Reportagem do jornal londrino The Harmonicon sobre a estreia da Nona Sinfonia de Beethoven, três anos antes de sua morte.

Nesta semana, a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo toca a Nona Sinfonia de Beethoven, e o Estado da Arte reproduz a crítica do jornal londrino The Harmonicon, quando da da estreia da obra.

Beethoven, tendo já há algum tempo insistido em se retirar mais e mais da vida pública fechando-se ao mundo, realmente parecia desejoso de viver entre as criações da sua própria fantasia; assim, alguns patronos e amantes da arte realizaram uma reunião em Viena, ocasião em que foi elaborado um convite, que tendo sido apresentado a este grande, porém singular homem, foi respondido com os resultados que foram tão ansiosamente desejados.

Assim, no dia 7 de maio uma grande performance musical foi realizada no Teatro Kärnthnerthor. Os regentes foram o Mestre de Capela Umlauf e o senhor Schuppanzigh, e o Grande compositor em pessoa auxiliou na ocasião. Ele tomou seu lugar ao lado do regente principal, e, com a partitura original à sua frente, indicou os vários movimentos e determinou a maneira exata que deveriam ser executados; pois, infelizmente, o estado de sua audição o impedia de fazer mais. O teatro estava abarrotado em excesso, e a sensação causada pela presença deste grande homem é de um tipo que é mais fácil de imaginar do que descrever. O arranjo das peças executadas foi o seguinte: 1o. A Grande Abertura em C-maior [“A Consagração da Casa”]; 2o. Três Grandes Hinos, com o solo e as partes corais, de sua nova Missa [a Missa Solemnis], jamais tocada antes; 3o. Uma grande Nova Sinfonia, com um finale, no qual é introduzido um solo e uma parte coral, da “Ode à Alegria” de Schiller. Esta foi executada pela primeira vez, e é a última composição de Beethoven.

(…)

Na conclusão do concerto Beethoven foi unanimemente conclamado a comparecer ao palco. Ele saudou modestamente o público e se retirou entre as mais efusivas expressões de entusiasmo. Ainda assim, o sentimento de alegria foi temperado por uma comiseração universal ante um indivíduo tão dotado trabalhando sob tamanha aflição, a mais cruel que poderia se precipitar sobre um artista desta profissão para a qual a natureza o destinou. Não temos dúvida de que o mestre considerará este um dos dias mais dignos de orgulho em sua existência, e é de se esperar que o testemunho do sentimento geral que ele presenciou tenderá a aliviar o seu espírito, mitigando alguns de seus dissabores, e convencendo-o de que ele está sobre um pináculo, muito além do alcance da inveja e de qualquer outra paixão perversa.

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