por Leandro Oliveira
Fratres é uma espécie de epítome do idioma musical maduro de Arvo Pärt – em uma medida, expressão única de seu misticismo especial.
Nascido na Estonia (1935), o trabalho de Pärt é um elemento central da paisagem musical do último quarto do século XX – e o primeiro quarto do nosso. O compositor desenvolveu um gênero muito curioso de organização do material sonoro, a que chamou por “tintinnabuli” (da palavra latina tintinnabulum, que significa sino). A música tintinabular é caracterizada por uma estrutura polifônica onde às notas da tríade perfeita somam-se vozes (não muito mais que duas) com movimento simples. O efeito é, quase sempre, de absoluta estabilidade, em harmonias limitadas e figuras rítmicas repetitivas – o que o faz por vezes ser associado ao minimalismo.
O misticismo cristão é a premissa de todo trabalho do compositor, como ele mesmo descreve:
“O complexo e multifacetado apenas me confunde, e eu devo procurar a unidade. O que é isso, e como posso encontrar o caminho para isso? Traços dessa coisa perfeita aparecem em muitas formas – e tudo o que não é importante desaparece. Tintinnabulation é assim… As três notas de uma tríade são como sinos.”
Fratres tem uma forma simples, baseada em um tema composto pelo contorno de uma nota central. Esta pequena estrutura é espelhada e a isso seguem oito variações. O resultado final, é uma espécie de mantra.
“Fratres” de Arvo Pärt será apresentado pela Osesp nesta quinta, sexta (20h30) e sábado (16h30). O regente (e solista do “Concerto Funebre” de Karl Hartmann) será o maestro austríaco Thomas Zehetmair. Na segunda parte do programa, a Sinfonia 40 de Mozart.
Uma hora antes de cada evento, apresento para o público o Falando de Música, gratuitamente, no Salão Nobre da Sala São Paulo.