Por Jeffis Carvalho
Quem é aquela mulher que corre em direção ao veículo motorizado levando prisioneiros para a morte? Quem é aquela mulher que instantes atrás tentava falar, abraçar e tocar o seu homem — um homem que, agora, é mais um naquele caminhão que ruma para cumprir seu destino fatal?
Aquela mulher que sai correndo, gritando o nome do seu homem, enquanto seu filho corre logo atrás, gritando pela mãe, quem é?
Mãe, pai e filho. Uma tríade que diante da outra tríade, a do Espírito Santo, grita mais do que seus próprios nomes. Grita por liberdade.
A mãe é a atriz Anna Magnani, uma das forças da natureza do cinema. O filme é Roma, Cidade Aberta, de Roberto Rossellini.
A cena é uma das mais fortes, belas e contundentes sequências que o cinema já criou, produziu e viu.
Em poucos minutos o que se vê na tela é uma síntese do porquê de o cinema existir como arte, como documento, como imagem, como emoção. Ali, em poucos metros de filme, na velocidade de captação da câmera, do movimento dos corpos e das máquinas, temos um momento que é único porque é aquele exato instante em que a verdade explode na tela em preto e branco. A realidade, ainda que encenada, é mais poderosa que qualquer tentativa de pensamento. Um corpo em movimento, como uma bailarina assustada que percorre toda a extensão do palco, ganha os contornos de ruas, sons, gritos, máquinas, sentimentos, dúvidas e nenhuma certeza. Ali, mesmo diante da mulher abatida na mesma velocidade de sua corrida, sem qualquer artifício, está suspensa no ar, ela, a liberdade.
O clássico de Rossellini, com Anna Magnani, é uma das atrações da 1ª Mostra Cinema e Liberdade que acontece de 9 a 11 de Novembro (sexta a domingo), no CineArte Petrobrás do Conjunto Nacional. A Mostra é uma realização do Instituto de Formação de Líderes em parceria com o Estado da Arte, plataforma multimídia do Estadão online. A programação completa você confere aqui.
Ela, a liberdade – sua luta, seu anseio, sua expressão, sua busca, sua vivência e, mais do que nunca, sua emergência, é o elo entre uma mãe, um escritor, dois trapezistas, um bombeiro e sua amada, um detetive, um pintor e um rapaz que só quer fazer o mal. Ela, a liberdade, é o elo entre Nelson Pereira dos Santos, Ingmar Bergman, Roberto Rossellini, Andrej Wajda, François Truffaut, Jean-Luc Godard e Stanley Kubrick. Liberdade & Cinema. Na tela do Cinearte, no Conjunto Nacional, na Avenida Paulista.
Ela, a liberdade.