Por um automatismo compreensível porém vicioso, nosso senso comum costuma associar o povo inca aos antigos impérios eurasianos, ao Egito ou à Babilônia, na categoria das civilizações fossilizadas, imensas e milenares. Mas essa é só uma meia verdade. O império inca foi, sim, imenso; na verdade, o maior de toda a América pré-Colombiana, espalhando-se por partes do que hoje formam o Peru, Equador, Bolívia, Argentina e Chile. Quando, em 1532, 40 anos após a chegada de Colombo ao continente, os espanhóis aportaram ao Peru, o imperador Inca governava, segundo estimativas conservadoras, cerca de 12.000.000 de pessoas, que falavam 20 línguas diferentes, num território que variava das costas desérticas aos altiplanos andinos às florestas tropicais. Contudo, o Estado Inca, ou “O Reino das Quatro Partes” (Tawantinsuyu), não foi milenar. Por pouco não foi sequer secular, pois cem anos antes de sua queda, ele controlava pouco mais do que uns vilarejos no vale de Cuzco; e desde Manco Capac, o legendário patriarca inca, até Atahuallpa, sequestrado e morto por Pizarro, não mais do que 12 reis incas subiram ao trono. Apesar disso, a civilização inca está longe de ser fossilizada: ainda hoje, cerca de 10.000.000 de pessoas do norte do Equador ao norte da Argentina falam a língua Quechua.
Atualmente, quanto mais a arqueologia penetra no passado, mais reconhecemos que os incas não foram senão a última camada de uma sucessão de civilizações andinas que remontam a pelo menos 5.000 anos atrás. Como o pequeno povo de Cuzco se apropriou desse legado para dominar um território que se estenderia por uma distância equivalente à que corre entre Nova York e o Canal do Panamá? Como puderam ser subjugados por uma expedição de menos de 200 mercenários espanhóis? Como se deu o encontro com a Europa e finalmente com o resto do mundo? E como as civilizações indígenas permanecem vivas na cultura e nos costumes dos povos andinos?
Convidados
Daniela La Chioma: Mestre em Arqueologia Pré-Colombiana pelo Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo.
Eduardo Natalino: Professor de História da América Pré-Hispânica na Universidade de São Paulo.
Márcia Arcuri: Professora do programa de pós-graduação do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo.