Lancei ontem, em Porto Alegre, meu terceiro livro de poesia, Em outros tantos quartos da Terra. O anterior, Falso começo, publicado em 2013, já leva quase quatro anos de distância, o que pode dar uma ideia aos leitores da quantidade de material bruto que eu tinha para selecionar.
Depois de mais de um século da revolução combinada de versos livres e brancos, que está na base de uma parte significativa da poesia moderna, parece que a concepção do fazer poético, daquilo que faz de um poema um poema, ao menos para o público leigo, alterou-se pouco.
Gosto de pensar que o tempo trai nossas intenções e feitos com mais frequência do que os possíveis desvios morais, do que os pequenos deslizes éticos que tenhamos cometido
Hoje recuperamos uma ideia que está brilhantemente posta na obra On poetry, do poeta Glyn Maxwell, um dos melhores livros que conheço sobre o fenômeno da poesia.
Perder a fé na humanidade é fácil. Não temo dizer que isso aconteça ainda na primeira infância, quando percebemos que a maldade não precisa de pretextos, ou quem sabe um pouco depois, quando reconhecemos os pretextos de que ela se vale.
Vencer a invisibilidade do ser e estar no mundo, eis o desafio do poeta.
Então você sabe que está numa livraria. Por fruto da chance. Paralelo ao Passeig de Gràcia, no Carrer de Pau Claris, fica a Laie, com sua quase obsoleta crença de que um negócio como este se faz com livros.
Trata-se de um poeta português sem passaporte, disse-me o meu editor Alfredo Aquino, leu teu livro e quer te conhecer. E assim entramos na cafeteria do Bom Fim na qual Paulo José Miranda nos esperava...
Como é comum aos poetas, o excesso verbal lhe fazia afrouxar a tensão da linha, parecia não ser afeito às maratonas dos romances.