por Alvin Plantinga
Este livro trata da aceitabilidade intelectual ou racional da crença cristã. Quando falo aqui de crença cristã, tenho em mente o que é comum aos grandes credos dos ramos principais da igreja cristã, aquilo que une Calvino e Tomás de Aquino, Lutero e Agostinho, Menno Simons e Karl Barth, Madre Teresa e São Máximo, o Confessor, Billy Graham e São Gregório Palamas — a crença cristã clássica, como poderíamos chamá-la.
A crença cristã clássica inclui, em primeiro lugar, a crença de que há uma pessoa que é Deus. Deus é uma pessoa: isto é, um ser com intelecto e vontade. Uma pessoa tem (ou pode ter) conhecimento e crenças, mas também afetos, amores e ódios; uma pessoa, além disso, tem ou pode ter intenções, e pode agir para efetivá-las. Deus tem todas essas qualidades, algumas em grau máximo (conhecimento, poder e amor, por exemplo). Deus é, portanto, onisciente e onipotente; é também perfeitamente bom e totalmente amoroso. Além disso, criou o universo, sustenta-o constantemente e guia-o providencialmente. Esta é a componente teísta da crença cristã. Mas há também a componente unicamente cristã: que nós, seres humanos, estamos de algum modo afundados na rebelião e no pecado; que, portanto, precisamos de libertação e salvação; e que Deus providenciou essa libertação por meio do sofrimento sacrificial, da morte e da ressurreição de Jesus Cristo, que era um homem e, ao mesmo tempo, o segundo membro da Trindade, o divino e sem igual filho de Deus. Usarei a expressão “crença cristã” para designar estas duas componentes tomadas conjuntamente. Sei, é claro, que outros autores podem usar essa expressão de um modo mais estrito ou mais amplo. Não precisamos discutir palavras aqui: as crenças que mencionei são as que irei discutir, seja qual for o grau de exatidão do uso que proponho dar ao termo “cristão”. Reconheço também que há aproximações parciais à crença cristã entendida dessa forma, assim como casos limítrofes, crenças cuja classificação como “cristãs” não é clara e simples. Tudo isso é verdadeiro, mas, tanto quanto consigo ver, nada disso compromete o meu projeto.
Assim, a nossa questão é esta: acaso uma crença desse gênero é intelectualmente aceitável? Em particular, é intelectualmente aceitável para nós, hoje? Para pessoas instruídas e inteligentes que vivem no século XXI, com tudo o que aconteceu nos últimos quatro ou cinco séculos? Haverá quem admita que a crença cristã era aceitável e até apropriada para os nossos antepassados, pessoas que pouco sabiam de outras religiões, que nada sabiam da evolução e da nossa ascendência animal, que nada sabiam da física subatômica contemporânea nem do mundo estranho, fantasmagórico e inquietante por ela postulado, que não conheciam Nietzsche, Marx e Freud — esses grandes mestres da suspeita — nem haviam tido contato com a acidez da crítica histórico-bíblica moderna. Contudo, para nós, intelectuais contemporâneos esclarecidos (continua quem defende tal tese), as coisas são completamente diferentes; pois, para quem sabe dessas coisas (pessoas que alcançaram nosso impressionante nível intelectual), há algo de ingênuo e tolo, talvez de obstinado e irresponsável, ou até de vagamente patológico, em sustentar tal crença.
Entretanto, não podemos ser um pouco mais precisos quanto à objeção? Qual é, exatamente, o problema? A resposta, penso, é que se alega haver dois problemas principais. O pensamento ocidental desde o Iluminismo do século XVIII evidenciou pelo menos dois estilos distintos de objeção. Primeiro, existem as objeções de facto: objeções à veracidade da crença cristã. Talvez a mais importante objeção de facto seja o argumento baseado no sofrimento e no mal. Essa objeção remonta a Demócrito no mundo antigo, mas também, na época contemporânea, é a mais eminente objeção de facto. Tem sido muitas vezes formulada filosoficamente, mas recebeu ainda poderosas expressões na literatura (por exemplo, em Os Irmãos Karamazov, de Dostoievski). A objeção é a seguinte: segundo a crença cristã, os seres humanos foram criados por um Deus sumamente poderoso e onisciente que nos ama o suficiente para nos ter enviado o seu filho, a segunda pessoa da Trindade divina, para sofrer e morrer em nosso nome; no entanto, dadas a quantidade e a diversidade imensas do sofrimento humano e do mal no nosso triste mundo, isso simplesmente não pode ser verdadeiro.
