por Leandro Oliveira
O final de semana de Páscoa é sempre bem acompanhado por J. S. Bach – penso, claro, nas “Paixão de São Mateus” (BWV 244) e “Paixão de São João” (BWV 245), ou em seu “Oratório de Páscoa” (BWV 249). Todos temos gravações favoritas entre as várias dezenas disponíveis. As minhas, por enquanto, são estas:
Philippe Herreweghe (em Harmonia Mundi) gravou a “Paixão de São João” duas vezes. Há diferenças substanciais, e talvez a mais notável seja o coro de abertura, substituído por uma versão mais humilde na segunda. Os cantores desta no entanto – Andreas Scholl e Mark Padmore como evangelista -, são um sonho.
A versão de “João” por John Butt com o Dunedin Consort estabelece o contexto litúrgico do serviço da Sexta-feira Santa de Leipzig usando uma heterodoxa combinação das versões 1724 e 1749 – e o resultado é particularmente intrigante. Além do toque especial do cenário, há uma leitura viva e fresca, num desempenho contagiante que me estimula a cada nova audição.
Quanto à “Paixão segundo São Mateus”, é difícil escolher uma gravação favorita. Mas certamente a segunda gravação de Philippe Herrewege, continua a me impressionar. O tipo de dicção alcançada pelo coro e as cores da orquestra são pequenas jóias dentro de um monumento.
Outra versão de “Mateus” que me tira o prumo é a quarta gravação de Nikolaus Harnoncourt – aquela que conta com um elenco de solistas estelares, como Christoph Prégardien, Mathias Goerne, Christine Schäfer entre outros. A suma do talento humano à mercê da música do maior gênio.
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Se o leitor quiser buscar algo além de Bach para as orações musicais pós-ceia, há o fantástico e pouco conhecido “Oratório de Páscoa” de C.H.Graun (1704 – 1759). Considerado ao lado de Johann Adolph Hasse, é o mais importante compositor alemão de óperas em estilo italiano. Com este “Oratório” ele nos deixa uma pequena obra de exata uma hora e que, em quatro partes, segue consistentemente edificante (há uma gravação ótima de Michael Alexander Willens e seu Kölner Akademie, disponível pelo iMusic e Spotify).
Se a digestão estiver demorada, no entanto, o leitor pode apostar em sonoridades mais monstruosas, como as de Richard Wagner e aquela que é a ópera de Páscoa por excelência, seu “Parsifal”. Claro, é uma obra longa e difícil, e eu não conheço quem a tenha enfrentado inteiramente e com gosto desde a primeira audição. Mas sua qualidade mística é realmente única e há ótimas gravações – para ficar em uma, deixo esta belíssima versão legendada em português, de uma produção do Metropolitan de Nova Iorque.
Boa Páscoa a todos!