A pesquisadora Stephanie Dennison, professora de Estudos Brasileiros na Universidade de Leeds, no Reino Unido, esteve no Brasil como professora visitante da Pós Graduação no departamento de Educação, Arte e História da Cultura na Universidade Presbiteriana Mackenzie. Coordenadora de um amplo projeto de pesquisa chamado “Soft Power Cinema and the BRICS”, financiada pelo fundo AHRC (Conselho de Pesquisa nas Artes e Humanidades do Reino Unido), a professora conversou com o colunista do Estado da Arte Leandro Oliveira sobre a projeção da cultura do Brasil no exterior.
Assumindo as métricas internacionais do Soft Power, como podemos avaliar o papel do Brasil atualmente no cenário internacional?
Stephanie Dennison – Depende da perspectiva que adotarmos, o que é normal quando se trata de qualquer tipo de estatística. Olhando friamente os números, podemos, por um lado, dispensar a importância do Brasil no cenário internacional, por não ocupar um lugar nem mesmo entre os 20 melhores classificados nos rankings de soft power (nem do Portland Soft Power 30, nem dos rankings associados a Monocle e ao “nation-brander” Simon Anholt). Por outro lado, podemos constatar que Brasil continua sendo o único país latinoamericano com alguma expressão nestes rankings, e um dos poucos países “emergentes” na lista, o que é bastante significativo. Mesmo assim, a queda do Brasil no ranking de Portland, hoje em dia o ranking mais citado por governos e pela imprensa ocidental, e logo depois de sediar os Jogos Olímpicos de 2016, é preocupante e leva muitos a pensar que o país (ou, melhor, o governo atual) não soube aproveitar da oportunidade apresentada para continuar a lutar por um lugar na mesa dos grandes.
O Brasil internacional de Oscar Niemeyer, Tom Jobim e Pelé parece ter sido ocupado no imaginário do brasileiro médio por aquele das favelas, Romero Brito e pelo “7 a 1” contra a Alemanha. A percepção de um certo rebaixamento do gosto é um fato mensurável de algum modo?
Pode até ser, mas não vejo isso afetando questões de soft power. Eu ouvi falar em Romero Brito porque sou brasilianista e acompanho os trends no Brasil. Absolutamente ninguém do meu círculo de amizades na Inglaterra ouviu falar em Romero Brito. Mas conhecem Niemeyer. Dizem que o Brasil vai ganhar a próxima Copa: não falam no 7 a 1 como os brasileiros falam. Em termos de soft power, o imaginário que temos de países estrangeiros não muda tão rápido assim. Em termos culturais a Inglaterra tem soft power graças, em grande parte, à Rainha: e ela tem 91 anos!
Como você percebe o papel do cinema brasileiro atualmente no cenário internacional?
Stephanie Dennison – Só vejo uma riqueza enorme, do tipo que se falava na época da quinta geração do cinema chinês, ou do auge do cinema iraniano. Vejo uma nova geração de diretores e produtores (tanto do cinema quanto da produção televisiva) talentosos e conectados internacionalmente de uma forma que não se via antes. O Brasil tem tudo para ser um player sério na atual paisagem audiovisual internacional. Acho que alguns órgãos do governo estão apoiando esse florescimento (a Ancine, por exemplo) de uma maneira mais inteligente e sistemática do que antes. Eu tenho muita esperança que o cinema brasileiro possa ser “the next big thing” no exterior. Merece ser, na minha opinião. E por mais que alguns setores critiquem a safra de comédias populares que dominam as bilheterias domésticas, esses filmes cumprem um papel importante em criar um mercado para filmes nacionais no século XXI – e alguns nem são tão ruins assim.
Qual, a seu ver, o maior ativo brasileiro para o fortalecimento de sua posição? E o ponto fraco?
Stephanie Dennison – Se estamos falando de rankings, os três principais mencionados acima dão muita importância a questões de governança, e nisso o Brasil está fraco. Lidar com a corrupção na política e nos negócios, mas sem ameaçar o processo democrático seria essencial, suponho, para que o Brasil subisse de novo nos rankings. O Brasil é e sempre foi forte em questões ligadas à cultura.