O argumento do mal talvez seja a mais importante objeção de facto, mas não é a única. Há também as teses de que as principais doutrinas cristãs — a Trindade, a Encarnação e a Expiação, por exemplo — são incoerentes ou necessariamente falsas. Muitos autores defenderam que a doutrina cristã de três pessoas divinas com uma única natureza não pode ser formulada de modo coerente; muitos afirmaram não ser logicamente possível que um ser humano, Jesus de Nazaré, seja também a segunda pessoa da Trindade divina; e muitos consideraram impossível que o sofrimento de uma pessoa — ainda que divina — possa expiar os pecados de outra. Chega-se a afirmar que o avanço da ciência mostrou, de algum modo, que a esfera sobrenatural simplesmente não existe — não existe um Deus que nos tenha criado e que reja o nosso mundo, quanto mais uma trindade de pessoas divinas, uma das quais tornou-se humana, morreu e ressuscitou dos mortos, redimindo assim os seres humanos do pecado e do sofrimento.
As objeções de facto são, portanto, muitas, e gozam de uma história longa e marcante no pensamento ocidental. Ainda mais disseminadas, contudo, têm sido as objeções de jure. Trata-se nesse caso de argumentos que concluem que a crença cristã, seja verdadeira, seja falsa, é de qualquer modo injustificável, ou não tem justificação racional, ou é irracional, ou não é intelectualmente respeitável, ou é contrária a uma moralidade saudável, ou não tem evidências suficientes a seu favor, ou é, de algum outro modo, inaceitável para a razão, não sendo adequada da perspectiva intelectual. Há, por exemplo, a tese freudiana de que a crença em Deus é na realidade o resultado da realização de um desejo; há a tese evidencial de que não há evidências suficientes a favor da crença cristã; e há a tese pluralista de que há algo de arbitrário e até de arrogante em sustentar que a crença cristã é verdadeira e que é falso tudo o que com ela for incompatível. As objeções de facto e de jure pertencem a diferentes espécies, mas às vezes coincidem. Assim, há também uma objeção de jure, além da de facto, baseada no sofrimento e no mal: afirma-se muitas vezes que a existência do sofrimento e do mal no mundo torna irracional sustentar que a crença cristã seja, de fato, verdadeira.
As objeções de facto são relativamente claras e inicialmente descomplicadas: a tese é que a crença cristã deve ser falsa (ou, pelo menos, improvável) em vista de uma coisa ou outra que supostamente sabemos. Muitas vezes, a tese é de que se trata de algo que sabemos hoje, algo que nossos antepassados supostamente não sabiam, como neste comentário amplamente citado de Rudolf Bultmann: “É impossível usar a luz elétrica e a telegrafia sem fios, e lançar mão das descobertas médicas e cirúrgicas modernas, e ao mesmo tempo acreditar no mundo de espíritos e milagres do Novo Testamento” (Kerygma and Myth, New York, Harper and Row, 1961, p. 5). As objeções de jure, por sua vez, apesar de serem talvez mais amplamente apresentadas que as suas homólogas de facto, são muito menos claras. A conclusão de uma objeção desse tipo é sempre que há algo de errado na crença cristã — algo que não a sua falsidade — ou então que há algo de errado no crente cristão: a crença ou o crente não têm justificação, ou são irracionais, ou racionalmente inaceitáveis, ou deixam a desejar de algum modo. Mas de que modo, exatamente? O que significa, na realidade, não ter justificação ou ser irracional? Certamente é ruim sustentar crenças que careçam de justificação racional: mas qual é exatamente o problema? Onde está o mal? Em geral, esse ponto não é esclarecido. Segundo os críticos evidencialistas, por exemplo, as evidências a favor da crença cristã são insuficientes: mas insuficientes para quê? E suponhamos que você acredite em algo a favor do qual as evidências são insuficientes: qual é, exatamente, o seu problema? Estará você por isso sujeito à culpa moral, ou isso mostra que você é de algum modo incompetente, ou que é extraordinariamente ignorante, ou que está sujeito a algum tipo de patologia, ou o quê? Segundo Freud e alguns dos seus seguidores, a crença cristã e teísta é um produto da realização de um desejo ou de algum outro mecanismo de projeção. Bem, suponha-se (ao contrário de como me parece que as coisas são) que isso seja verdadeiro: qual é exatamente o problema? Será que tal crença é provavelmente falsa? Será que, ao aceitar uma crença formada com base na realização de um desejo, você fez algo que mereça censura? Ou será você apenas digno de piedade? Qual é, precisamente, o problema?
