por Leandro Oliveira
O produtor de cinema canadense Alex Olegnowicz é CEO da Symmetrica INC, empresa baseada em Toronto cujo objetivo é oferecer soluções para streaming e webcast. Em visita ao Brasil, ele falou sobre os desafios do streaming de orquestras sinfônicas para o Grupo de Trabalho de Aplicações Avançadas de Visualização Remota, que reúne algumas das importantes instituições de pesquisa do Brasil. A entrevista a seguir, concedida por ele ao Estado da Arte, visa à discussão desses desafios.
Leandro Oliveira – O streaming de orquestra é o futuro das orquestras sinfônicas?
Alex Olegnowicz – Houve, ao longo dos anos, muitos palpites a respeito da morte da música clássica, das orquestras e da ópera. A verdade, porém, é que a resposta varia de acordo com onde no mundo se olha. Ano passado, na League of American Orchestras (Liga Americana das Orquestras), uma sessão foi dedicada exclusivamente ao estudo do futuro das orquestras, e os resultados apontam para uma redução significativa do número de orquestras na América do Norte. Há várias razões para essa aparente tendência, desde a falta de investimentos até a falta de compreensão de como se aproximar da nova geração. Os resmungos constantes dos “puristas” clássicos e as questões trabalhistas que infestam o sistema. Salvas poucas exceções, isso também afeta o streaming e a promoção digital das orquestras. Na Europa, é mais aberto e inovador. As orquestras fazem streaming e webcast constantemente, e seus números são impressionantes, mas precisamos ter em mente que um país como a Alemanha vende tantos ingressos para eventos de arte quanto para a abertura do seu campeonato de futebol. No momento, ainda não é um modelo baseado no rendimento, mas irá se tornar quando as pessoas se acostumarem a ouvir e assistir online e a utilizar as incontáveis vantagens oferecidas pela tecnologia.
Leandro Oliveira: Qual o maior desafio do mercado?
Alex Olegnowicz – O mercado tem muitos desafios, desde questões legais e de direitos até uma longa tradição de “desconforto” de se ser gravado ao vivo. Mas é exatamente isso o que torna assistir a uma performance ao vivo interessante. É isso que faz cada performance única. O espectador quer saborear as diversas interpretações e o sentimento de uma experiência verdadeiramente orgânica, e não uma versão estéril e muito revisada.
Leandro Oliveira – O que você percebe como potencial para o Brasil e América Latina?
Alex Olegnowicz – O Brasil e a América Latina apresentam desafios diferentes. Obviamente, a América Latina está sempre à mercê das instituições de financiamento, que estão em contínua transformação e apresentam um constante estado de incerteza para orquestras e instituições artísticas no geral. Ao mesmo tempo, lugares como o Brasil também oferecem oportunidades incríveis. Primeira e notavelmente, o Brasil tem uma abundância incrível de talentos, de compositores a músicos, regentes e artistas no geral. Isso conciliado a uma boa startup tecnológica com pesquisa dedicada, e ao calor latino – que é por si só uma vantagem subestimada, inovadora e determinada –, e se tem uma perfeita tempestade de inovação artística.