Mulheres compositoras e Leonard Bernstein

Na coluna de hoje, o maestro Leandro Oliveira destaca o protagonismo das mulheres na música clássica internacional e os números impressionantes do compositor Leonard Bernstein.
A compositora inglesa Elizabeth Maconchy (Foto: British Music Collection)

por Leandro Oliveira

Na música clássica internacional, parece ser a hora e a vez das mulheres. 

Entre as 2.891 obras orquestrais contemporâneas executadas no último ano (estatísticas concentradas em 33.578 concertos da database do site bachtrack.com), 12,8% delas foram escritas por mulheres – com uma singular disparidade entre países, estando Alemanha e França programando cerca de 5% de seu repertório e a Suécia mais de 30%.

Se a base geral no ambiente estrito da produção contemporânea parece pequena, não pode-se menosprezar seu contexto, melhor expresso em outro dado: compositoras do passado começaram a ser mais programadas e, hoje, 26 mulheres estão entre os 400 mais tocados nos espaços de concerto – o dobro de cinco anos atrás.

Ainda: a Filarmônica de Nova Iorque e seu diretor artístico, Jaap van Zweden, marcarão o centenário da ratificação da 19ª Emenda – a que concede direitos iguais de voto às mulheres – comissionando trabalhos para 19 compositoras. Chamado por “Projeto 19”, deverá ocupar algumas temporadas e terá início em fevereiro de 2020, quando estão previstas estreias mundiais para três semanas consecutivas de programação.

As 19 compositoras comissionadas são Unsuk Chin, Mary Kouyoumdjian, Joana La Bárbara, Tania León, Nicole Lizée, Caroline Mallonee, Jessie Montgomery, Angélica Negrón, Olga Neuwirth, Paola Prestini, Ellen Reid, Maria Schneider, Caroline Shaw, Sarah Kirkland Snider, Anna Thorvaldsdottir, Joan Tower, Melinda Wagner, Nina C. Young e Du Yun.

Para quem tem interesse no assunto, algumas entre as grandes mulheres compositoras de todos os tempos tem biografias acessíveis aqui; uma espécie de compêndio dedicado ao trabalho de mulheres no universo clássico é o livro “Women Composers of Classical Music“, com referências de mais de quatro séculos de produção e 369 biografias.

Para uma literatura detalhada sobre o tema, dois livros – bem diferentes em sua abordagem, mas ambos interessantes – são “Women Composers” (1994) de Diane Peacock Jezic, incontornável embora eventualmente datado, e o extraordinário “Sounds and Sweet Airs: The Forgotten Women of Classical Music” da historiadora Anna Beer. O livro de Beer é dedicado às biografias de Francesca Caccini (1587-1641) de Florença; Barbara Strozzi (1619-1677) de Veneza; Elisabeth Jacquet de la Guerre (1665-1729) de Paris; Marianna Martines (1744-1812) de Viena; as alemãs Fanny Mendelssohn (1805-1847) e Clara Wieck (1819-1896); Lili Boulanger (1893-1918) de Paris e a incrível Elizabeth Maconchy (1907-1994) de Dublin.

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Ainda segundo o bachtrack.com:  foi Leonard Bernstein, o aniversariante de 2018, o grande artista das temporadas de concertos internacionais do ano passado. Ele se tornou, após Mozart e Beethoven, e à frente de J. S. Bach, o compositor mais executado do ano. O terceiro lugar foi devido ao sucesso reiterado da apresentação de obras como as “Danças Sinfônicas de West Side Story”, a abertura da ópera “Candide”, a “Serenata sobre o “Simposium” de Platão” (as três peças sinfônicas mais executadas do ano) além da cantata “Chichester Psalms”, que ficou em quinto lugar, logo atrás – imaginem! – da “Quinta Sinfonia” de Beethoven e à frente de “Messias” de Haendel. 

Este tipo de empenho de programadores de todos mundo, natural em efemérides de toda sorte, foi, neste caso, fruto também do engajamento da Bernstein Foundation, cujo objetivo para o ano era levar “a música de Bernstein para as próximas gerações” e torná-la mais conhecida pelo que ela é e vale.

As informações integrais da pesquisa do Bachtrack podem ser conferidas em bachtrack.com.

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