A corte de Luís XIV

Entrevista com Laura Ferrazza, Robert Ponge e Rodrigo de Lemos. Por Marcelo Consentino. Rádio Estado da Arte.

Entrevista com Laura Ferrazza, Robert Ponge e Rodrigo de Lemos. Por Marcelo Consentino.

Rádio Estado da Arte.

Todos os dias a mídia proclama um novo rei — o “Rei do Rock!”, o “Rei do Futebol!” — ; um mercador não tem pudores em se propagandear o “Rei da Banha”; toda turma tem o seu “Rei da Cocada Preta”. Mas houve um tempo — quase toda a história humana — em que em cada nação imperava um único rei, e nos tempos modernos – talvez em todos os tempos –, nenhum foi tão paradigmático quanto o Rei Sol.

Em Luís XIV, disse Goethe, “a natureza fabricou o espécime do tipo monárquico, e, assim o fazendo, se exauriu e quebrou o molde”. Ele concentrou a autoridade da Igreja, o poder da aristocracia e o dinheiro da burguesia com mão de ferro, mas aberta. “Nunca na história um governante foi tão generoso para a ciência, as letras e as artes. Luís XIV perseguiu jansenistas e huguenotes, mas foi sob ele que Pascal escreveu, Bossuet pregou e Fénelon ensinou”, disse o historiador Will Durant. “Nunca a França escreveu melhores dramas, melhores cartas, ou melhor prosa. As boas maneiras do rei, seu autocontrole, sua paciência, seu respeito pelas mulheres, ajudaram a difundir uma cortesia encantadora na corte, em Paris e na Europa. Ele abusou de algumas mulheres, mas sob seu domínio as mulheres atingiram um status, na literatura e na vida, que deu à França uma cultura bissexual mais adorável do que qualquer outra no mundo. Tudo somado, e lamentando que tanta beleza tenha sido maculada com tanta crueldade, podemos nos unir à França em aclamar a era de Luís XIV como comparável à Grécia de Péricles, à Roma de Augusto, à Itália renascentista, e à Inglaterra elisabetana entre os picos da vacilante trajetória humana”.

Visto à distância, é verdade, o que parecia o zênite da monarquia foi apenas a luz crepuscular de um antigo regime decadente, contraproducente e opressivo. A revolução democrática defenestrou os reis, guilhotinou suas cabeças, tolheu seu direito divino, e a voz do povo se tornou a voz de Deus. Mas se esse novo monarca anônimo e mais absoluto que os antigos por vezes os superou em magnanimidade, em tantas outras foi muito mais despótico. Talvez ele se engrandecesse se desse ouvidos à última palavra sobre o Rei Sol. Ao fechar as cortinas do Grand Siècle na oração fúnebre a Louis le Grand, o bispo de Massillon concluiu: “Só Deus é grande”.

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Louis XIV, patrono das artes e ciências | Jean Garnier, 1672

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Convidados

Laura Ferrazza: Doutora em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

Robert Ponge: Pesquisador e orientador da Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Rodrigo de Lemos: Professor do programa de Línguas Estrangeiras da Universidade Federal de Ciências da Saúde Pública de Porto Alegre.

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