por Leandro Oliveira
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Enquanto no Brasil organizamo-nos — ou não… — para superar a crise santária internacional, os agentes do mercado cultural seguem apreensivos quanto às limitações evidentes impostas pela provável nova realidade dos próximos anos. Instituições de música clássica na Europa começam a propor os experimentos da retomada. De modo geral, tais experimentos — ainda embrionários e em fase de adaptações — lidam com a permanente atualização do quadro de contaminação. Além dessa, três realidades parecem inescapáveis no segundo semestre:
1) A necessidade de preservar, nas salas de concerto, um novo tipo de ocupação. Trata-se de problema logístico de alocação de espaços, que gera um enorme dilema econômico, sobretudo em instituições para as quais o valor do ingresso é uma variável relevante. Estudos, que levam em conta a configuração específicas de certas casas de espetáculo, sugerem uma ocupação de um terço da capcidade. O espaço no palco, onde o repertório por vezes exige a maior proximidade entre os músicos, tampouco tem sido desprezado. A Espanha associa à retomada paulatina das atividades de concerto, já a partir do dia 25 de maio, a esta configuração de platéia reduzida.
2) A duração dos espetáculos, com uma média de duas horas e meia, parece ser muito longa numa situação de vulnerabilidade geral. É mais provável que a retomada conte com eventos mais curtos, onde o grau de interação acabe por dar-se num tempo limitado, por vezes evitando o intervalo entre as partes do concerto. Propõe-se programas com uma hora de duração, ou ainda mais curtos. Neste molde, o Brucknerhaus, in Linz, deverá realizar o retorno de suas atividades já no próximo dia 05 de julho.………
3) Nenhuma solução de curto prazo deverá prescindir de um planejamento, a médio e longo prazo, no qual criatividade e capacidade de reinvenção devem ser a nova tônica. Por óbvio, investimentos sistemáticos na qualidade do acesso e de um acervo digital, tornou-se uma realidade incontornável. Qualquer que seja a dimensão da atividade cultural — e qualquer que seja seu impacto, local, regional ou global — a realidade digital, a mercê de uma boa curadoria e efetividade, precisará ser parte do dia-a-dia, organizada como solução de escalabilidade e rentabilidade ao espetáculo tradicional. Mas não só isso: será igualmente importante repensar o próprio espetáculo tradicional, por meio destas novas tecnologias. Como diz o presidente francês, Emmanuel Macron, dirigindo-se especialmente a classe de artistas de ópera, dança e concerto: “será necessário inventar […], será necessário fazer diferente”.