"De certo modo, podemos afirmar que o amor por Albertine difere do amor por Gilberte na mesma medida em que o septeto difere da Sonata." Para Thiago Blumenthal, "a Recherche é uma história de perdas transformada em coisas sensíveis". Proust, um pouco de música, e Albertine (sempre ela).
Na filosofia, a dificuldade de explicar como e por que alguém sente algo é chamada de 'hard problem', uma vez que a experiência consciente não segue as mesmas leis físicas que coordenam o universo.
Em Proust, ciência e arte se integram em uma crítica expansiva, em um diálogo vital para a compreensão dos espaços e dos amores, dos afetos, na obra.
Se os críticos do tempo do classicismo desejavam conhecer tão de perto segredos de ateliê a ponto de dominarem as engrenagens da Beleza, a tentação dos hipercríticos contemporâneos é a de deixar-se encantar pelo jogo teórico e interno da própria crítica.
Marcel Proust comprou as primeiras resenhas sobre "Em Busca do Tempo Perdido". E daí?
Afinal o que somos senão corpos controlados por uma massa gelatinosa, que não sabem muito bem o que querem, quando querem, e o quão dependentes são de fatores externos que configuraram sua atual e deprimente situação evolutiva (nem tão deprimente assim, podem dizer alguns)?
Lembro-me do meu avô, o único vivo que ainda tenho, que conheceu o mundo e me puxou pra me contar algo sobre como eu deveria encarar meu futuro. Não deu tempo nem de começar a contar, pois três chineses invadiram a casa bem naquele momento e ameaçaram metralhar todo mundo.
"A senhorita Albertine foi-se embora." Ao serem pronunciadas, essas palavras produzem um sofrimento tal que bastaria trocar o nome dela pelo do nosso amor para nos darmos conta de que um sentimento outrora tão banal é simplesmente toda a nossa vida.