reflexão

A estrutura do negacionismo

“Negacionismo é antes de tudo uma atitude, um modo de agir no mundo a partir do qual a negação é apenas uma de suas formas de manifestação. não é atitude passiva, mas parte de uma posição ativa, que postula realidades de mundo numa agenda que pouco tem de defensiva. Estruturalmente, o objeto da negação não são os fatos, não é isso o que está em jogo. Antes, nega-se o próprio enunciador daquilo que se nega.” Por Rodrigo Toniol, um ensaio sobre a estrutura do negacionismo enquanto disposição ativa de recusa da alteridade.

Deus ex machina

De tanto procurar por Deus, sempre encontramos algum profeta. “Para cada ação, há uma pregação. Para cada fracasso, uma conspiração. Para cada heresia, uma punição.” Ao fim do dia, porém, o rei está nu e o milagre é uma eterna promessa. Será então que nossos suplícios são temporários ou temos um futuro enclausurado pelo passado? Deus ex machina, por Roger Laureano.

Lições para um chamado da liberdade

Em tempos de populismo iliberal, antipluralista e autoritário, "a defesa da democracia liberal exige o exercício concreto de seus princípios: a capacidade reflexiva, a consciência de que nossa tribo está sempre longe da perfeição, a coexistência pacífica, o amor à diversidade humana." Por Mano Ferreira, uma (auto)crítica liberal — e as lições para um chamado da liberdade.

A branquitude se visibiliza

"O negro nasce e se descobre em um mundo velho e desgastado pela escravidão. O branco nasce em um mundo sempre novo e promissor; quando descobre a realidade do racismo, tem o privilégio de escolher lutar contra ele (e receber as honrarias de um herói) ou se abster de um problema que, afinal, não lhe diz respeito. Assim, em nossa realidade, as duas identidades — branca e negra — fecham-se nos dois lados de um símbolo — o universal e o particular, o incondicionado e o condicionado." Por Adriano Moraes Migliavacca, uma proposta de reflexão sobre o conceito de branquitude.

Miserável mundo novo: Conservadores, uni-vos!

"Acompanhando vozes de natureza conservadora, este texto é um tímido manifesto conservador. Um manifesto que rejeita a antecipação de um mundo, um mundo que alguns tentam normalizar diante dos desafios da pandemia causada pela Covid-19. Não há que se normalizar circunstâncias que nos entristecem e constrangem nosso bem-estar." Para Celina Brod, "a expressão 'o novo normal', que tem sido usada sem pudor, é um equívoco de mau gosto. Mesmo que todos estejam entretidos com suas gerigonças, é preciso manter o empenho na restituição do velho normal. O novo, há que se insistir nisso, é anormal."

O que resta da crítica estrutural?

Um ensaio de Filipe Campello sobre a crítica estrutural e o que resta dela. Sobre culpa, responsabilidade individual, cultura do cancelamento, sobre o vocabulário de nossa liberdade. Sobre o paradoxo do moralismo persecutório: "Ao invés de voltar-se para a crítica a formas estruturais de injustiça, o que o uso equivocado de conceitos como lugar de fala e outras práticas como linchamento virtual e cancelamento têm feito é o patrulhamento sobre quem pode ou não falar, muitas vezes assumindo um caráter cerceador da liberdade e de interdição do discurso. No limite, ele joga fora tanto as dimensões estruturais da crítica quanto a possibilidade de responsabilização individual — ou seja, a capacidade que cada um tem de rever suas próprias posições."

Ensaísmo contra os autoritários

Ensaiar é fazer prova, analisar: monetam inspicere. Refletir, distinguir, ponderar. Se a capacidade de fazer distinções é uma das primeiras vítimas dos fanatismos em suas múltiplas manifestações, o ensaio se torna uma espécie de antídoto, pois não quer parar de perguntar, de perguntar-se. “Vou, inquiridor e ignorante”, dizia Montaige sobre a sua prática. Por isso o gênero ensaístico é antiautoritário por excelência. Um ensaio de Rodrigo Coppe Caldeira sobre... o ensaio. Sobre o ensaísmo, expressão da coragem espiritual e da restauração da intimidade com a dúvida.

A miragem do novo normal

"A pandemia no Brasil se consolidou a partir de uma cadeia paradoxal de fatos, a partir da qual para cada noção que a afirma temos que lidar com elementos que as negam. Sobre nossos noventa mil mortos marcha uma lógica que se recusa até a afirmar condolências. Aos mortos nega-se a própria morte." E "se o paradoxo dessa nossa pandemia é tão explícito quanto os atos falhos daqueles que a sustentam, também temos nos deparado fórmulas um pouco mais sutis, mas igualmente comprometidas com o realismo mágico que move uma multidão a adorar uma caixa de remédio." Para Rodrigo Toniol, "esse é o caso da ideia de um novo normal, mais um ato falho que agora aguça imaginações", que "escracha nossa pulsão normalizadora do caos".