Responder a essas perguntas é muito mais difícil do que se poderia pensar. Um dos projetos deste livro é procurar respondê-las: tentarei encontrar uma objeção de jure séria e viável à crença cristã, ou seja, tentarei encontrar uma objeção de jure que seja uma objeção real e, ao mesmo tempo, se aplique pelo menos de modo plausível à crença cristã. Entretanto, há uma questão prévia: acaso existe realmente a crença cristã, tal como os cristãos a concebem? Alguns pensadores (citando muitas vezes a autoridade do grande filósofo Immanuel Kant, do século XVIII) argumentam que não poderíamos sequer conceber um ser como o Deus cristão, supostamente infinito e transcendente. Isso porque os nossos conceitos demasiado humanos não poderiam aplicar-se a tal ser; nossos conceitos só podem aplicar-se a seres finitos, seres que não sejam transcendentes como os cristãos concebem que Deus seja. Mas se for realmente verdadeiro que nossos conceitos não se podem aplicar a um ser infinito e transcendente, se não podemos sequer conceber tal ser, a conclusão é que tampouco temos crenças acerca desse ser. Na verdade, não podemos ter crenças acerca de tal ser. Se assim for, a crença cristã simplesmente não existe: os cristãos pensam que têm crenças acerca de um ser infinito e transcendente, mas na verdade estão enganados. Na primeira parte, argumento que não há razão alguma para aceitar essa tese cética: o próprio Kant não fornece qualquer razão, e aqueles contemporâneos que apelam à sua autoridade certamente não se saem melhor.
Essa conclusão limpa o terreno para a questão principal do livro: há alguma objeção de jure viável à crença cristã? Uma objeção que seja independente das objeções de facto e que não pressuponha que a crença cristã é falsa? Penso que há fundamentalmente três candidatas principais: que a crença cristã é injustificada, que é irracional e que não é avalizada. Essas candidatas serão introduzidas a seu tempo; por ora, note-se apenas que três das principais personagens desse drama são, portanto, a justificação, a racionalidade e o aval. Na segunda parte, começo perguntando se uma crítica de jure viável pode ser desenvolvida em torno das ideias de justificação e racionalidade; e concluo que não. Volto-me então para as objeções oferecidas por Freud, Marx e Nietzsche; e é aqui que encontramos finalmente uma candidata inicialmente promissora a objeção de jure. Essa crítica está nas imediações do aval. Para saber o que é o aval, note-se que nem todas as crenças verdadeiras constituem conhecimento. Você é um fã ardente dos Detroit Tigers; por mera fanfarronice e lealdade deslocada, acredita que eles irão ganhar o campeonato, apesar de terem ficado em último lugar no ano anterior e de terem perdido o seu melhor jogador durante as férias. Acontece então que os Tigers ganham mesmo, inexplicavelmente, o campeonato, devido a uma série improvável de incríveis acasos felizes. A sua crença de que ganhariam não era, obviamente, conhecimento; assemelhava-se mais a um palpite incrivelmente sortudo. Para poder ser considerada um caso de conhecimento, não basta apenas que a crença acabe por se revelar verdadeira; está claro que algo mais é necessário. Esse algo mais é o que chamo “aval”. Tal como vejo as coisas, se há objeções de jure genuínas à crença cristã, elas se encontram nas imediações do aval.
