Publicado em 1871 no periódico Arauto do Governo em Moscou como um manifesto da Sociedade Secreta da Retaliação do Povo, que inspirou Dostoievski a escrever Demônios. Redigido por Sergei Netchaev com a provável colaboração de Mikhail Bakunin em 1869 d.C.
I. Os deveres do revolucionário consigo mesmo
1 – O revolucionário é um homem condenado. Não tem nem interesses, nem negócios, nem sentimentos pessoais, nem laços, nada que lhe seja próprio, sequer um nome. Tudo nele está tensionado em direção a um único interesse exclusivo, um só pensamento, uma só paixão: a Revolução.
2 – O revolucionário sabe nas próprias profundezas de seu ser, não somente em palavras mas também em atos, que rompeu todos os laços que o atam à ordem social e ao mundo civilizado com todas as suas leis, moralidades, e costumes, e com todas as suas convenções comumente aceitas. Ele é o seu inimigo implacável, e se ele continua a viver entre eles é somente a fim de destruí-los mais rapidamente.
3 – O revolucionário despreza todas as doutrinas e se recusa a aceitar as ciência mundanas, deixando-as para as futuras gerações. Ele só conhece uma ciência: a ciência da destruição. Por esta razão, mas somente por esta razão, ele estudará mecânica, física, química, e talvez medicina. Mas dia e noite ele estuda a ciência vital dos seres humanos, suas características e circunstâncias, e todos os fenômenos da atual ordem social. O objetivo é perpetuamente o mesmo: o meio mais certo e rápido de destruir toda essa ordem asquerosa.
4 – O revolucionário despreza a opinião pública. Ele despreza e detesta a moralidade social existente em todas as suas manifestações. Para ele, é moral tudo o que contribui para o triunfo da revolução. Imoral e criminoso é tudo o que permanece em seu caminho.
5 – O revolucionário é um homem dedicado, sem misericórdia para com o Estado e as classes educadas; e ele não pode esperar qualquer misericórdia da parte deles. Entre ele e eles existe, declarada ou dissimulada, uma guerra incansável e irreconciliável. Ele deve se acostumar a si mesmo à tortura.
6 – Tirânico para consigo mesmo, ele deve ser tirânico para com eles. Todos os gentis e irritantes sentimentos de simpatia, amor, amizade, gratidão e mesmo honra, devem ser suprimidos nele dando lugar à fria e obstinada paixão pela revolução. Dia e noite ele deve ser só um objetivo e um pensamento – destruição sem misericórdia. Lutando com sangue-frio e sem descanso por esse fim, ele deve estar preparado para destruir em si mesmo e destruir com suas próprias mãos todos os obstáculos no caminho para a revolução.
7 – A natureza do verdadeiro revolucionário exclui todo sentimentalismo, romantismo, comoção e exaltação. Todo ódio e vingança pessoais devem ser excluídos. A paixão revolucionária, praticada a todo momento do dia até se tornar um hábito, deve ser empregada com cálculo frio. A todo tempo, e em todos os lugares, o revolucionário deve obedecer não os seus impulsos pessoais, mas somente àqueles que servem à causa da revolução.
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