Como o leitor deve ter percebido, após o intensivo no Festival de Música de Lucerna, esta coluna fez uma parada. Em parte por questões absolutamente justificadas: este colunista finalizava seu próximo livro sobre música clássica que há de sair no primeiro semestre do ano que vem.
Agora com o dever cumprido, vamos aos fatos – ou melhor, à boa música. Retomamos com com notas sobre o universo clássico e suas perspectivas.
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Esta semana, a Osesp retoma sua temporada sinfônica após quinze dias de folga. No programa, Beethoven com a “Sinfonia n. 7, op. 92”, e seu antípoda preferido, Gioacchino Rossini, com a “Abertura” da ópera “Guilherme Tell”. Além deles, o aluno preferido de W. A. Mozart, grande a seu tempo e hoje eventualmente desconhecido, Johann Nepomuk Hummel – com a “Fantasia para Viola e Orquestra em sol menor, Op.94”.
O programa poderia chamar-se, assim, “Contemporâneos de Beethoven”. Mas não seria justo: parafraseando a piada involuntária deixada por Arnold Schoenberg sobre Thomas Mann, não é fácil, à luz dos fatos históricos, saber quem era contemporâneo de quem. Os três artistas fizeram sucesso, e mantiveram carreiras muito celebradas, cada qual por seus próprios méritos.
O programa sintetiza assim as mais sofisticadas forças musicais envolvidas na música europeia da primeira metade do século XIX. A Osesp será regida por Nathalie Stutzmann e terá por solista o violista Antoine Tamestit. Imperdível.
A propósito: faremos pelo Facebook uma transmissão ao vivo da aula do Falando de Música, direto da Sala São Paulo, quinta dia 01 de novembro, às 19h30. Acompanhe pela página do Estado da Arte!
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Em parte, fizemos uma parada também por questões políticas. Ou melhor, apolíticas – o cenário aquecido das eleições reforçaram-me a saída sugerida aos alemães por Thomas Mann à ocasião dos extertores da Segunda Guerra Mundical: “Abwenden, abwenden!”, teria dito o escritor a seus compatriotas. “Deixe isso, deixe isso!” foi o conselho para os intelectuais e artistas de seu tempo que, sobre o vulcão, ameaçavam querer dançar. Vi-me justificado.
De qualquer forma, uma entre as recentes notícias políticas – não do Brasil, mas da Europa – causaram eco no mundo musical. Todos reconhecemos que a saída de Angela Merkel do governo alemão em 2020 será sentida por todo melômano alemão.
O mais estável e bem organizado sistema de orquestras sinfônicas do continente certamente viu-se durante todos estes anos com boa interlocução com a Chanceller – com quem já tive o prazer de partilhar espaço na plateia da Philharmonie de Berlim. Mas não foi meu privilégio: ela é uma das mais assíduas frequentadoras de concertos e museus da história política recente nos países desenvolvidos, e uma fervorosa defensora do financiamento público das artes.
Sua partida em 2020, muito provavelmente, ocasionará um reajuste de prioridades no governo alemão.
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Temporadas clássicas de 2019: Osesp, Cultura Artística e a TUCCA mostraram fôlego impressionante no cardápio oferecido ao público para o ano que vem.
Entre os destaques os programas com obras de Holliger, Shostakovich e Sibelius em Abril (Osesp), a Boston Philharmonic Youth Orchestra com Benjamin Zander (TUCCA) e Elina Garanca (Mozarteum) em Junho, a estréia de “Ó” de Felipe Lara ao lado de “Agnus Dei” de Samuel Barber e “A Ilha dos Mortos, Op.29” de Rachmaninov em setembro (Osesp), a
Orquestra Sinfônica de Montreal em outubro (Cultura Artística), John Elliot Gardiner e The english Baroque Soloists em novembro (TUCCA) além de um programa Santoro, Ginastera e Shostakovich em dezembro (Osesp).
Os detalhes, é claro, valem comentários na próxima semana.