De Os Quatro Quartetos
East Coker
IV
Encurva a lâmina o cirurgião ferido
E com ela interroga a parte lesionada;
Sob as ensangüentadas mãos, sentimos
A compaixão cortante de seu nobre ofício
Esclarecendo o enigma da equação febril.
Nossa única saúde é a doença
Se obedecermos à enfermeira agonizante
Cujo incansável zelo não visa agradar-nos,
Mas recordar-nos que, como o de Adão,
Nosso mal, para curar, precisa antes piorar.
O mundo inteiro só nos vale de hospital,
Último bem do milionário arruinado,
E onde, se tudo andar direito, poderemos
Morrer do absoluto e paternal cuidado
Que a cada instante nos ampara e tiraniza.
Faísca perna acima um calafrio.
A febre zumbe nos canais do cérebro.
Para aquecer-me, devo gelar e tremer
Entre os áglidos fogos purgatoriais
Cujas flamas são rosas, e a fumaça sarça.
Nossa bebida é apenas sangue gotejante,
Nosso único alimento carne ensangüentada:
Contudo, alegra-nos pensar que somos
Sadios, carne e sangue elementares — contudo,
Uma outra vez chamamos santa à Sexta-Feira.
Tradução: Ivan Junqueira