A mostra 'Queermuseu' instrumentalizou moral e politicamente as obras de arte que exibia. Seus críticos responderam na mesma moeda, com moralismo e política. Perde a arte.
O sinal ideológico, portanto, é a maior diferença entre um religioso que prega o fechamento de uma mostra de arte queer, e uma feminista que milita para que um filme tido por machista seja excluído da programação do cinema.
'Bingo', ainda em cartaz nos cinemas nacionais, é uma ode ao palhaço triste, essa figura híbrida misto dos tipos do carnaval veneziano, das figuras mambembes do teatro francês e italiano, do bobo da corte medieval e da tradição circense.
Baudelaire teria apreciado essa maneira de fazer as palavras rondarem, sem poderem esgotar, esse estado inexprimível em que a delícia suprema do indivíduo sobrepõe-se ao momento extremo da sua própria aniquilação.
Ao início do século XX, literaturas tão diversas quanto a russa, as latino-americanas ou a chinesa terão seu movimento simbolista, que é também seu momento gálico; a sombra da França se confunde então à sombra de Baudelaire. Sob sua influência, a lírica francesa moderna se constitui como lírica moderna universal.
A preocupação pelo adorno é marca da nobreza primitiva da alma humana, diz Baudelaire: mesmo as crianças demonstram espontaneamente um encanto pelo que enfeita e embeleza. A moda, portanto, sinaliza o gosto do ideal que ultrapassa o natural, como uma deformação sublime da natureza ? ou melhor, como uma tentativa permanente e continuada de reforma da natureza.
Como conciliar de forma harmônica as retas e as curvas, achando um compromisso entre igualdade e praticidade? Tanto a pergunta como a resposta vieram, naturalmente, dos hábitos caseiros, do temperamento diplomático, da tradição social-democrata, e dos exímios marceneiros da Escandinávia.
Uma arte que imita; uma arte que ensina; uma arte que educa; eis a tripla recusa da estética de Baudelaire. Em seu lugar, ele erige a sugestão como princípio da verdadeira arte. Afinal, como o mundo criado reservadamente pelo artista iria manifestar-se se não por sinais, por brechas que deixam apenas adivinhar a coesão do todo invisível para além do muro?
Se hoje nos perguntamos “a quem importam” aquelas intenções, é porque também o formalismo parece finalmente superado. Essa é, pelo menos, uma tese frequente no meio cultural e acadêmico.