Rota da Seda

Entrevista com André Bueno, Daniel Veras e Evandro Menezes de Carvalho. Por Marcelo Consentino. Rádio Estado da Arte.

Entrevista com André Bueno, Daniel Veras e Evandro Menezes de Carvalho. Por Marcelo Consentino.

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O nome “Rota da Seda” é uma convenção historiográfica do século XIX para designar o fluxo comercial ancestral da Eurásia. Na verdade, a seda era uma mercadoria de várias, e não houve uma rota, mas inúmeras, ao norte e ao sul, através das estepes, desertos, montanhas e mares, conectando desde a costa chinesa do Pacífico às costas atlânticas da Europa e da África; da Escandinávia ao Oceano Índico.

Desde os tempos neolíticos até se consolidarem há 2000 anos — muito antes das navegações transatlânticas descobrirem um novo Mundo e a aviação conectar todas as regiões do globo — as rotas formaram a principal artéria intercontinental do planeta, por onde trafegavam mercadores, viajantes, missionários e peregrinos permutando mercadorias e ideias, mas também doenças e violência. Através de suas veias e vasos capilares o Oriente e o Ocidente trocaram entre si o melhor de sua comida, indústria e arte, nutrindo os fluxos de ascensão e queda de grandes impérios gregos, iranianos, árabes ou turcos. Nelas os povos bárbaros e exóticos da Europa conheceram as civilizações mais veneráveis da Ásia, e receberam delas tecnologias revolucionárias, como a pólvora ou o papel. Elas canalizaram as conquistas de Alexandre o Grande ou Gengis Khan e as aventuras de Marco Polo e outros comerciantes. Através delas floresceram cidades legendárias, como Persépolis, Samarkand ou Xanadu; os mongóis, e, em nosso tempo, os russos, ergueram os mais vastos impérios do mundo; os califas muçulmanos e os imperadores chineses se bateram; as antigas religiões do Oriente Médio, como o judaísmo, o zoroastrismo, o maniqueísmo e as primeiras seitas cristãs confluíram para a Ásia profunda, e o budismo e o Islã disseminaram-se ao norte, sul, leste e oeste tornando-se religiões mundiais. Nelas, uma das duas civilizações mais antigas do mundo e uma das duas mais poderosas de nosso tempo, a China, se encontrou com aquela que foi comparativamente a mais poderosa de todos os tempos, Roma.

Após as navegações transatlânticas, as rotas perderam muito de seu apelo, mas ainda catalisaram maravilhas modernas como o Canal de Suez ou a Ferrovia Trans-Eurasiana. E em nosso tempo a China planeja investimentos trilionários na “Nova Rota da Seda” que impactarão diretamente as economias da Ásia, Europa e África, e plasmarão a nova ordem geopolítica global. Ao fim, por mais convencional que seja, o nome Rota da Seda não é ruim: a “rota” é uma metáfora para o eterno percurso do sol crescente ao sol poente e vice-versa. E para o comércio internacional e seus bens — o ouro, o luxo, a aventura, o poder — nada simboliza melhor que a “seda” a cor, a luz, a leveza e a fugacidade que tecem estes sonhos.

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Caravana de Marco Polo, do Atlas Catalão de Carlos V, 1375

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Convidados

André Bueno: professor de história e filosofia chinesa da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Daniel Veras: pesquisador do Núcleo de Estudos Brasil-China da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro.

Evandro Menezes de Carvalho: pesquisador do Núcleo de Estudos Brasil-China da Fundação Getúlio Vargas.

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