Notas do Maestro Leandro Oliveira sobre as apostas da tecnologia para o momento pelo qual passamos, e o que virá depois dele, pelo prisma das atividades no setor cultural.
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No último artigo, comentei sobre os projetos europeus de retomada das atividades presenciais no setor cultural. No Brasil, após o justificado susto do primeiro mês de reação, os gestores começam a realizar os esboços daquilo que poderíamos chamar por “protocolos” da retomada.
Um estudo entre tantos chama a atenção. É aquele proposto pela startup “Ingresse”, empresa com sede em Manaus que oferece serviços de venda de ingressos online para eventos de entretenimento por meio de redes sociais.
Em um vídeo chamado “Plano de Retomada – Eventos, cultura, teatro e exposições”, o CEO da empresa, Gabriel Benarrós, comenta o que sugere ser um percurso em quatro fases — da avaliação do risco ao ciclo de aprendizado necessário, para um período que necessariamente será de reavaliação do impacto das medidas tomadas.
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Há muitos outros movimentos — e, certamente, todas as instituições brasileiras sérias seguem com a avaliação atualizada dos protocolos internacionais e sua adequação para a retomada local de atividades. É um trabalho desafiador, para o qual ainda há mais dúvidas que certezas. Mas o setor da cultura começa a se colocar de modo proativo na proposição de soluções para o mercado.
É um sinal saudável e que deve ser bem recebido pela comunidade de amantes da arte.
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A rádio Classic FM aponta com espanto o crescimento de sua base de ouvintes: foram 196.000 novos ouvintes no ano passado, de acordo com novos números divulgados pela RAJAR (Radio Joint Audience Research). A pesquisa coincidiu com os primeiros estágios de bloqueio e autoquarentena devido à epidemia de coronavírus. Os números sugerem que milhões se voltaram para a música clássica, e também mostra que eles passaram mais tempo do que nunca no dial — ouvindo 2,6 milhões de horas a mais.
A popularidade também atravessou as gerações. A Classic FM registrou um aumento nos ouvintes mais jovens, com menos de 25 anos agora totalizando 497.000 — 100.000 acima do mesmo período do ano passado.….
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Trecho de um interessantíssimo artigo de Alan Davey, controller da Rádio BBC 3, que saiu recentemente da revista “International Arts Management”:……..
“Mesmo antes da crise, estávamos passando por momentos interessantes para a música clássica. Enquanto os consumidores regulares de música clássica, como evidenciado pela idade do público em algumas salas de concerto e casas de show, continuavam maduros (e em alguns mercados o público estava ficando significativamente mais velho), também parecia haver muitas pistas de que os jovens estavam desenvolvendo um interesse pela música clássica sem necessariamente ter conhecimento dela.
Pesquisas realizadas pelo MIDiA no ano passado em vários países sugeriram que:
– A música clássica é o quarto gênero mais popular em todo o mundo, à frente do hip-hop e do RnB, com 35% de todos os adultos ouvindo. […]
– 30% de todos os consumidores de música são ‘entusiastas do clássico’, ou seja, gostam de ouvir música clássica, mesmo que não sejam especialistas, o que representa uma oportunidade considerável para a industria.
– 49,3% dos ouvintes clássicos ouvem via áudio ou plataformas de streaming de vídeo […].”…
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As operações digitais são já uma realidade no mundo internacionalizado da música clássica. A atual crise sanitária apenas nos faz lembrar daquilo que era, de outro modo, inevitável.
O caso é que se trata de um universo comunicacional diferente, e, por isso, eventualmente inóspito para quem segue sentado em ativos cuja mentalidade um teórico da comunicação canadense, Marshall McLuhan, bem definiu: “tipográfica”.
A mentalidade tipográfica é avessa ao este novo mundo. As ações da hiperconexão requerem agilidade descentralizada e permanente feedback. O público parece estar apto a mergulhar nessa nova música; resta que os gestores entendam e convidem para perto os novos atores desta cadeia criativa.…………
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