O Mistério dos Santos Inocentes

Extratos da litania da Irmã Gervaise a Jeannette de Domrémy, de 13 anos, pouco antes desta receber a missão de comandar o exército da França contra os invasores ingleses como Jeanne D’Arc, a Donzela de Orléans...

Extratos da litania da Irmã Gervaise a Jeannette de Domrémy, de 13 anos, pouco antes desta receber a missão de comandar o exército da França contra os invasores ingleses como Jeanne D’Arc, a Donzela de Orléans, quando será, aos 18 anos, capturada pelos inimigos, condenada por heresia pela Santa Inquisição da Normandia e executada em praça pública numa fogueira. Extraídos do drama homônimo composto por Charles Péguy para a celebração do aniversário da libertação de Orléans, dois anos antes de morrer no front francês da Grande Guerra com uma bala na testa (segundo um camarada balbuciando “Ó meu Deus, meus filhos…”) e oito anos antes da canonização de Santa Joana D’Arc. Paris, 1912 d.C.

As Três Virtudes

Eu sou, diz Deus, Senhor das Três Virtudes.

       A Fé é uma esposa fiel.
       A Caridade é uma mãe ardente.
       Mas a esperança é uma menininha.

       Eu sou, diz Deus, o Senhor das Virtudes.

       A Fé é aquela que se mantém firme nos séculos dos séculos.
       A Caridade é aquela que se dá nos séculos dos séculos.
       Mas minha pequena esperança é aquela
       que se levanta todas as manhãs.

       Eu sou, diz Deus, o Senhor das Virtudes.

       A Fé é aquela que é tensionada nos séculos dos séculos,
       A Caridade é aquela que se distende nos séculos dos séculos.
       Mas minha pequena esperança
       é aquela que todas as manhãs
       nos dá o bom dia.

       Eu sou, diz Deus, o Senhor das Virtudes.

       A Fé é um soldado, é um capitão que defende uma fortaleza,
       Uma cidade do rei,
       Nas marchas da Gasconha, nas marchas de Lorraine.
       A Caridade é um médico, é uma irmãzinha dos pobres,
       Que cuida dos doentes, que cuida dos feridos,
       Os pobres do rei,
       Nas marchas da Gasconha, nas marchas de Lorraine.
       Mas minha pequena esperança é aquela
       que diz bom dia ao pobre e ao órfão.

       Eu sou, diz Deus, o Senhor das Virtudes.

       A Fé é uma igreja, é uma catedral enraizada no solo da França.
       A Caridade é um hospital, uma hospedaria de Deus que agrupa todas as misérias do mundo.
       Mas sem esperança, tudo isso não seria mais que um cemitério.

       Eu sou, diz Deus, o Senhor das Virtudes.

       A Fé é aquela que vela nos séculos dos séculos.
       A Caridade é aquela que vela nos séculos dos séculos.
       Mas minha pequena esperança é aquela
       que se deita todas as noites
       e se levanta todas as manhãs
       e passa realmente noites muito boas.
       Eu sou, diz Deus, o Senhor desta virtude aí.

       Minha pequena esperança é aquela
       que adormece todas as noites,
       na sua cama de criança,
       depois de ter feito bem sua oração,
       e que todas as manhãs desperta e se levanta
       e faz sua oração com um olhar novo.

       Eu sou, diz Deus, Senhor das Três Virtudes.

       A Fé é uma grande árvore, é um carvalho enraizado no solo da França.
       E sob as asas desta árvore a Caridade, minha filha a Caridade abriga todas as agonias do mundo.
       E minha pequena esperança não é nada mais que esta promessazinha de broto que se anuncia no fino começo da primavera.

O canto da noite

       Ó noite você não precisou ir pedir a permissão a Pilatos. É por isso que eu te amo e te saúdo.
       E entre todos eu te glorifico e entre todos tu me glorificas
       E tu me rendes honra e glória
       Pois tu obténs algumas vezes aquilo que é mais difícil no mundo,
       A desistência do homem,
       O abandono do homem entre minhas mãos.

