O Cânone em Pauta

Buda

Entrevista com Ana Paula Gouveia, Frank Usarski e Rafael Shoji. Por Marcelo Consentino. Rádio Estado da Arte. 

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Estátuas de Buda no templo de Hase-Dera em Kamakura, Japão (Foto: Andrea Schaffer/Flickr)

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Quarta maior religião do mundo, o budismo é dominante nos países da Indochina e tem grandes populações no Japão e China. É também uma das religiões que mais crescem em nações como França, Estados Unidos, Canadá, Austrália e outras do Ocidente, em cujo imaginário Buda figura soberano como o arquétipo do sábio oriental. Com efeito, a Índia de Sidarta Gautama, há 2.500 anos, se parecia em mais de um aspecto com o mundo moderno: de um lado, imperava uma religião antiga e elevada, mas em parte ossificada por escrúpulos ritualísticos e rigorismos doutrinários, e em parte intoxicada por mitologias extravagantes; de outro, uma inquietação espiritual legítima era pervertida por um ceticismo radical e um materialismo desenfreado, quando não pelo cinismo mais niilista.

O budismo é a única religião cujo fundador não se declara um profeta ou emissário de um deus e que rejeita a ideia de um Deus-Ser Supremo. Muitos afirmam que é apenas uma filosofia. Mas para Buda, dedicar-se a especulações caras aos filósofos, como se o universo é finito ou infinito ou se a alma é igual ao corpo ou diferente, é como um homem flechado de morte que se recusasse a extrair a flecha antes de saber quem a disparou; porquê; do que ela é feita; ou como o foi. Como Sócrates ou Kant ele relativizou as certezas metafísicas para consagrar o primado absoluto da ética. E como Jesus ou Maomé ele anunciou um caminho de salvação. Intérpretes modernos já o classificaram com um reformador liberal ético de um bramanismo degenerado; um grande humanista secular; um empirista radical; um psicólogo existencial; o proponente de um agnosticismo extremo ou o precursor de quaisquer outras ideologias afins aos seus vieses e pressuposições.

O epíteto “Buda” significa “O Iluminado” ou “O Desperto”. Mas ele mesmo se classificava em termos crípticos como Tatagatha — “Aquele que veio”. Para Buda, toda existência é impermanente, insubstancial e sobretudo eivada de sofrimento — intensificado, no caso do ser humano, pela cobiça, ódio e ignorância que o aprisionam em inesgotáveis ciclos cósmicos de decadência, morte, renascimento e mais sofrimento. O único caminho para a libertação é a extinção do desejo através de uma vida dedicada à virtude, sabedoria e meditação. Ao fim, como ele não se cansava de reiterar, “tanto no passado como no presente eu prego só isso: o sofrimento e o fim do sofrimento”.

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(Wikimedia Commons)

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Convidados

Ana Paula Gouveia: autora de Introdução à Filosofia Budista, com pós-doutorado em Estudos Budistas pela Universidade da Califórnia e pela École Pratique des Hautes Études da Sorbonne.

Frank Usarski: professor de Ciências da Religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e autor de O Budismo e as outras – Encontros e desencontros entre as Grandes Religiões Mundiais.

Rafael Shoji: doutor em Ciências da Religião pela Universidade de Hannover e autor de Transnational Faiths.

Apresentação: Marcelo Consentino

Produção técnica: Compasso Coolab

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