Falando de MúsicaÓpera

Bayreuth e Sala São Paulo

por Leandro Oliveira

Retornando às atividades musicais do semestre, a crônica mais saborosa das férias vem da Europa – mais precisamente o Festival de Bayreuth. Espécie de “Meca” dos wagnerianos, a peregrinação anual contou com uma noite de controvérsia e dissabores – ao menos, para a estrela russa da regência mundial, Valery Gergiev. O maestro foi sonoramente vaiado ao final da récita de Tanhäuser

O artista preferido de Vladimir Putin recebeu críticas impressionantemente ruins por uma leitura aparentemente pouco criativa desta nova produção da ópera de Wagner (produção que, aliás, foi fortemente bem recebida pela platéia e crítica, mesmo a despeito do seu alto nível de invenção). 

Tendo passado as semanas anteriores na sua rotina de globetrotter, regendo orquestras em pelo menos dois continentes, parece que o maestro não deu o devido tempo para entender a acústica especialíssima do teatro ou as nuances da partitura – e, não à toa, apenas o prelúdio, obra ordinária em salas de concerto de todo mundo, e conhecida por todo maestro profissional, parece ter sido convincente. 

Uma crítica comenta

O maestro Valery Gergiev pareceu assustado com a maravilhosa e difícil acústica do Festspielhaus. Após a bem realizada abertura, poucas idéias vêm do fosso da orquestra. As cenas em massa se agitam, os instrumentos se arrastam atrás dos cantores, o que certamente não foi culpa dos músicos fabulosos, e o som da orquestra é muitas vezes plano e sem cores, com pianos sem contornos. Muito pouco tempo de ensaio, poucas ideias de arquitetura e, acima de tudo, pouca preparação para as condições de som únicas em Bayreuth: aquilo não foi realmente um performance de nível internacional, o que Valery Gergiev fez ali.

Outra crítica sugere explicitamente que o problema não teria sido de ensaio, mas intimidade mesmo com o texto da obra como um todo – o maestro Valery Gergiev parecia não saber o que fazer com a ópera.

Bayreuth já anunciou que Gergiev não será convidado novamente no ano que vem. O maestro parece ter rebatido algumas das críticas junto à imprensa de seu país natal, reencenando uma versão curiosa de Crepúsculo dos Deuses – não o de Richard Wagner, mas aquele de Billy Wilder. 

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A Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo preparou para sua 15a semana de concertos um programa especialíssimo, com a estréia mundial do Concerto para Violoncelo do grande decano da composição brasileira, o maestro Marlos Nobre. 

À ocasião da celebração de seus oitenta anos, Nobre recebeu a encomenda do Concerto por um conglomerado de orquestras – além da performance com a Osesp, o Concerto para Violoncelo será apresentado na Sala Minas Gerais, com a Filarmônica de Minas Gerais, com a Orquestra Petrobrás Sinfônica, do Rio de Janeiro, e a Orquestra da Fundação Gulbenkian, de Lisboa.  

Nesta semana, na Sala São Paulo, será interpretada por Antonio Meneses. Com um já inesquecível segundo movimento, a obra tem todas as qualidades para enquadrar-se no repertório ordinário dos grandes violoncelistas. 

O Maestro Marlos Nobre conversará com o público, sobre sua carreira e a obra, no Falando de Música – no Salão Nobre da Sala São Paulo, uma hora antes de cada performance: às 19h30 na quinta e sexta-feira, às 15h30 no sábado. 

Leandro Oliveira é compositor e regente de orquestra, doutorando em “Educação, Arte e História da Cultura” pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e anfitrião do projeto “Falando de Música” da Osesp.

Leandro Oliveira

Leandro Oliveira é autor do livro “Falando de Música: Oito lições sobre música clássica” (editora Todavia, 2020). Tem experiência internacional em transmissões de música clássica, e é responsável pela direção das transmissões da “Maratona Beethoven”. Realizou doutorado com pesquisa na área pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.