por Leandro Oliveira
E o Theatro Municipal já tem diretor artístico, o ator Hugo Possolo, figura respeitada e querida por muitos dos meios teatrais. João Luiz Sampaio, jornalista deste Estado de S. Paulo, escreveu longamente a respeito para a Revista Concerto e conclui seu texto com a pergunta: a ópera será apenas mais um espetáculo em um Municipal transformado em centro cultural ou ganhará o protagonismo que pode ter na vida cultural de uma cidade complexa como São Paulo?
Nada parece apontar para uma solução que satisfaça o público da ópera e do balé – público, claro está, potencialmente grande como ficou comprovado nas únicas temporadas artisticamente organizadas recentemente, aquelas entre os anos de 2013 e 2015, tristemente encerradas por acusações de má gestão do dinheiro público. O fato é que, se por um lado Possolo e o novo secretário de Cultura, Ale Youssef, jovens e bem intencionados, não demonstram explicita má vontade para com o gênero, o silêncio deles é revelador de que, ao menos até agora, não pensaram nada a respeito.
Para uma temporada decente, sabemos todos do meio, o ano de 2019 já era – os bons artistas do setor trabalham com planejamento de médio prazo, em agendas que não se fecham de um semestre para o outro. No início do terceiro ano da atual gestão municipal, me parece seguro prever que, no que diz respeito à ópera, os anos Covas nos darão apenas isso: uma melancólica penúria administrativa e artística, mesmo que entre pessoas de boa fé. Pensemos em 2022.
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A extraordinária matéria investigativa da Van Magazin de 6 de fevereiro sobre as grossuras reiteradas e pouco razoáveis do maestro Daniel Barenboim para com sua orquestra berlinense parece ter tomado conta do universo clássico internacional. Com relatos em on e off do modo como o maestro argentino trata os músicos, a revista – publicada em inglês e alemão – acabou por fazer mover muitas peças dos sempre silenciosos bastidores da música clássica. Numa iniciativa agressiva de RP, matérias vieram a público defendendo o maestro, e o próprio Barenboim respondeu – numa das situações mais constrangedoras dos tempos recentes – acusando seus detratores de músicos pouco hábeis em diversos termos (por conta dos destemperos de Barenboim, um deles abandonou a orquestra da ópera de Berlim e para cerrar fileiras do outro lado da cidade, com a Filarmônica; outro tornou-se titular na orquestra da ópera de Munique – desnecessário dizer, ambas instituições de nível artístico altíssimo).
O imbróglio culminou com um último artigo da Taggespiegel, no último dia 24, sugerindo que o Senado diminua os poderes do maestro — ao que parece, poderes absolutos quanto a gestão e decisões artísticas. Para a revista, o poder deveria ser matizado para, entre outras coisas, “proteger o maestro de si mesmo”. O jornal Tageszeitung sugere que a “irradiação do Rei Sol” deve passar a prever um processo mais claro para que as decisões artísticas possam ser mais equilibradas.
O intendente do Staatsoper, Matthias Schulz, diz que está envolvido em consultas sobre o caso. Berlim não parece querer perder o maestro que faz de seu teatro de ópera uma instituição internacional.
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Andre Previn nasceu Andreas Ludwig Priwin, em Berlim, no dia 06 de abril de 1929. Ganhou proeminência ao organizar e compor trilhas para filmes de Hollywood – dos grandes estúdios como a MGM, onde começou em 1946, evoluiu para funções de compositor-maestro já aos 18 anos (seu primeiro crédito oficial foi para uma trilha na série “Lassie”, em 1949), e acabou por garantir, ao longo da carreira, quatro Oscars.
Em 1967, Previn sucedeu Sir John Barbirolli como diretor musical da Houston Symphony Orchestra e, no ano seguinte, começou seu mandato como regente principal da London Symphony Orchestra (cargo no qual permaneceu até 1979). Foi em seu período londrino que seu rosto ganhou notoriedade, aparecendo em programas como “Meet André Previn” (1969) na London Weekend Television, “Wise Christmas Show” em 1971 e 1972 (BBC), e o “Andre Previn’s Music Night” (três programas em 1973, outros em 1975 e 1976).
Diretor de importantes orquestras como a Pittsburgh Symphony Orchestra, Royal Philharmonic e a Los Angeles Philharmonic, Previn sempre se colocou como uma figura ao mesmo tempo amável e talentosa, jamais deixando de compor, e sempre ativo divulgador de música clássica e de jazz. Entre suas composições para salas de concerto, seu Concerto para Violino “Anne-Sophie” (2003) e uma interessantíssima Sonata para Cello (1997), entre outras, seguem obras relevantes. Entre suas performances de jazz, entre alguns exotismos, há uma belíssima edição de standards no disco “Soft And Swinging” (1964). Mais soft que swing…
Sua esposa, a violinista Anne Sophie Mutter deixa o pungente depoimento
28 de fevereiro de 2019
Munique, Alemanha
André Previn há mais de 70 anos ilumina esse mundo muitas vezes obscuro com seus dons extraordinários, sua inteligência e “wit” soberbos.
Fomos companheiros de música por quatro décadas e parceiros próximos e queridos nos últimos dezenove anos. Foram anos que me trouxeram uma abundância de obras de violino profundamente comoventes e desafiadoras. Uma das primeiras entre essas, o concerto de violino, que foi um presente de noivado. Eu sou eternamente grata por todos seus tesouros musicais.
André vai viver nos corações dos milhões de amantes da música que sua vida e música tocaram. Suas muitas partituras continuarão a enriquecer a vida de músicos ao redor do mundo.
Neste momento André está provavelmente no meio de uma jam session com Oscar e Wolfgang… e ele irá superá-los.
Anne-Sophie Mutter