Começa nesta segunda-feira, dia 24 de Setembro, o curso Guerras Culturais – os conflitos que moldaram as sociedades nos últimos 60 anos. Serão seis (06) encontros, sempre às segundas, das 19h30 às 21h30. As inscrições podem ser feitas pelo e-mail: 2018.sp.cursos@gmail.com
GUERRAS CULTURAIS: OS CONFLITOS QUE MOLDARAM NOSSAS SOCIEDADES NOS ÚLTIMOS 60 ANOS
“And the crack in the tea-cup opens/ A lane to the land of the dead”
W. H. Auden, em “As I walked out one evening”
Ring the bells that still can ring
Forget your perfect offering
There is a crack, a crack in everything
That’s how the light gets in.
Leonard Cohen, em “Anthem”
Está nos jornais e na televisão quase todas as semanas. A exposição que provoca ultraje; a comunidade religiosa que quer interditar a peça de teatro; o cineasta militante contra o filme que não milita. Mas não são apenas as artes. A rede de supermercado distribui folhetos em defesa da família tradicional e contra o casamento gay. A atriz de sucesso que se sente perseguida por sua cor, e os milhões que, por sua cor, são segregados e condenados a viver na pobreza. Ataque a imigrantes. Ódio a pobres. Ódio a elites. Na entrega do prêmio de cinema. Na denúncia contra os abusadores. No boicote a isso ou àquilo.
Nada parece escapar. Está em toda parte.
Os conflitos que estamos vivenciando hoje no Brasil – todos certamente reconhecerão as situações descritas acima – não são exclusividades de nosso país e de nossa cultura. Tampouco surgiram do dia para a noite. Pelo contrário, representam a consagração, também no Brasil, daquilo que se convencionou chamar de “guerras culturais” (culture wars) nos Estados Unidos, um tipo de conflito social e cultural com implicações políticas graves para a democracia e para a vida em sociedade.
As guerras culturais nasceram nos Estados Unidos do período pós-II Guerra Mundial. Estão associadas diretamente aos conflitos daquela sociedade profundamente cindida: democrática e segregada, inventiva e conservadora, disruptiva e tradicional.
No Brasil, as guerras culturais chegaram com a popularização do acesso à internet e às redes sociais. Foi neste cenário que a hegemonia total da esquerda, que já dura mais de quatro décadas na academia, nas artes e no jornalismo, está sendo desafiada e desconstruída.
Esta é a história de como importamos a lógica das guerras culturais ao Brasil. E de como estamos vivendo suas batalhas.
Cronograma
Aula 01 – Introdução. O que é “guerra cultural”? A lógica específica dos conflitos de divisão social no imaginário e na cultura: contextos, teóricos e práticas. Contextualização histórica do caso americano. Os Estados Unidos do pós-guerra: do “New Deal” vitorioso liderando o mundo livre aos conflitos internos de uma sociedade racialmente dividida. Homogeneidade social e sociedade democrática nos Estados Unidos dos anos 1950. A costura de uma “visão” de sociedade comum. As fissuras na “visão comum” de país. Sociedade de consumo, democracia de massas e contracultura.
Aula 02 – Democracia em tempos de guerra-fria e o grande movimento dos direitos civis. O esforço progressista pela “Great Society”: de JFK a LBJ. Ações afirmativas e radicalismo político. A tomada pela cultura: nos campi, no prelo, nos alto-falantes. América tradicionalista e ortodoxa reage. O Vietnan e a fissura final da “visão comum” de país: uma imagem partida. Nixon encerra os loucos anos 1960.
Aula 03– A ressaca moral dos anos 70. A divisão social americana se traduz de dentro a fora: do escândalo Watergate à derrota no Vietnan. O ressurgimento do conservadorismo americano. Uma nova imagem para a América: Ronald Reagan, a nova direita e o triunfalismo neoliberal da década de 1980. A Guerra Cultural tal como a conhecemos: (i) o reverendo Jesse Jackson lidera os estudantes de Stanford contra a “civilização ocidental”; (ii) Andres Serrano exibe seu “Piss Christ”; (iii) Robert Mapplethorpe no Corcoran: “Não com o dinheiro dos pagadores de impostos!”. A agenda ideológica das duas décadas seguintes está definida.
Aula 04 – A degeneração da democracia nos termos da “guerra cultural”: Pat Buchanan e a grande disputa pela “alma da América”. Do triunfalismo neoliberal ao conservadorismo digital: o avanço progressista nos costumes; globalização e globalismo; a internet muda a política. O novo populismo digital: dos pundits nas rádios e tv’s ao novo modelo de guerra cultural: blogs, Facebook, Twitter, Whats App. Multiculturalismo vs. Populismo: de Obama a Trump.
Aula 05 – Brasil (I). A formação da hegemonia cultural da esquerda: academia, artes e jornalismo (ditadura militar e redemocratização). Euforia e controle: o domínio sobre o mundo do pensamento ao longo da década de 1990. Os anos da instrumentalização e da radicalização à esquerda: 2002 -2013.
Aula 06 – Brasil (II). Liberalismo e conservadorismo voltam a se expressar no Brasil: da imprensa à universidade, passando pelo meio editorial, surge a resistência. O meio é a mensagem: a propagação de velhas e novas ideias liberais e conservadores no ambiente da internet. A guerra cultural chega no feed de notícias. 2013 a 2016: das manifestações de junho ao impeachment, a nova direita no Brasil. 2017: O Brasil repete a América: exposições canceladas, polêmicas nas artes (Queermuseu no Santander, MAM-SP), censura nas redes sociais. A grande arena de disputa: a liberdade de expressão e a qualidade dos embates.
Sobre o professor
Eduardo Wolf é Doutor em Filosofia pela USP, tendo sido pesquisador visitante na Universidade Ca’Foscari (Veneza, Itália). É editor da plataforma multimídia O Estado da Arte no jornal O Estado de S. Paulo, colaborador da revista Vejae foi colunista do jornal Zero Hora(Rio Grande do Sul). Editou, entre outros, os volumes Pensar a Filosofiae Pensar o Contemporâneo, lançados pela Arquipélago Editorial, e traduziu os ensaios de T. S. Eliot, entre outras obras. Foi Secretário-Adjunto de Cultura de Porto Alegre (2017). É curador-assistente do projeto Fronteiras do Pensamento. Atualmente, está escrevendo o livro Guerras Culturais, que será lançado pela editora Record.