Literatura

Desejo e alteridade em Morte em Veneza

Uma reflexão sobre como a dialética do desejo e da alteridade — aparentemente inconciliável em sujeitos que desejam justamente aquilo que não se submete — se desenvolve literariamente na novela Morte em Veneza, de Thomas Mann. Para Aschenbach, Veneza pouco importa. Por Bárbara Buril.

Sobre quando Érico Nogueira esmerilou o porquinho-da-índia

'O Esmeril de Horácio' propõe alternativas ao modo de conceber o verso em língua portuguesa, servindo, também, de guia prático de métrica. Por Brunno V. G. Vieira, tradutor e professor de letras clássicas da Unesp, uma resenha do novo livro do Érico Nogueira sobre poesia e versificação em Horácio. "Esse esmeril é bruto, e remete ao ofício de burilar diamantes como sugere João Batista Toledo Prado na orelha do livro. Sim, o/a leitor/a que se aventurar a seguir Érico, não se esqueça de seu jaleco ou macacão. Com algum empenho para vencer o pesado jargão, Érico nos abre sua caixa de ferramentas, seja indicando como desmonta os versos de Horácio, seja declarando como entende ser o melhor modo de carburá-los em vernáculo."

Belerofonte ao léu vagava pelos campos: Ensaio sobre a solidão

"Nosso eu, nossa consciência e, consequentemente, o sentimento extremado de nós mesmos e da gratuidade de nós mesmos e do mundo exigem que reconheçamos que não somos mais do que a experiência inescapável da solidão, que nos forja, a um só tempo, com o sentido da angústia, do abandono e da incompletude — mas também com a necessidade, quase sempre irrealizável, de nos encontrarmos no outro, de nos realizarmos fora de nós mesmos, de nos doarmos, em alguma medida, ao mundo que nos abriga e que também é a extensão mais ou menos reconhecível de nós mesmos." Com Kierkegaard e Camus, Montaigne e Pascal, Beckett e Baudelaire, um ensaio do Prof. Márcio Scheel sobre a solidão. É preciso amá-la — e saber deixá-la também.

A Peste no De rerum natura (6.1138-286) de Lucrécio – Parte IV

"Na perspectiva de Samuel Taylor Coleridge, talvez Lucrécio esteja naquele seleto grupo dos grandes poetas, ao julgar que no man was ever yet a great poet, without being at the same time a profound philosopher." Hoje, no Estado da Arte, Alexandre Hasegawa dá continuidade à tradução comentada da descrição dos sinais da morte no DRN de Lucrécio.

A personagem simples

Em literatura, como lidar com a zona cinzenta de personagens trágicos, marcantes, e que são, ao mesmo tempo, simples? Rafael Rocca enfrenta essa questão: partindo de dois romances judaicos do século XX — De repente, amor, de Aharon Appelfeld, e Shosha, de Isaac Bashevis Singer —, um ensaio sobre a personagem simples (que ganha dimensão para além de si mesma).

O bonsai

"Vi o bonsai na janela do vizinho, no prédio ao lado, lembrei do gerânio de Flannery O’Connor." Para o Estado da Arte, Juliana Amato escreve sobre o gerânio de Flannery, o bonsai do vizinho, a modernidade urbana — que não interage muito, pensa muito antes de ter filhos; sobre a avó e suas orquídeas e sobre nossos destinos, quando, afinal, já é julho e chegou o inverno.

Menina de engenho

Diferentemente do passado, estariam hoje os escritores relegados a um papel cada vez mais fragmentado e periférico? Uma reflexão sobre o poder dos contadores de histórias e o apelo centenário da personagem de tranças ruivas e cheia de sardas, Anne de Green Gables. Por Rafael Baliardo.

Vidas Secas e 1984: Quando faltam palavras

“Na beira do rio haviam comido o papagaio, que não sabia falar. Necessidade. Fabiano também não sabia falar”. “Se temos a palavra ‘bom’, para que precisamos de ‘mau’? Cada palavra contém em si o contrário.” Partindo de Vidas Secas e 1984 — de Graciliano e Orwell —, um ensaio do jornalista Elton Frederick sobre a deturpação da linguagem, sobre a degradação de nossos compromissos semânticos. Sobre a necessidade de escrevermos em tábuas estreitas.

Quem se importa com Machado de Assis?

"A excelente nova tradução de Memórias Póstumas de Brás Cubas, feita por Flora Thomson-DeVeaux e publicada nos Estados Unidos sob o selo Penguin Classics, tornou-se imediatamente um sucesso de vendas. Embora minha intenção fosse escrever uma resenha, este texto acabou se tornando, também, uma pequena reflexão sobre a recepção da literatura brasileira no exterior e sobre como ela afeta a nossa autoestima coletiva. No fundo, é um texto sobre o que essa nova tradução representa para nós, leitores brasileiros, nos dias de hoje." Um ensaio do diplomata Hudson Caldeira sobre a nova tradução de Machado ao inglês, sobre nossa literatura, nosso orgulho e nossa insegurança.