Os Profetas de Israel

Com Carlos Alberto Contieri, Francisco Moreno e Suzana Chwarts

Entre muçulmanos, cristãos e judeus, cerca de dois terços da população mundial é devota ao Deus de Israel. E nunca – salvo talvez em Jesus – ele falou tanto em primeira pessoa quanto pela boca dos profetas. Maomé se considerava o último, e seus fiéis, o maior. Cristo foi tomado por profeta, ainda que para muitos, falso. Ele mesmo dizia ter vindo para levar a missão dos profetas à perfeição e viu em João Batista o retorno do profeta Elias, com o qual aliás, segundo Mateus, Marcos e Lucas, conversou num instante de transfiguração junto a Moisés e seu Pai acerca do seu destino e do de Jerusalém.

Dentre os 48 profetas e sete profetisas consagrados pelos judeus, Elias é a figura tipicamente folclórica do pregador, reformista e milagreiro errante.

Muito antes, o pai da raça, Abraão; Moisés, arquétipo dos profetas e também dos sacerdotes e reis; Samuel, vidente e juiz que institucionalizou o profetismo e a monarquia sobre as tribos de Israel; e logo depois poetas como Isaías e Ezequiel. Foram algumas das pessoas mais perturbadoras (e por vezes perturbadas) que já viveram.

Em nome de Deus, Oséias se casou com uma prostituta, Elias massacrou 450 sacerdotes pagãos, e Eliseu, invocando duas ursas, trucidou 42 garotos por tirarem sarro de sua careca. Jeremias tinha traços paranoicos. O espúrio Jonas fugiu de Deus e foi engolido por uma baleia. Todos sofrerama ira de YAHWEH contra a infidelidade de seu povo, acusaram esta ira e por isso sofreram a ira do povo.

Como Moisés, o profeta deve mediar os dois lados: “deve se deixar inflamar pela chama da ira de Deus contra o povo”, dizia o teólogo von Balthasar, mas “como aquele que incorpora essa ira, deve ‘se voltar a Deus’, confessar o pecado e oferecer a si mesmo para uma autoimolação na qual a ira e o pecado se tornam um.” Deste “Eu” dilacerado na luta entre Deus e seu povo muitos exegetas viram surgir não só obras primas como o Livro das Lamentações ou o de Jó, mas, pela primeira vez na história, a noção de “indivíduo.” O Deus dos profetas é único, imutável, onipotente; prefere obediência e misericórdia a rituais; castiga as iniquidades contra os fracos; e pedirá contas às nações por violarem a lei natural e a Israel por violar a sua Lei. Entre a graça e o castigo, a maldição presente e a glória futura, sua mensagem é severa, porém alentadora: Deus restaurará a justiça cumprindo suas promessas ao seu povo e, através deste, à Humanidade. Será a “Consolação de Sião” reservada ao “Resto de Israel”; o “Dia do Senhor” que nascerá com o “Filho do Homem”, o menino Emanuel, “Servo Sofredor” “ungido” que de uma “Jerusalém Eterna” instaurará a “Era da Paz” para o mundo. Com esse impulso ao futuro os profetas estão na origem da visão escatológica cristã do messias e do seu reino milenar e logo, por vias tortas, dos messianismos e milenarismos seculares como o comunismo ou o nazismo. Mas o que as mensagens proféticas terão a nos dizer hoje?

Convidados

Carlos Alberto Contieri: jesuíta pós-graduado em exegese bíblica pelo Instituto Bíblico de Roma, pela Universidade de Louvain e pela École Biblique de Jerusalém.

Francisco Moreno: doutor em Língua Hebraica, Literatura e Cultura Judaica pela Universidade de São Paulo.

Suzana Chwarts: professora livre-docente de Estudos da Bíblia Hebraica na Universidade de São Paulo e autora de Esterilidade na Bíblia Hebraica Via Maris: Textos e Contextos na Bíblia Hebraica.

 

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