* * *

       Que ele consinta, este caro senhor, que ele se renda um pouco a mim.
       Que ele distenda um pouco seus pobres membros lassos sobre um leito de repouso.
       Que ele detenha um pouco sobre um leito de repouso seu coração dolorido.
       Que sua cabeça sobretudo não funcione mais. Ela funciona demais, sua cabeça. E ele crê que se trata de trabalho, que sua cabeça funciona assim.
       E seus pensamentos, não, para aquilo que ele chama seus pensamentos.
       Que suas ideias não funcionem mais e não se batam mais em sua cabeça e não tirlintem mais como grãos de cabaça.
       Como um guizo numa abóbora vazia.
       Quando se vê o que é, isso que ele chama suas ideias.
       Pobre ser. Eu não amo, diz Deus, o homem que não dorme,
       Aquele que queima em seu leito, com inquietude e febre.
       Eu sou partidário, diz Deus, que todas as noites cada um faça seu exame de consciência.
       É um bom exercício.
       Mas enfim não é preciso se torturar ao ponto de perder o sono.
       A esta hora o dia está feito, e bem feito; e já não se trata mais de refazê-lo.
       Não se trata de retornar a ele.
       Esses pecados que vos causam tanta pena, meu rapaz, pois bem, era bem simples.
       Meu amigo era preciso não cometê-los.
       Na hora em que tu podias ainda não cometê-los.
       Agora, está feito, vai, dorme, amanhã tu não recomeçarás mais.
       Mas aquele que à noite ao se deitar faz planos para o dia seguinte.
       Esse aí eu não amo, diz Deus.
       Tolo, como se acaso soubesse do que o dia seguinte será feito.
       Acaso ele conhece ao menos a cor do tempo.
       E faria melhor em fazer sua oração. Eu jamais recusei o pão do dia seguinte.
       Aquele que está em minha mão como o cajado na mão do viajante,
       Este me é agradável, diz Deus.
       Aquele que se apoia em meu braço como um bebê que ri,
       E que não se ocupa de nada,
       E que vê o mundo nos olhos de sua mãe, e de sua babá,
       E que não o vê e que não o olha senão neles,
       Este aí me é agradável, diz Deus.
       Mas aquele que faz combinações, aquele que em si mesmo para o amanhã na sua cabeça
       Trabalha como um mercenário.
       Trabalha horrivelmente como um escravo que gira uma roda eterna.
       (E entre nós como um imbecil).
       Pois bem esse aí não me é em nada agradável, diz Deus.
       Aquele que se abandona, eu o amo. Aquele que não se abandona, eu não o amo, é contudo simples.
       Aquele que se abandona não se abandona e ele é o único que não se abandona.
       Aquele que não se abandona se abandona e ele é o único que se abandona.
       Agora tu, minha filha, a noite, minha filha com o grande manto, minha filha com o manto de prata,
       Tu és a única que vence algumas vezes este rebelde e que faz dobrar sua nuca dura.

A imitação do Filho

       Fala-se sempre, diz Deus, da imitação de Jesus Cristo
       Que é a imitação,
       A fiel imitação de meu filho pelos homens.
       E eu conheci e eu hei de conhecer imitações tão fiéis, diz Deus,
       E tão aproximadas,
       Que eu mesmo fico tomado de admiração e de respeito.
       Mas enfim não se deve esquecer
       Que meu filho começou por esta singular imitação do homem.
       Singularmente fiel.
       Que ela foi forçada até à identidade perfeita.
       Quando tão fielmente tão perfeitamente ele revestiu a sorte mortal.
       Quando tão fielmente tão perfeitamente ele imitou o nascer.
       E o sofrer,
       E o viver.
       E o morrer.
       Mas quando eu vos digo: Pensai antes no amanhã eu não vos digo: Calculai este amanhã.

* * *

       Eu não amo, diz Deus, o homem que especula sobre o amanhã.
       Eu não amo aquele que sabe melhor que eu aquilo que vai fazer.
       Eu não amo aquele que sabe o que fará amanhã.
       Eu não amo aquele que banca o malandro. O homem forte não é o meu forte.

* * *

       Eu não amo, diz Deus, aquele que desconfia de mim.
       Acaso credes que eu hei de me divertir em vos armar emboscadas, como um rei bárbaro.
       Acaso credes que eu passo minha vida a vos lançar arapucas e a me deleitar vendo-vos cair nelas.
       Eu sou um homem de bem, diz Deus, e ajo sempre retamente.

* * *

       Toda a malícia que tenho, é a malícia de minha graça, e a finta e o ardil da minha graça, que com tanta frequência joga com o pecador para sua própria salvação, para lhe impedir de pecar.
       Que seduz o pecador; para o salvar. Mas acaso credes, credes que eu, Deus, que eu me divertirei em lhes causar misérias e com aquilo que não faria um homem de bem. Eu sou um bom cristão, diz Deus. Acaso credes que eu hei de me divertir a surpreendê-los como um assassino na noite.

O segredo do Pai

       Eu sou o pai deles, diz Deus. Pai nosso, que estás nos Céus. Meu filho lhes disse muitas vezes, que eu sou o pai deles.
       Eu sou o juiz deles. Meu filho lhes disse. Eu sou também o pai deles.
       Eu sou sobretudo o pai deles.
       Enfim eu sou o pai deles. Aquele que é pai é sobretudo pai. Pai nosso que estás nos Céus. Aquele que foi uma vez pai não pode ser mais nada senão pai.
       Eles são os irmãos de meu filho; eles são minhas crianças; eu sou seu pai.
       Pai nosso que estás nos céus, meu filho lhes ensinou esta oração. Sic ergo vos orabitis. Vós orareis então assim. Pai nosso que estás nos céus, ele sabia bem o que fazia naquele dia, meu filho que os amou tanto.
       Que viveu entre eles, que foi um como eles.
       Que seguiu como eles, que falou como eles, que viveu como eles.
       Que sofreu.
       Que sofreu como eles, que morreu como eles.
       E que os ama tanto tendo-os conhecido.
       Que trouxe de retorno ao céu um certo gosto de homem, um certo gosto da terra.
       Meu filho que os amou tanto, que os ama eternamente no céu.
       Ele sabia bem o que fazia naquele dia, meu filho que os ama tanto.

