a Lost Cause because there is no such thing as a Gained Cause. We fight for lost causes because we know that our defeat and dismay may be the preface to our successors’ victory, though that victory itself will be temporary; we fight rather to keep something alive than in the expectation that anything will triumph.”
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T.S. Eliot, ‘Francis Herbert Bradley’; TLS, 1927
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Na National Review, em editorial homenageando o aniversário da célebre New Criterion — revista de letras e artes fundada por Hilton Kramer (cujo nome remete à clássica Criterion, de T.S. Eliot) — Jay Nordlinger dizia, em setembro de 2016: é sempre possível fazer boas associações e más associações. Setembro foi o mês em que Hitler invadiu a Polônia, dando início à Segunda Guerra Mundial. Foi também o mês em que a New Criterion começou.
Foi também o mês de início do Estado da Arte, há quatro anos. Se essa é uma boa ou má associação, deixamos ao leitor. Sempre ao leitor, afinal: se esses quatro anos foram possíveis, só foram porque há leitores verdadeiros. Sempre haverá, e é essa crença que informa o espírito que anima o Estado da Arte.
Há quatro anos, Eduardo Wolf e Marcelo Consentino inauguraram, em belíssima definição, aquela que seria a marca de nosso propósito contínuo: “um espaço que conecte o público com nosso patrimônio cultural de modo vivo e atual para que o conhecimento do passado seja uma experiência contemporânea e relevante”; nesse sentido, “para que essa ligação renovada com as grandes figuras de nossa história seja instrumento presente e constante para as reflexões cada vez mais urgentes que nosso tempo nos convoca a fazer.”
Essa é a ideia, afinal: uma ligação renovada com os princípios que constituem aquilo a que chamamos de civilização, reconstruída e interpretada à luz do melhor que pode ser. Daí a epígrafe escolhida por Wolf e Consentino, retomando o crítico literário E.R. Curtius, na primeira apresentação do projeto EdA: “Especialização sem universalização é cegueira. Universalização sem especialização é futilidade.”
Muitas coisas mudaram no país e no mundo, nas circunstâncias e nos contextos, ao longo desses quatro anos: crises foram e vieram, estações também, desafios idem. O Estado da Arte, precisamente para responder a esses desafios, segue o mesmo: um espaço para livre reflexão e livre circulação — e livre acesso, sempre livre acesso — de ideias para nosso tempo. Letras e artes, cultura, filosofia, poesia, cinema, música, política, direito, história, literatura; ensaios de reflexão e de intervenção, traduções, entrevistas. Ideias.
Essas ideias são discutidas e rediscutidas, sob os princípios do pluralismo e da tolerância e da multiplicidade de prismas e perspectivas, por nossos colaboradores — nossos colaboradores que, como os leitores, são condição de possibilidade para o que fazemos aqui. Na soma dessa união, entre colaboradores e leitores de diferentes orientações e formações, está uma nova forma de ler o passado, ver o presente, imaginar o futuro. Estamos aqui para tornar essa união possível e, como diria Kierkegaard, manter abertas as feridas da possibilidade. Sem aderirmos à vulgarização do pensamento, sem nos tornarmos escravos de um gosto presumido pelo que se tem como politicamente correto — mas, ao mesmo tempo, sem cometermos o pecado oposto, da polêmica pela polêmica, como fim em si mesmo, que degrada a contemplação genuína a uma rasa necessidade de atacar espantalhos. O Estado da Arte, graças a nossos leitores, graças a nossos colaboradores, é a rejeição dos “discursos fáceis que confortam homens cruéis” (Chesterton).
Nossa tarefa, daqui pra frente, será sempre a que assumimos ao longo desses quatro anos, ecoando o que dizia George Packer ao receber o Hitchen’s Prize: a de abraçar a complexidade, mantendo fidelidade a princípios simples; a de ficarmos sozinhos se necessário; a de dizer a verdade.
Setembro de 2020. O aniversário dos quatro primeiros anos de uma causa perdida; lutamos, afinal, não por uma vitória — sempre temporária —, mas para manter algo vivo.
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Gilberto Morbach
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