por Leandro Oliveira
O pianista britânico Stephen Hough apresenta-se esta semana com a Osesp nos dias 15, 16 e 17 de junho na Sala São Paulo como solista da “Rapsódia sobre um tema de Paganini” de Sergei Rachmaninoff. Os eventos têm tudo para ser dos momentos inesquecíveis da temporada 2017.
Muitos dos álbuns de Hough obtiveram prêmios internacionais, incluindo várias indicações ao Grammy e oito Gramophone Magazine Awards (incluindo Disco do Ano em 1996 e 2003). Mas entre os mais de 50 CD’s gravados por Hough, talvez seja sua integral com os concertos para piano e orquestra de Rachmaninoff seu feito mais impressionante. Realizadas ao vivo com a Dallas Symphony Orchestra sob a regência de Andrew Litton chegaram a ser comparadas às gravações feitas pelo próprio compositor – e a versão da “Rapsódia” acaba por ser, em maio deste ano, mais uma vez referendada pela BBC Music Magazine como a melhor no mercado.
Nascido em 1961, Stephen Hough iniciou aulas de piano aos cinco anos de idade. Professor visitante de piano na Royal Academy of Music em Londres, Hough também detém a Cadeira Internacional de Estudos de Piano no Royal Northern College of Music em Manchester. Ele escreveu para o Guardian, o Times e foi convidado pelo Telegraph Media Group em dezembro de 2008 para escrever um blog cultural que recebe 10 a 15 mil visitas por semana. Além do piano, dedica-se à pintura e à composição – sua sonata para piano “Broken Branches” (2010) é um primor; além dela, seu concerto para violoncelo – escrito para Steven Isserlis – estreou em março de 2007, ano em que a Abadia de Westminster e a Catedral de Westminster realizaram suas “Missas”.
A relação de Hough com a religião, vale dizer, não é fortuita: o solista dos concertos desta semana da Osesp é autor de um não ligeiro estudo sobre a leitura da Bíblia. Adequado para quem vive às voltas, ainda que indiretamente, com Paganini.
Uma espécie de homem do Renascimento, Hough é um dos 20 maiores polímatas vivos segundo a The Economist.
E toca piano à beça. A regência dos concertos desta quinta, sexta e sábado é do jovem maestro e compositor israelense Omer Meir Wellber.
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Em Conversations with Igor Stravinsky, de Robert Craft, o compositor russo dá um depoimento sobre seu conterrâneo, Rachmaninoff: “Lembro-me das primeiras composições de Rachmaninoff. Eram ‘aquarelas’, canções e peças para piano influenciadas por Tchaikovsky. Depois, aos vinte e quatro anos, voltou-se para a ‘pintura a óleo’, e tornou-se, na verdade, um compositor velho. Não pense porém, que eu vá desprezá-lo por isso. Ele era, como já disse, um homem apavorante e, além do mais, há muitos outros para serem desprezados antes dele. […] E ele era o único pianista que jamais encontrei que não fazia caretas. Isto já é muito”.
É de se entender a resistência. Composta em 1934, a Rapsódia foi criada em pleno ambiente modernista. Formalmente trata-se de vinte e quatro variações sobre o tema do vigésimo quarto Capricho de Paganini (composto para violino solo). Curiosamente, as Variações compõem também uma forma híbrida, organizando as variações em três seções análogas aos três movimentos de um concerto para piano (algo difícil de descrever mas bastante evidente aos ouvidos atentos, que percebem toda a seção lenta central). Mas a sensibilidade é tonal, a organização fraseológica simétrica, a instrumentação ortodoxa: tudo tradicional demais para o rei da modernidade.
Sabemos das cartas de Rachmaninoff, que de uma troca de mensagem entre ele e o coreógrafo Michel Fokine surge a ideia da “Rapsódia” como um espetáculo de balé, a chamar-se “Paganini”. “Paganini” foi estreado em 1939 pelo Royal Ballet no Royal Opera House em Covent Garden, Londres, e foi um sucesso.
Sobre isso e um pouco mais, no Falando de Música para a Osesp – uma hora antes de cada concerto da orquestra nesta quinta, sexta às 20h00 e sábado às 15h30. Um pequeno roteiro audiovisual, narrado pela amiga Mônica Waldvogel, antecipando e ilustrando estas informações, está disponível na internet.