* * *

       E agora é preciso que eu os julgue como um pai. Até onde ele pode julgar, um pai. Um homem tinha dois filhos.
       Até onde é capaz de julgar. Um homem tinha dois filhos. Sabe-se bem como um pai julga. Há disso um exemplo conhecido.
       Sabe-se bem como o pai julgou o filho que partiu e que retornou.
       Foi ainda o pai que chorou mais.
       Eis aquilo que meu filho lhes contou. Meu filho lhes entregou o segredo do juízo mesmo.
       E agora eis aí como eles me aparecem; eis como eu os vejo;
       Eis como sou forçado a vê-los.
       Assim como o rastro dum belo navio vai se alargando até desaparecer e se perder.
       Mas começa por uma ponta, que é a ponta mesma do navio.
       Assim o rastro imenso dos pecadores se alarga até desaparecer e se perder
       Mas ele começa por uma ponta, e é esta ponta que vem a mim,
       Que está voltada para mim.
       Ele começa por uma ponta, que é a própria ponta do navio.
       E o navio é meu próprio filho, carregado com todos os pecados do mundo.
       E a ponta do navio são as duas mãos juntas de meu filho.
       E ante o olhar de minha cólera e ante o olhar de minha justiça.
       Eles estão todos furtivos detrás dele.
       E todo este imenso cortejo de orações, todo este rastro imenso se alarga até desaparecer e se perder.
       Mas ele começa por uma ponta e é esta ponta que está voltada a mim.
       Que avança rumo a mim.
       E esta ponta são estas três ou quatro palavras: pai nosso que estás nos céus; meu filho em verdade sabia aquilo que fazia.

* * *

       Toda esta imensa frota de orações carregadas de pecados do mundo.
       Toda esta imensa frota de orações e de penitências me ataca
       Tendo o aríete que conheceis,
       Avança rumo a mim tendo o aríete que conheceis.
       É uma frota carregada, classis oneraria.
       E é um frota de linha,
       Uma frota de combate.
       Como uma bela frota antiga, como uma frota de trirremes
       Que avançasse para atacar o rei.
       E eu que quereis vós que eu faça: eu sou atacado.
       E nesta frota, nesta inumerável frota
       Cada Pater é como um navio de alto bordo
       Que tem ele mesmo seu próprio aríete, pai nosso que estás nos céus
       Voltado para mim, e que avança detrás de seu próprio aríete.
       Pai nosso que estás nos céus, não é difícil. Evidentemente quando um homem disse isso, ele pode se esconder atrás.
       Quando ele pronunciou estas três ou quatro palavras.
       E detrás destes belos navios de alto bordo as Ave Maria
       Avançam como galeras inocentes, como virginais birremes.
       Como escunas, que não ferem a humildade do mar.
       Que não ferem a regra, que seguem, humildes e fiéis e submissas ao nível da água.
       Pai nosso que estás nos céus. Evidentemente quando um homem começa assim.
       Quando ele me disse estas três ou quatro palavras.
       Quando ele começou fazendo marchar à sua frente estas três ou quatro palavras.
       Depois ele pode continuar, ele pode me dizer aquilo que quiser.
       Vós compreendeis, eu, eu estou desarmado.
       E meu filho sabia bem.
       Que tanto amou estes homens.
       Que tomou gosto por eles, e pela terra, e por tudo aquilo que se segue.
       E nesta frota inumerável eu distingo bem três grandes frotas inumeráveis.
       (Eu sou Deus, eu vejo claro).
       E eis que eu vejo neste imenso rastro que começa por esta ponta e que mais e mais perto pouco a pouco se perde no horizonte de meu olhar.
       Eles estão todos um detrás do outro, mesmo aqueles que extravasam o rastro
       Rumo à minha mão esquerda e rumo à minha mão direita.
       À frente avança a frota inumerável dos Pater
       Fendendo e desbravando as vagas de minha cólera.
       Potentemente sentados sobre suas três fileiras de remos.
       (Eis como sou atacado. Eu vos pergunto. Será justo?)
       (Não, isso não é justo, pois tudo isto é do reino de minha Misericórdia)
       E todos estes pecadores e todos estes santos juntos avançam detrás de meu filho
       E detrás das mãos juntas de meu filho.
       E eles mesmos têm as mãos juntas como se eles fossem meu filho.
       Enfim meus filhos. Enfim cada um um filho como meu filho.

