O Cânone em Pauta

Podcast – Os Hominíneos

O Mundo é muito velho, o ser humano é muito novo. Como constatou Carl Sagan, se os cerca de 15 bilhões de anos do Universo desde o Big Bang fossem comprimidos no espaço de um único ano do nosso calendário, a Terra só teria sido condensada a partir da matéria interestelar nos inícios de setembro; os dinossauros surgiram na véspera de Natal; as primeiras flores nasceram em 28 de dezembro e os homens e mulheres às 10:30 da noite na véspera do ano novo. Mas nos últimos dez segundos um novo Universo eclodiu; como num milagre, floresceram nesta terra a arte, a ciência, a religião, a filosofia, a política, a mística, a tecnologia e tudo o mais que amamos na história da Civilização e, além dela, o próprio Deus criador. Quem foi a criatura capaz de dar à luz tudo isso?

Para uma dessas criações, o príncipe Hamlet, o homem é apenas a “quintessência do pó”. Numa célebre tirada, Darwin diria que o ser humano “por mais que se comporte bem, nada mais é que um macaco com os pelos raspados”. Ainda assim, mesmo pelos meros critérios da evolução natural, é um macaco prodigioso! 99,9% de todas as espécies que já viveram neste mundo foram extintas e hoje, se contarmos todos os grandes primatas não humanos – gorilas, orangotangos, bonobos e os nossos primos mais próximos, os chimpanzés –, eles não somam mais que 500 mil indivíduos enclausurados em minúsculas porções da Terra. Mas os humanos, pulverizados como estrelas sobre a superfície do globo, chegam a mais de 7 bilhões e meio e seguem se reproduzindo exponencialmente. Diante disso, talvez um outro cientista tenha sido mais esclarecedor: “Nós somos só uma raça avançada de macacos num planeta menor de uma estrela bastante comum”, disse Stephen Hawking, “Mas nós podemos entender o Universo. Isso faz de nós algo muito especial.” Porém mais do que simplesmente entender o Universo, o homem acumulou um poder capaz de destruir toda a Terra, de escapulir dela para outros planetas, de transformar essa vida num inferno ou talvez, como creem alguns, num paraíso. Assim, possivelmente mais razão ainda tenha um outro conterrâneo de Darwin, de Hawking e do criador do príncipe dinamarquês, não por acaso poeta como ele. Comentando as primeiras criações do homem pré-histórico, Chesterton declarou: “A arte é a assinatura do homem. … O homem é o microcosmo; o homem é a medida de todas as coisas; o homem é a imagem de Deus”.

Quais foram as condições ambientais para que o ser humano surgisse? O que sabemos sobre nossos ancestrais? Como foram extintos? Por que o Homo Sapiens triunfou sobre todos? E terá a sua evolução se encerrado ou estamos só nos inícios de um novo tipo de Big Bang?

Convidados

André Strauss: Doutor em ciência arqueológica pela Universidade de Tübingen e professor do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo.

Pedro da Glória: Doutor em antropologia pela Universidade de Ohio e professor da Universidade Federal do Pará.

Walter Neves: Professor Titular aposentado do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva da Universidade de São Paulo.