por Leandro Oliveira
Anthony Tommasini publicou recentemente no “The New York Times”:
“A decisão de transformar em profissional a Orquestra Simón Bolívar pode ter sido um erro de cálculo, em um sentido. Por mais nada, aumenta a expectativa da excelência. Enquanto era um conjunto de estudantes, foi fácil enraizar [o julgamento] simplesmente na juventude daqueles músicos inspirados. Mas a música feita nestas três noites [recentes], embora excitante, foi irregular, certamente não ao nível que o status da orquestra hoje sugere.”
A tese vale desdobramentos: a orquestra de Dudamel soa melhor quando recebida como um projeto social que como uma empreitada artística profissional.
Dudamel e a Símon Bolívar jamais foram grande coisa. Para quem quiser brincar de “Pierre Menard, autor de Quixote”, vale o exercício: ouça a esquadra primeiro como orquestra jovem, depois como profissional. Basta clicar aqui.
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Enquanto isso, o Prêmio Imperial do Japão 2016 – que acontece anualmente desde 1989 em áreas não cobertas pelo Nobel – celebra este ano Paulo Mendes da Rocha, além das carreiras de Cindy Sherman (artes visuais), Annette Messager (escultura), Martin Scorcese (Filme/Teatro).
Em música, o prêmio ficou com Gidon Kremer. Kremer há alguns anos vem se tornando a mais pertinente entre as vozes clássicas da atualidade. É um crítico recorrente do atual ambiente “político” da música clássica – aquele gerido por agentes pouco educados culturalmente em eventos onde glamour, a mídia e o dinheiro são mais prestigiosos que a qualidade da música soada. Sua dedicação à nova música e aos novos intérpretes é louvável – ainda mais pois feito sem proselitismo antropológico.
Para ouvir Kremer lá pelos anos oitenta, clique aqui.
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O compositor italiano Salvatore Sciarrino, por sua vez, foi o vencedor do Leão de Ouro da Bienal de Veneza na edição 2016. Autor de óperas sofisticadíssimas, Sciarrino é uma das mais poderosas e independentes vozes da composição clássica contemporânea – pessoalmente, considero-o ao lado de John Adams o mais interessante entre aqueles da geração de quarenta (ambos, safra 1947).
Para ouvir excerto de uma pequena e despretensiosa jóia do mestre italiano, clique aqui.
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Bob Dylan ganha o Nobel de Literatura “pela criação de novas expressões poéticas na grande tradição da canção Americana”.
Cancioneiro não é literatura e certamente o prêmio não lhe foi dado por “Tarântula”.
Musicalmente há muito a ser dito, e eventualmente fa-lo-ei no texto da semana que vem. Por mais que goste de Bob Dylan – e gosto muito – a meu ver o prêmio é uma imensa bobagem.
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O livro com a seleção de cartas do compositor John Cage (1912 – 1992) assim como o quarto volume daquelas de Samuel Beckett (1906 – 1989), que cobre os anos entre 1966 e 1989, já são reconhecidos pela crítica como o melhor e mais fundamental complemento à obra dos respectivos autores.