* * *

       Do alto de meu promontório,
       Do promontório de minha justiça,
       E da sede de minha cólera,
       E da cátedra de minha jurisprudência,
       In cathedra jurisprudentiae,
       Do trono de minha eterna grandeza
       Eu vejo subir até mim, do fundo do horizonte eu vejo vir
       Esta frota que me assalta,
       A triangular frota,
       Me apresentando esta ponta que vós conheceis.       

O mistério da liberdade

       Aquele que faz sua oração, Pai nosso que estás nos céus, põe entre ele e mim
       Uma barreira inultrapassável para minha cólera.
       E pode se abandonar ao sono da noite.
       (Ó noite, eu te criei a primeira). Seja feita a vossa vontade.
       Ora, aquilo que eu não faço contra as raças perdidas.
       Vós quereríeis que eu fizesse contra minhas paróquias francesas.
       Um evento se passou no intervalo, um evento interveio, um evento fez barreira.
       É que meu filho veio.

* * *

       Quando amamos um ser, o amamos como ele é.
       Só eu sou perfeito.
       É por isso mesmo talvez
       Que eu sei aquilo que é a perfeição
       E que eu peço menos perfeição a estas pobres gentes.
       Eu sei, eu, como é difícil.
       E quantas vezes quando eles penam tanto em suas provas
       Eu desejo, eu sou tentado e lhes pôr a mão sob a barriga
       Como um pai que ensina a nadar seu filho
       Na corrente do rio
       E que está dividido entre dois sentimentos.
       Pois de uma parte se ele o sustenta sempre e se ele o sustenta demais
       A criança se ensoberbecerá e não aprenderá jamais a nadar.
       Mas também se ele não o sustenta justamente no momento certo
       Esta criança beberá um mau golpe.
       Assim eu quando eu lhes ensino a nadar em suas provas
       Também eu fico dividido entre estes dois sentimentos.
       Pois se eu os sustentar sempre e eu os sustentar demais
       Eles não aprenderão jamais a nadar por si mesmos.
       Mas se eu não os sustento justamente no momento certo
       Estas pobres crianças beberiam talvez um mau golpe.
       Tal é a dificuldade, ela é grande.
       E tal é a duplicidade mesma, a dupla face do problema.
       De uma parte é preciso que eles realizem sua salvação por si mesmos. É a regra.
       E ela é formal. De outro modo não seria interessante. Eles não seriam homens.
       Ora, quero que eles sejam viris, que eles sejam homens e que eles ganhem eles mesmos.
       Suas esporas de cavaleiros.
       Por outro lado não devem beber um mau golpe
       Tendo feito um mergulho na ingratidão do pecado.
       Tal é o mistério da liberdade do homem, diz Deus,
       E de meu governo sobre ele e sobre sua liberdade.
       Se eu o sustento demais, ele já não é mais livre
       E se eu não o sustento o bastante, ele cai.
       Se eu o sustento demais, eu exponho a sua liberdade
       Se eu não o sustento o bastante, eu exponho sua salvação:
       Dois bens em um sentido quase igualmente preciosos.
       Pois esta salvação tem um valor infinito.
       Mas o que é uma salvação que não for livre.
       Como seria ela qualificada.
       Nós queremos que essa salvação seja adquirida por ele mesmo.
       Por ele mesmo o homem. Seja procurada por ele mesmo.
       Venha em um sentido dele mesmo. Tal é o segredo,
       Tal é o mistério da liberdade do homem.
       Tal é o preço que nós damos à liberdade do homem.
       Porque eu mesmo sou livre, diz Deus, e porque eu criei o homem à minha imagem e à minha semelhança.
       Tal é o mistério, tal é o segredo, tal é o preço
       De toda liberdade.
       Esta liberdade desta criatura é o mais belo reflexo que há no mundo
       Da Liberdade do Criador. É por isso que nós lhe conferimos,
       Que nós lhe damos um preço próprio.
       Uma salvação que não fosse livre, que não fosse, que não viesse de um homem livre já não nos diria mais nada. O que seria ela?
       O que quereria dizer?
       Que interesse uma tal salvação apresentaria.
       Uma beatitude de escravos, uma salvação de escravos, uma beatitude serva, em que quereis que isso me interesse. Alguém gosta de ser amado por escravos?

* * *

       Quando alguma vez se experimentou ser amado livremente, as submissões já não têm nenhum gosto.
       Quando se experimentou ser amado por homens livres, as prostrações de escravos já não vos dizem mais nada.
       Quando se viu São Luís de joelhos, já não se tem vontade de ver
       Aqueles escravos do Oriente deitados no chão.
       Totalmente alongados com sua barriga achatada no chão. Ser amado livremente,
       Nada pesa este peso, nada pesa este preço.
       É certamente a minha maior invenção
       Quando uma vez se degustou
       Ser amado livremente
       Todo o resto não é mais que submissões.

