por Leandro Oliveira
Heinrich Heine e Robert Schumann encontraram-se apenas uma vez, em 1828, em Munique. Schumann com dezoito anos era um jovem aspirante ao mundo profissional da música, Heine com trinta e um era redator e editor da Cotta-Verlage. Schumann resume o encontro, que ocorreu em Munique em maio, em uma carta ao amigo Heinrich Kurrer, datado do dia 9 de junho do mesmo ano:
“(…) Em Munique, encontrei-me, como creio já ter escrito para você, não muito bem estabelecido e notei prontamente a atmosfera de frio cortante da residência. A gliptoteca, magnificamente disposta, ainda não estava completa, o que deixou um sentimento geral de insatisfação, e apenas o encontro com Heine (…) fez a minha estadia razoavelmente interessante e atraente. Imaginei em Heine um homem rabugento e misantropo, alguém tão enorme diante da Homem e da vida, que podia senão tolerá-los. Mas quão diferente do que imaginava e quão diferente ele era daquilo que poderia ser. Aproximou-se de mim gentilmente, como um Anacreon grego, humano, e apertou amigavelmente minha mão, levando-me a passear por horas em Munique… em torno de sua boca havia somente um sorriso irônico e agridoce, e um grande sorriso para as trivialidades da vida, além de um certo tom zombeteiro acerca das pessoas mesquinhas; e aquele sarcasmo amargo, muitas vezes percebidos em seu Reisebildern, o profundo sentimento interior pela existência… acabava por tornar suas conversas muito atraentes. Nós falamos muito sobre o grande Napoleão. (…)”
Para Schumann, o encontro só deu frutos criativos doze anos depois quando, em 1840, todas as suas canções sobre poemas de Heine foram criadas. Foram mais de quarenta obras sobre os textos do poeta – mais do que qualquer outro escritor de sua geração. Imediatamente após sua publicação, Schumann tratou de enviar o Opus 24 para o poeta, que vivia em Paris já a algum tempo. Mas não obteve resposta – de fato, não sabemos sequer se as partituras alcançaram o poeta. Logo após este episódio, o entusiasmo de Schumann por Heine parece declinar rapidamente.
Entre as obras resultantes deste encontro miraculoso, o extraordinário ciclo “Amor de Poeta”, publicado como seu opus 48, e hoje reconhecido como o pináculo na história do gênero. A obra será apresentada no Theatro São Pedro no espetáculo “Schumann ou, Os Amores do Poeta”, entre os dias 29 e 31 de março. Reunindo música e dança, serão apresentadas canções de diferentes ciclos do compositor, com adaptações de Ricardo Ballestero, coreografia de Milton Coatti e Cassi Abranches, iluminação de Caetano Vilela e concepção cênica de William Pereira em parceria com a São Paulo Companhia de Dança, dirigida por Inês Bogéa.
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Para o arquivo de crônicas: Nathalie Stutzmann deveria reger a Royal Scottish National Orchestra em uma turnê por Perth, Edimburgo e Glasgow, mas acabou cancelando “por motivos pessoais”.
Em vez de contratar outro maestro, a orquestra decidiu que poderia seguir sozinha com sua spalla, Sharon Roffman, que fará a direção sentada enquanto toca seu instrumento. Para Roffman, “uma das coisas divertidas sobre tocar com diferentes regentes a cada semana é que os músicos se tornam como camaleões musicais, mudando estilos e interpretações de acordo com o gosto e as idéias de cada maestro. Tocar sem um maestro nos leva a privilegiar um espírito coletivo (…). Estou ansiosa para embarcar nessa aventura com meus colegas!”
O diretor musical, Thomas Søndergård gostou da ideia.