Isso talvez não surpreenda, dado que este livro está na sequência de Warrant: The Current Debate e Warrant and Proper Function. No primeiro desses livros, introduzi o termo “aval” como designação daquela propriedade — ou melhor, quantidade — que, sendo suficiente, é o que faz a diferença entre o conhecimento e a mera crença verdadeira. Passei então a examinar as várias teorias contemporâneas do aval: qual é exatamente a propriedade que distingue o conhecimento da mera crença verdadeira? Examinei as teorias contemporâneas disponíveis: será a justificação? A coerência? A racionalidade? Ser resultado de faculdades ou processos confiáveis de produção de crenças? A resposta, argumentei, é nenhuma das anteriores; nenhuma dessas teorias está correta. Em Warrant and Proper Function, passei a fornecer a resposta que me parecia correta: o aval está intimamente ligado ao funcionamento apropriado. Mais detalhadamente, uma crença só tem aval se for produzida por processos cognitivos ou faculdades que estejam funcionando apropriadamente, num ambiente cognitivo propício a esse exercício dos poderes cognitivos, segundo um plano que vise com êxito a produção de crenças verdadeiras.
Segundo Freud e Marx, consequentemente, o verdadeiro problema da crença teísta (e, portanto, da crença cristã) é carecer de aval. Na terceira parte enfrento essa objeção. No final das contas, essa objeção de jure depende, na realidade, de uma objeção de facto. Isso porque (segundo o meu argumento), se a crença cristã for verdadeira, também será avalizada; afinal, a tese de que a crença teísta (e, logo, a cristã) não tem aval parte do pressuposto de que a crença cristã é falsa. Por isso, Freud e Marx não nos oferecem uma objeção de jure que seja independente da veracidade da crença cristã; a objeção deles pressupõe a sua falsidade. Prossigo oferecendo um modelo, o modelo Tomás/Calvino (T/C), do que seria a crença teísta ser avalizada; e argumento que, se a crença teísta for de fato verdadeira, esse modelo, ou outro parecido, é realmente correto.
Nos capítulos 7 a 10, alargo o modelo T/C para abranger a crença cristã propriamente dita (em oposição à crença teísta simpliciter) começando com uma explicação do lugar do pecado nesse modelo. Em seguida, proponho o modelo T/C alargado; segundo esse modelo, a crença cristã é avalizada porque atende às condições de aval especificadas em Warrant and Proper Function, ou seja, a crença cristã é produzida por um processo cognitivo (a “instigação interna do Espírito Santo” [Tomás de Aquino] ou o “testemunho interno do Espírito Santo” [Calvino]) que funciona apropriadamente, num ambiente epistêmico adequado, em harmonia com um plano que visa com êxito a verdade. O capítulo 8 estabelece o lado cognitivo desse processo. O processo, contudo, envolve tanto a razão como os afetos (ou seja, envolve tanto o intelecto como a vontade); e o capítulo 9 explica alguns dos vínculos entre a razão e os afetos. O capítulo 10 conclui a terceira parte examinando várias objeções ao modelo, tanto efetivamente existentes como meramente possíveis; nenhuma é bem-sucedida. O que oficialmente defendo quanto ao modelo T/C alargado não é que seja verdadeiro, mas antes que é epistemicamente possível (ou seja, nada do que sabemos nos compromete com a sua falsidade); acrescento que, se a crença cristã for verdadeira, é muito provável que esse modelo, ou outro parecido, seja também verdadeiro. Se eu tiver razão, não há qualquer objeção de jure viável independente das objeções de facto. E se isso for verdadeiro, a atitude expressa pela afirmação “Não sei se a crença cristã é verdadeira (afinal, quem poderia saber uma coisa dessas?), mas sei que é irracional (ou intelectualmente injustificada, ou irrazoável, ou intelectualmente questionável)” — essa atitude, se eu tiver razão, é indefensável.