* * *

       Eu sei, eu sei o que significa ser amado.
       (Ora, é tudo). Sem dúvida ele teme Deus,
       Mas é com um duplo temor, todo cheio, todo inchado,
       Todo pleno de amor, como um fruto inchado de suco.
       De maneira nenhuma algum temor covarde, baixo, algum medo sujo
       Que agarra o ventre. Mas um grande, mas um alto, mas um nobre temor,
       O medo de me desagradar, porque ele me ama, e de me desobedecer, porque ele me ama,
       E, porque ele me ama, o medo
       De não ser encontrado agradável
       E amando e amado sob meu olhar. Nenhuma infiltração neste nobre temor,
       De um medo maligno e de uma perniciosa e vil covardia.
       E quando ele me ama, é verdade. E quando ele diz que ele me ama, é verdade. E quando ele diz que preferiria ser leproso do que cair em pecado mortal.(de tanto que me ama), é verdade.

O Antigo e o Novo Testamento

       Em toda família, diz Deus, há um último a nascer.
       E ele é o mais terno.
       Esta pequena esperança que pula a corda nas procissões.
       Ela é na casa das virtudes
       O que foi Benjamim na casa de Jacó.

       Um homem tinha doze filhos. Como os quarenta e seis livros do Antigo Testamento marcham ante os quatro Evangelhos e os Atos e as Epístolas e o Apocalipse.
       Que encerra a marcha.
       Como os quarenta e seis livros do Antigo Testamento marcham ante os vinte e sete livros do Novo Testamento.
       Tendo posto suas quarenta e seis tendas no deserto.
       E como Israel marcha ante a cristandade.
       E como o batalhão dos justos marcha ante o batalhão dos santos.
       E Adão e Eva ante Jesus Cristo
       Que é o segundo Adão.
       Assim ante toda história e ante toda similitude do Novo Testamento
       Marcha uma história do Antigo Testamento que é sua paralela e que é sua parelha.
       Um homem tinha dois filhos. Um homem tinha doze filhos. E assim ante toda irmã cristã
       Avança uma irmã judia que é sua irmã mais velha e que a anuncia e que vai à frente.
       E que pôs sua tenda no deserto. E o poço de Rebeca
       Foi cavado antes do poço da Samaritana.
       Ora, entre todos uma história implantou sua tenda.
       E antes da história do homem que tinha dois filhos
       Meu filho é a história do homem que tinha doze filhos.
       E como foi Benjamim na família deste homem,
       Assim é minha Esperança na família das virtudes.
       Entre as três Teologais e entre as quatro Cardinais.
       Sem contar todas as outras, e notadamente entre elas,
       Entre as sete que se opõem diretamente aos Capitais.
       E ante o filho que foi reencontrado guardião de porcos,
       Marcha o filho que foi reencontrado rei,
       Quero dizer, ministro do rei e realmente governador do reino.
       Ministro do Faraó e governador do reino do Egito.
       – Eu sou José, vosso irmão. Qual judeu, qual cristão
       Não chorou ante este reencontro. Israel amava José mais do que todos seus outros filhos, porque o tinha tido sendo já velho.

* * *

       Um homem tinha doze filhos. Esta foi, minha criança,
       Esta foi a primeira vez que uma criança se perdeu.
       Esta foi a primeira vez que uma ovelha se perdeu.
       Esta foi a primeira vez que uma dracma se perdeu.
       Mas esta dracma que havia se desgarrado,
       Mas esta ovelha que havia se desgarrado,
       Mas esta criança, este filho que havia se desgarrado
       Foi reencontrado sobre o trono,
       Governando a casa do Faraó
       E aprovisionando todo o reino do Egito.
       E aquele de Jesus ao contrário, (é sempre o contrário),
       Aquele de Jesus, a criança perdida por Jesus,
       Na parábola de Jesus,
       Aquele de Jesus foi reencontrado vindo de governar um tropel de porcos.
       E eu penso que seus trinta ou quarenta porcos,
       Ele os aprovisionava com bolotas e talvez com alguma ração suja.
       É assim, minha criança. Assim é o antigo, assim é o novo testamento.
       No antigo testamento trata-se no mais das vezes do trono.
       E no novo testamento trata-se no mais das vezes de guardar os porcos.
       (E os outros animais, que não são menos nobres).

* * *

       E no antigo testamento é o pai que acaba por ir ao encontro de seu filho
       E que o encontra pleno de glória
       Todo vestido.
       Mas no novo testamento é o filho totalmente nu
       Que acaba por ir ao encontro de seu pai.

       Assim o antigo testamento é o meirinho e o despenseiro
       E o preparador e o anunciador do novo testamento.
       É ele que prepara as vias, é ele que lhe prepara sua casa.
       É o antigo testamento que faz no deserto
       A longa via temporal.
       É o antigo testamento que pacientemente constrói
       A casa temporal.
       Eis, eu envio meu anjo ante tua face, que prepara teu caminho ante mim.

