Em mais uma peça para a série Café Filosófico – CPFL, o Estado da Arte dramatiza uma cena de um dos maiores clássicos da literatura russa, Pais e Filhos, justamente no momento do confronto entre as duas gerações aludidas no título: de um lado o protagonista, Arcádio Kirsanov, e seu colega de faculdade, Basárov; de outro, o pai, Nicolau Pietrovich, e o tio, Páviel, de Arcádio. Em pauta, uma estranha nova doutrina professada pelos dois universitários sob o nome de “Niilismo.”
https://www.teatrodomundo.com.br/ainda-somos-os-mesmos-e-vivemos-como-nossos-pais-ou-os-niilistas-estao-chegando/
O tema da família é constantemente revisitado, e por diversos ângulos, pelo Café Filosófico. Os exemplos são inúmeros, como os ciclos “Família” (2012), “A família no ritmo contemporâneo” (2011), “Relações familiares no mundo contemporâneo” (2010) ou “Jovem urgente no século XXI” (2012).
Na última temporada, de 2017, dedicada ao tema da “Responsabilidade”, a família mais uma vez retornou às discussões do Café, e mais uma vez por diversas perspectivas. Num dos encontros do ciclo “Do paradigma da dominação ao paradigma do cuidado”, por exemplo, a jurista Adriana Vidal colocava a questão:
Como o compartilhamento da experiência da licença maternidade e paternidade no brasil pode auxiliar na construção de novas relações de gênero, na medida em que ambos os genitores são responsáveis diretamente pelos cuidados da criança?
Nessa linha, a psicanalista Maria Rita Kehl analisou as novas configurações familiares, que por sua vez exigem de nossa geração novas tipificações e enquadramentos jurídicos. E nesse mesmo ciclo (“O tempo da infância e a infância dos nossos tempos”), a psicanalista Ilana Katz investigou o processo de inserção da criança na vida da polis, isto é, a transformação dos filhos em cidadãos, ou, melhor dizendo, a superposição da condição (cultural) de cidadão sobre a condição (natural) de filho.
Em toda essa discussão, o testemunho deixado pelo romance de Turgueniev é inestimável, precisamente por mostrar, com a precisão de olhar característica dos grandes ficcionistas russos, o entrelaçamento promíscuo (e tão frequente ao longo de toda história humana) entre a esfera familiar e a política, e a consequente ambiguidade entre conflitos de natureza geracional e de natureza ideológica, com resultados muitas vezes catastróficos.
Confira
No acervo do Café Filosófico
https://www.institutocpfl.org.br/2017/09/11/setembro-do-paradigma-da-dominacao-ao-do-cuidado/
https://www.institutocpfl.org.br/2017/07/01/o-tempo-da-infancia-e-a-infancia-de-nossos-tempos/