Ao visitar todos os anos a família da falecida Beatriz Elena Viterbo, uma paixão de juventude, Borges conhece seu primo, Carlos Argentino Daneri, um poetastro presunçoso que nutre a ambição de compor um épico que descreverá cada lugar do mundo com minúcias excruciantes. Passado um tempo, o excêntrico Carlos convida Borges a revisitar o velho casarão da família, agora prestes a ser desapropriado para que a confeitaria vizinha amplie seus negócios. Agitadíssimo ante perspectiva da demolição, Daneri confidencia seu segredo: quando criança ele descobriu no porão um Aleph, “um dos pontos do espaço que contém todos os pontos”, e ele o está usando para escrever seu poema. Mesmo convencido de estar lidando com um lunático, Borges aquiesce ao seus rituais, toma uma dose de conhaque vagabundo e deixa-se conduzir pelo poeta, que lhe promete: “Desce; muito em breve poderás entabular um diálogo com todas as imagens de Beatriz.”
Cumpri com seus ridículos requisitos; no fim se foi. Fechou cautelosamente a armadilha; a escuridão, em que pese uma fenda que depois distingui, pareceu-me total. Subitamente compreendi meu perigo: deixara-me soterrar por um louco, depois de tomar um veneno. As bravatas de Carlos deixavam transparecer o íntimo terror de que eu não visse o prodígio; Carlos, para defender seu delírio, para não saber que estava louco, tinha de me matar. Senti um confuso mal-estar, que tratei de atribuir a rigidez, e não à ação de um narcótico. Fechei os olhos, os abri. Então eu vi o Aleph. . . .
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