       E também o antigo testamento é como uma imagem que marcha ante o novo testamento.
       E como uma imagem ao mesmo tempo ele é muito fiel e ao mesmo tempo ele está às avessas.
       Ele é contrário. Assim é a história santa.
       O testamento carnal é uma história, uma imagem do testamento espiritual.
       O antigo testamento temporal é uma imagem do novo testamento eterno.
       E no novo testamento trata-se da glória,
       Trata-se de uma glória que não se recolhe muito sobre os tronos,
       (Excetuado São Luís e o trono de França).

       Todo antigo testamento é uma figura, uma imagem do conjunto e do detalhe
       Muito fiel, muito exata,
       (Mas fielmente inversa, exatamente inversa),
       Do novo testamento em seu conjunto e em seu detalhe.
       No antigo testamento a criação está no limiar,
       No começo que é o começo do mundo.
       E no novo testamento o juízo está no fim.
       O juízo que é propriamente o contrário da criação,
       O pé oposto, que é propriamente uma contra-criação.
       Pois na criação eu fiz o mundo,
       (Temporal)
       E no juízo eu o desfaço.
       Assim o juízo é propriamente o contrário e aquilo que equilibra a criação.
       Aquilo que se pode pôr nela, aquilo que está ante a criação.

       Eu cortei o tempo na eternidade, diz Deus.
       O tempo e o mundo do tempo.
       A criação foi o começo e o juízo será o fim.
       (Do tempo) (Do mundo do tempo).
       É exatamente uma simetria, um equilíbrio.
       Aquilo que eu abri, eu fecharei.
       No dia da criação (os seis dias) eu abri um certo mundo
       (O conhecem de resto)
       (Todos sabem, fala-se bastante dele)
       Enfim na primeira hora do primeiro dos seus dias da criação eu comecei uma certa história,
       E no dia do juízo eu a encerrarei.
       Ora, todo o antigo testamento parte deste juízo que eu fiz de criar.
       E todo o novo testamento vai rumo a este juízo que eu farei de julgar.
       Assim o antigo testamento é simétrico ao novo.
       E (contra) balanceia o novo.
       E todo o antigo testamento parte desta criação.
       E todo novo testamento vai rumo a este juízo
       E no antigo testamento o Paraíso está no começo.
       E é um Paraíso terrestre.
       Mas no novo testamento o Paraíso está no fim.
       E eu vos digo, é um Paraíso celeste.
       E todo antigo testamento vai rumo a João Batista e rumo a Jesus.
       Mas todo o novo testamento vem de Jesus.
       É com uma bela abóbada que sobe dos dois lados rumo à pedra angular.
       E Jesus é a pedra angular. Assim é a abóbada desta nave.
       E a pedra que sobe seguindo a curva desta nave,
       Decidindo, desenhando, antes e compassadamente, a curva desta abóbada,
       Formando a curva desta abóbada,
       A pedra que sobe de baixo avança audaciosamente.
       E fielmente e seguramente.
       Em toda segurança sem nenhuma inquietude.
       Porque ascendente ela sabe muito bem
       Que ela encontrará o fecho da abóbada exato no reencontro,
       Na justa intersecção, no sacro cruzamento e no fecho da abóbada, está Jesus.
       E junta toda a abóbada sustenta e comporta e soleva e mantém a pedra angular
       Como um enorme ombro redondo que sem pescoço sustentasse uma só cabeça mas a pedra sozinha,
       A pedra que completa,
       Sozinha e também junta é aquilo que sustenta sozinha a abóbada e o todo.
       E a última pedra antes da pedra angular foi João Batista.
       Mas a primeira pedra depois da pedra angular é Pedro o fundador.
       Tu és Pedro e sobre esta pedra.
       E ele foi crucificado de cabeça para baixo,
       Ou seja descendo.
       E como a pedra é quadrangular,
       Há os quatro ângulos e as quatro linhas do quadrado.
       E se diz segundo Mateus, segundo Marcos, segundo Lucas, segundo João,
       Ou seja seguindo a linha de Mateus, seguindo a linha de Marcos, seguindo a linha de Lucas,
        E seguindo a linha de João.
       E nos quatro cantos estão sentados o homem jovem, o leão, o touro e a águia.
       Pois a Igreja é quadrangular,
       Como ela é lapidar estando fundada sobre a quadrangular
       Pedra.

Os Santos Inocentes

       Pensa-se que as crianças não sabem nada.
       E que os pais e que as pessoas grandes sabem alguma coisa.
       Ora, eu vos digo, é o contrário.
       (É sempre o contrário).
       São os pais, são as pessoas grandes que não sabem nada.
       E são as crianças que sabem
       Tudo.

