Melhores de 2017

Leandro Oliveira apresenta seus melhores do ano -- gravações e livros -- no mundo da música clássica.

por Leandro Oliveira

O ano de 2017 pareceu encarnar o espírito da renovação no mundo da música clássica internacional. Alguns entre os mais extraordinários feitos artísticos foram galvanizados por músicos nascidos na década de setenta e oitenta – sinais inequívocos de que a nova geração, finalmente, está a assumir o controle da produção e gosto de nossa época. Uma lista difícil de realizar, a dos meus achados no mercado da música deste ano. Mas vamos a ela!

Gravações

Há muito tempo ouço com interesse Vasily Petrenko – o outro Petrenko, que não o futuro diretor da Filarmônica de Berlim. Conheci o maestro à ocasião de uma estupenda 11a sinfonia de Shostakovich com nossa Osesp, nos idos de 2011. Foi para muitos de nós o melhor concerto da temporada. Desde então, sua discografia não para de aumentar e neste ano de 2017, tivemos a oportunidade de ouvir a conclusão de sua integral-Tchaikovsky com a Royal Liverpool Philharmonic Orchestra. A gravação das Sinfonias n. 3, op. 29 “Polonesa”; n.4, op 36 e n.6, op. 74 “Patética” somou-se as já poderosas versões daquelas de número 1, 2 e 5 publicadas ano passado. Trata-se de um dos grandes ciclos de sinfonias de Tchaikovsky de tempos recentes e, com ele, a formação inglesa foi alçada a um nível altíssimo de qualidade artística.

Também daquele incrível ano de 2011 remontam minhas primeiras impressões sobre os estudos para piano de Philip Glass, quando o compositor trouxe algumas destas pérolas para uma apresentação na Sala São Paulo. Em abril, o pianista islandês Víkingur Ólafsson gravou a integral dos estudos pela Deutsche Gramophon – e a publicação se tornou imediatamente histórica. O repertório, eventualmente pouco conhecido no ambiente tanto do repertório pianístico tradicional quanto no ciclo restrito da música contemporânea, mostrou-se não apenas envolvente mas formalmente coerente e sofisticado.

James MacMillan é um dos grandes mestres da música de nosso tempo, e o público de São Paulo conhece intimamente seu concerto para percussão e orquestra extraordinário, chamado Veni, Veni Emmanuel – programado já algumas vezes e executado pela Osesp, inclusive em turnês internacionais. Agora, seu Stabat Mater reforça a impressão de que MacMillan é simplesmente o criador da melhor música religiosa contemporânea que se pode ouvir.

Joyce DiDonato, Michael Spyres, Marie-Nicole Lemieux, Stéphane Degout, Nicolas Courjal, Marianne Crebassa, Hanna Hipp, Cyrille Dubois, Stanislas de Barbeyrac, Philippe Sly e o maestro John Nelsonm à frente da orquestra e coro da Philharmonique de Strasbourg, Choeur de l’Opéra du Rhin, Badischer Staatsopernchor gravaram o fantástico tour de force Les Troyens de Hector Berlioz. Simplesmente, pela importância da obra e suas poucas referências de altíssima qualidade, não dá para não ter.

Livros

Entre os livros imperdíveis de música e cultura, em inglês, há pelo menos duas grandes publicações – ambas pela California University Press. “From 1989, or European Music and the Modernist Unconscious” de Seth Brodsky e “Music after the Fall. Modern Composition and Culture since 1989” de Tim Rutherford-Johnson são livros de análise e história que, assumindo todos os riscos e ousadia necessários para análise da história recente, ocuparão as mentes dos amantes de música por um bom tempo.

Em português, são inescapáveis as publicações Beethoven: Angústia e Triunfo, de Jan Swafford — atualíssimo! — e  Schubert, um compêndio, pela Editora USP, tradução do Cambridge Companion to Schubert de… 1997.

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