Por fim, na quarta parte, confronto a seguinte tese: mesmo admitindo-se que a crença cristã possa em princípio ser avalizada como o modelo sugere, pode-se alegar que, na prática, há vários anuladores do aval que a crença cristã poderia ter. Um anulador de uma crença A é outra crença B tal que a aceitação de B impediria a aceitação de A sem implicar irracionalidade. No nosso caso, esses supostos anuladores seriam crenças que se esperariam de um cristão informado; seriam também crenças tais que quem as aceitasse não poderia racionalmente continuar a aceitar firmemente a crença cristã. Depois de explorar a natureza dos anuladores, examino os principais candidatos: primeiro, os resultados supostamente arrasadores da crítica histórico-bíblica; segundo, um reconhecimento da diversidade e da importância das religiões incompatíveis com a crença cristã, juntamente com algumas teses pós-modernas correlatas; e, terceiro, um reconhecimento profundo dos fatos do sofrimento e do mal. Procuro provar que nenhum desses candidatos a anulador da crença cristã clássica é bem-sucedido.
Este livro pode ser visto de pelo menos duas maneiras bastante diferentes. Por um lado, é um exercício de apologética e filosofia da religião, uma tentativa de demonstrar que várias objeções à crença cristã não são bem-sucedidas. As objeções de jure, argumento, ou são obviamente implausíveis — como as que se baseiam na tese de que a crença cristã não é ou não pode ser justificada — ou então pressupõem que a crença cristã não é verdadeira, como acontece nas que se baseiam na tese de que a crença cristã carece de racionalidade externa ou de aval. Logo, não há objeções de jure decentes que não dependam de objeções de facto. Tudo depende, na realidade, da veracidade, ou não, da crença cristã; mas isso refuta a ideia comum de que a crença cristã, verdadeira ou não, é intelectualmente inaceitável.
Por outro lado, este livro é um exercício de filosofia cristã, na medida em que tenta levar em consideração e responder questões filosóficas — questões do tipo que os filósofos levantam e respondem — de uma perspectiva cristã. Afirmo duas coisas acerca do modelo T/C alargado: esse modelo mostra que a crença cristã pode perfeitamente ter aval e como pode tê-la, refutando assim várias objeções de jure à crença cristã; entretanto, defendo também que fornece uma boa maneira de os cristãos pensarem sobre a epistemologia da crença cristã, em particular sobre a questão de a crença cristã ser ou não avalizada. Nesse sentido, há dois projetos, ou dois argumentos simultâneos. O primeiro dirige-se a qualquer pessoa, crente ou não; pretende ser uma contribuição para uma discussão pública em curso sobre a epistemologia da crença cristã; não apela a premissas ou pressupostos especificamente cristãos. Procurarei mostrar que, deste ponto de vista público, não há a menor razão para pensar que a crença cristã carece de justificação, racionalidade ou aval — pelo menos, não há qualquer razão que não pressuponha a falsidade da crença cristã. O outro projeto, contudo — o de propor, de uma perspectiva cristã, uma explicação epistemológica da crença cristã —, será especialmente interessante para os cristãos. Nesse caso, o projeto consiste em partir do pressuposto da veracidade da crença cristã e, dessa perspectiva, investigar a sua epistemologia, perguntando se tal crença é avalizada e de que modo o é. Podemos ver este projeto como uma imagem simétrica do projeto filosófico naturalista, quando se pressupõe a veracidade do naturalismo e depois se tenta desenvolver uma epistemologia que se harmonize bem com esse ponto de vista naturalista.
Espero que os cristãos considerem atraente este segundo projeto; espero também que os outros possam estar interessados — como acontece com quem, embora não aceite o naturalismo filosófico, está interessado em saber que tipo de epistemologia se harmoniza melhor com o naturalismo. O cerne de ambos os projetos — o projeto apologético e o projeto de filosofia cristã — é o modelo T/C alargado. Do primeiro ponto de vista, esse modelo é uma defesa da ideia de que a crença cristã é avalizada e um esforço para mostrar que, se a crença cristã for verdadeira, é muito provável que seja avalizada; do segundo ponto de vista, é uma recomendação quanto ao modo pelo qual os cristãos devem compreender e conceber o aval que, a seu ver, a crença cristã tem.
Tradução: Desidério Murcho
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