       Pois eles sabem a inocência primeira.
       Que é tudo.

       O mundo está sempre às avessas, diz Deus.
       E no sentido contrário.
       Feliz aquele que permanecer como uma criança.
       E que guardar como uma criança
       Esta inocência primeira.

* * *

       Meu filho lhes disse várias vezes.
       E em termos bastante expressos.

       O reino do céu será só para eles.
       E ele só existirá para eles.

       Naquele tempo se aproximaram os discípulos de Jesus, dizendo: Quem, pensas tu, é o maior no reino dos céus?

       E chamando Jesus uma criancinha, a pôs no meio deles,

       E disse: Em verdade eu vos digo, se vós não vos converterdes e não vos tornardes como estas criancinhas, vós não entrareis no reino dos céus.

       Quem portanto se humilhar como esta criancinha, eis aquele que é o maior no reino dos céus.

       E aquele que recebe uma tal criança em meu nome, me recebe.

       Mas aquele que escandalizar um só destes pequeninos que creem em mim, melhor seria para ele que lhe amarrassem no pescoço uma pedra e o lançassem ao fundo do mar.

* * *

       Felizes os imaculados na via.
       Beati immaculati in via.
       Dir-se-ia, diz Deus, que de tantos santos e de tantos mártires
       Os únicos que serão realmente brancos
       Realmente puros.
       Os únicos que serão sem mácula serão
       Aquelas desgraçadas crianças que os soldados de Herodes
       Massacraram nos braços de sua mãe.
       Santos Inocentes sereis vós então os únicos.
       Santos Inocentes sereis vós então os puros.
       Santos Inocentes sereis vós então os brancos e os sem mácula.

* * *

       Naquele tempo, o Anjo do Senhor apareceu em sonho a José, dizendo: “Levanta-te, e toma tua criança, e sua mãe, e foge para o Egito, e permanecei lá até que eu te chame. Pois Herodes buscará a criança para a perder.” Ele se levantou, tomou a criança, e sua mãe, de noite, e partiu para o Egito: e ele permaneceu lá até a morte de Herodes: a fim de que se cumprisse aquilo que foi dito pelo Senhor falando por seu Profeta: “Do Egito eu chamei meu filho.” Então Herodes, vendo que ele havia sido enganado pelos Magos entrou numa grande cólera, e deu ordens de matar todas as crianças, que estavam em Belém, e em toda a sua região, de dois anos para baixo, conforme o tempo que lhe fora informado pelos Magos. Então se cumpriu aquilo que foi dito pelo Profeta Jeremias dizendo: “Vox in Rama audita est, ploratus et ululafus multus : Rachel plorans filios suos, et noluit consolari, quia non sunt.”

       Uma voz foi ouvida em Ramá, um choro e um grande brado: Raquel chorando seus filhos, e ela não quis ser consolada, – quia non sunt, – porque eles não são.

       Eu vi, diz João,

       Naquele tempo: Eu vi sobre a montanha de Sião o Cordeiro no alto, e com ele cento e quarenta e quatro mil que tinham seu nome, e o nome de seu Pai escrito sobre a fronte. E eu ouvi uma voz do céu, como uma voz de muitos deles, e como a voz de um grande trovão: e uma voz, que eu ouvi, como de citareiros citariando com.suas cítaras.

       E eles cantavam

       quasi canticum novum,

       como um cântico novo ante o trono,

       e ante os quatro animais, e ante os anciãos:

       et nemo poterat dicere canticum,

       e ninguém podia recitar este cântico,

       nisi illacenlum quadraginta quatuor millia,

       salvo os cento e quarenta e quatro mil,

       qui empti sunt de terra.

       que foram levados,

       que haviam sido levados da terra.

       Ouviste bem, minha criança, qui empti sunt de terra, que haviam sido levados da terra. Todo mundo é levado da terra, em seu dia, em sua hora.
       Mas todo mundo é levado da terra tarde demais, quando a terra já se apossou dele.
       Quando sua memória é terrosa e quando sua alma é terrosa.
       Quando a terra se colou nele e quando ela deixou sobre ele uma marca inapagável.
       Mas eles, só eles, empti sunt de terra, literalmente eles foram levados da terra.
       Antes que sequer tivessem entrado na terra.

* * *

       São eles, diz o Apóstolo, que sobre o monte de Sião rodeiam o Cordeiro no alto.
       Eles são cento e quarenta e quatro mil e são eles que têm
       Meu nome e o nome de meu Filho escrito sobre a fronte.
       E o apóstolo ouviu uma voz do céu.
       Como uma voz de muitos deles.
       E como a voz de um grande trovão.
       E como a voz de tocadores de cítara tocando a cítara com suas cítaras.
       E atenção eles não cantavam somente um cântico.
       Mas eles cantavam como um cântico novo ante o trono.
       E ante os quatro animais, e os anciãos:
       É um cântico novo para marcar
       Esta eterna novidade que há na infância.
       E que é o grande segredo de minha graça.
       Esta renascente, esta perpetuamente renascente, esta eternamente renascente novidade.
       E este cântico novo vem desta novidade mesma. Ele sai dela. Ele nasce dela.
       Ora, tal é o privilégio deles. E não há nenhum maior:
       Ninguém, quer dizer os maiores santos e os mártires mesmos,
       Séculos e vidas de provas e de santidade,
       De exercícios, de orações,
       De trabalho,
       De sangue, de lágrimas;

       Nemo, ninguém, quer dizer nem mesmo Francisco meu servidor e nem mesmo São Luís meu servidor;

       Nemo, ninguém, quer dizer nem mesmo as quatro testemunhas, os quatro relatores;
       Mateus, e Marcos, e Lucas, e João;
       e o jovem homem, e o leão, e o touro, e a águia;

       Nemo, ninguém, quer dizer nem mesmo Pedro o Fundador;
       E nem mesmo aqueles que encontraram a morte combatendo pela libertação do Santo Sepulcro;

       Nemo poterat dicere canticum, ninguém podia recitar aquele cântico.
       (Tal é o seu exorbitante privilégio e o grande favor injusto
       De minha graça eternamente justa).

       Nisi illa centiim quadraginta quatuor millia, qui empli sunt de terra.

       Salvo aqueles cento e quarenta e quatro mil, que foram levados da terra.

* * *

       … Ora, se nós fizemos deles aquilo que vós vedes, diz Deus,
       Há sete razões e eu quero muito dizê-las a vós.

       A primeira, é que eu os amo, diz Deus, e isso basta.
       Tal é a hierarquia da minha graça.

       A segunda, é que eles me agradam, diz Deus, e isso basta.
       Tal é a hierarquia da minha graça.

       A terceira, é que me agrada também, diz Deus, e isso basta.
       Tal é a hierarquia, tal é a ordem, tal é a ordenança da minha graça.

       Agora eu vos direi, diz Deus, a quarta
       É precisamente que eles não têm comissuras nos lábios
       Aquela dobra de ingratidão e amargor, aquela chaga de envelhecimento,
       Aquela dobra de advertência, aquela dobra de memória que nós vemos em todos os lábios.

       A quinta, diz Deus, é que por uma espécie de equivalência,
       Por uma espécie de equilíbrio este inocentes pagaram por meu filho.
       Enquanto estavam estirados no pavimento das rotas, no pavimento das aldeias,.no pavimento das cidades.
       Na poeira e na lama, menos considerados que cordeiros e que cabritinhos e que leitõezinhos.
       (Pois os cordeiros e os cabritinhos e os leitõezinhos
       São muito considerados pelo açougueiro e pelo consumidor)
       Abandonados sobre os corpos de suas mães
       Neste momento meu filho fugia. É preciso dizer.
       É portanto uma espécie de quiproquó. É preciso dizer.
       É um mal-entendido.
       Deliberado, o que é grave. É preciso dizer.
       Eles foram tomados por ele. Eles foram massacrados por ele. Em vez dele. Em seu lugar.
       Não somente por causa dele, mas por ele, contando por ele.
       Representando-o por assim dizer. Sendo substitutos dele. Sendo como ele. Quase sendo (outros) eles.
       Em representação, em substituição, em reposição a ele. Ora, tudo isso é grave, diz Deus, tudo isso conta. Eles foram semelhantes ao meu filho e o substituíram.

* * *

       A sexta razão é que eles foram contemporâneos do meu filho.

* * *

       A sétima razão, diz Deus, porque não dizer. É que eles foram semelhantes a meu filho.
       E ele foi semelhante a eles.

* * *

       Meu filho foi terno como eles e como eles foi novo.
       Ele foi bastante desconhecido. Como eles.
       Esta grande adoração dupla, que (sem ela) já o teria deixado sem par.
       A grande adoração dupla dos pastores e dos magos foi já um pouco esquecida.
       Ele se tornou bastante desconhecido. E os magos foram ridicularizados por Herodes.

* * *

       Eu os amo inocentemente, diz Deus. E é a sétima razão.
       (É assim que se deve amar estes inocentes)
       Como um pai de família ama os camaradas de seu filho
       Que vão à escola com ele.

* * *

       Vox prima Christi victima,
        Grex immolatorum tener,
        Aram sub ipsam simplices
        Palma et coronis luditis.

        Vós primeiras vítimas do Cristo,
        Tropel terno dos imolados.
        Ao pé do próprio altar simples,
        Simplices, almas simples, simples crianças,
       Palma et coronis luditis. Vós brincais com a palma e as coroas. Com vossa palma e.vossas coroas.

       Tal é meu paraíso, diz Deus. Meu paraíso é tudo aquilo que há de mais simples.

*

Tradução de Marcelo Consentino para O Grande Teatro do Mundo.

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